Agência de notícias
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 16h10.
Última atualização em 22 de janeiro de 2025 às 16h33.
O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um prazo de 100 dias para o enviado especial da Casa Branca Keith Kellogg acabar com a guerra na Ucrânia. Poucos acreditam que isso seja possível, embora a Rússia tenha sinalizado nesta quarta-feira que Moscou vê uma janela de oportunidade para forjar acordos com o novo governo após Trump sugerir impor novas sanções caso o país se negue a negociar um cessar-fogo. O presidente ucraniano, por sua vez, reiterou que qualquer acordo de paz com os russos deve ser acompanhado de supervisão militar e pediu um efetivo de 200 mil soldados europeus de manutenção da paz.
"Se não fizermos um 'acordo', e em breve, não terei outra escolha senão impor altos níveis de impostos, tarifas e sanções a qualquer bem vendido pela Rússia aos Estados Unidos" e outros países, alertou Trump em sua rede Truth Social, nesta quarta-feira, repetindo uma ameaça feita no dia anterior diante de repórteres.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, respondeu nesta quarta-feira, 22, dizendo que Moscou vê uma "pequena janela de oportunidade" para negociar acordos com Trump, embora não tenha citado especificamente a questão ucraniana.
"Não podemos dizer nada hoje sobre o grau de capacidade de negociação do novo governo, mas ainda assim, em comparação com a falta de esperança em todos os aspectos do chefe da Casa Branca anterior, há uma janela de oportunidade hoje, embora pequena", declarou Ryabkov em discurso no Instituto de Estudos Americanos e Canadenses, em Moscou. "Portanto, é importante entender com o que e com quem teremos de lidar, qual a melhor forma de construir relações com Washington, qual a melhor forma de maximizar as oportunidades e minimizar os riscos".
Nos últimos meses, Trump disse repetidamente que acabaria com a guerra na Ucrânia antes mesmo de assumir a Presidência nos EUA, o que não aconteceu. A Rússia não tem um embaixador em Washington desde outubro, quando Anatoly Antonov deixou seu cargo. E no dia da posse em Washington, o presidente russo, Vladimir Putin, sinalizou não ter pressa em resolver o conflito com Kiev.
"[O objetivo de qualquer negociação futura] não deve ser uma breve trégua nem algum tipo de trégua para o reagrupamento de forças e rearmamento com vistas à continuação subsequente do conflito, mas uma paz de longo prazo baseada no respeito aos interesses legítimos de todas as pessoas, de todos os povos que vivem na região", afirmou Putin em um vídeo divulgado pelo Kremlin.
Trump respondeu criticando a invasão russa, dizendo que Putin está “destruindo a Rússia por não fazer um acordo”. Perguntado por um repórter na terça-feira se ele aplicaria mais sanções a Moscou caso Putin se recusasse a negociar, Trump disse que “é provável”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem reiterado que a Ucrânia deve ser representada em qualquer negociação com as partes internacionais para encerrar o conflito e disse que qualquer acordo de cessar-fogo com a Rússia precisa ser supervisionado por um grande contingente estrangeiro de soldados de manutenção de paz, segundo informações divulgadas em Kiev nesta quarta-feira.
Em uma mensagem no Fórum Econômico Mundial em Davos, um dia antes, Zelensky explicou que, dado o tamanho do Exército ucraniano em comparação com o da Rússia, “precisamos de contingentes com um número muito grande de soldados” para garantir qualquer acordo de paz.
"Duzentos mil [soldados], esse é o mínimo, caso contrário, não é nada", enfatizou.
Na opinião de Zelensky, qualquer outro acordo seria semelhante à missão de monitoramento liderada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce) no leste da Ucrânia, que se desintegrou quando a Rússia lançou sua invasão em grande escala, em fevereiro de 2022.
"Eles só tinham escritórios", afirmou o presidente ucraniano, destacando a necessidade de uma força para dissuadir novos ataques russos.
Lideranças europeias temem que um acordo de paz negociado pelos Estados Unidos de Trump implique perdas territoriais consideráveis para a Ucrânia. Há receio também de que Washington reduza drasticamente, ou mesmo corte por completo, o apoio militar dado a Kiev na guerra.
Trump disse na terça-feira que iria “verificar” se os EUA enviarão ou não mais armas para a Ucrânia. Sob o governo de Joe Biden, a Casa Branca usou os últimos meses do mandato para fornecer o máximo de armamento e fundos para Kiev antes do ex-presidente deixar o cargo. A fala indica que Trump estaria disposto a recuperar parte dos US$ 61 bilhões (cerca de R$ 364 bilhões) em financiamentos para a Ucrânia que foram aprovados pelo Congresso em 2024, mas que ainda não foram gastos.