Assentamentos: para Netanyahu, a chegada de Trump é uma "oportunidade formidável" depois de oito anos de "enormes pressões" por parte da administração Obama (Baz Ratner/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 18h48.
Desde que Donald Trump chegou ao poder, Israel acreditava ter o caminho livre para a construção de novas colônias, mas nas últimas horas os Estados Unidos se distanciaram, sugerindo que, embora não sejam "um impedimento" para resolver o conflito com os palestinos, elas "não ajudam".
Os palestinos, por outro lado, consideraram a mensagem da Casa Branca alarmante, na primeira reação sobre o delicado assunto desde a posse do novo presidente americano, em 20 de janeiro.
Para eles, a posição de Washington rompe com a política histórica americana e dão aval para a construção de moradias israelenses em território palestino ocupado, a partir do momento em que fica circunscrita no interior das colônias existentes.
"A construção de novos assentamentos ou a expansão dos existentes além de suas fronteiras atuais não ajudariam para alcançar o objetivo" da paz, disse a Casa Branca, depois de se manter em silêncio sobre o assunto durante duas semanas.
Israel, por sua vez, minimizou a importância das declarações e afirmou que o assunto seria esclarecido durante o encontro entre Trump e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no dia 15 de fevereiro nos Estados Unidos.
Desde o dia 20 de janeiro, Israel fez cinco anúncios de novos assentamentos elevando a mais de 6.000 as novas moradias na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Na quarta-feira anunciou sua intenção de construir a que seria, segundo a organização anticolonização Paz Agora, a primeira nova colônia impulsionada por um governo israelense desde 1992.
Para Netanyahu, a chegada de Trump é uma "oportunidade formidável" depois de oito anos de "enormes pressões" por parte da administração Obama em relação ao Irã e ao tema das colônias.
A ONU considera ilegais as colônias e uma grande parte da comunidade internacional as vê como um grave obstáculo para a paz, o que o governo israelense nega.
Após afirmar que a administração Trump ainda não havia definido uma postura oficial sobre o tema, o porta-voz da Casa Branca declarou: "não acreditamos que a existência de assentamentos seja um impedimento para a paz".
Para Danny Danon, embaixador israelense na ONU, as declarações da Casa Branca foram uma ruptura com o governo Obama.
Não viu, no entanto, uma "mudança" por parte da administração Trump.
"O comunicado é muito claro e significa em sua essência: espere a reunião com o primeiro-ministro Netanyahu, que chegará a Washington em menos de duas semanas para reunir-se com o presidente Trump, e depois determinaremos nossa política", declarou a uma rádio pública.
Danon deu a entender que os anúncios de novas construções poderão ser suspensos até a reunião entre Netanyahu e Trump.
Para Shmuel Rosner, especialistas nas relações entre ambos os países, as decisões israelenses devem ser analisadas em seu contexto.
Netanyahu enfrenta a supremacia de sua direita, estimulada não só pela chegada de Trump como também por uma determinação da justiça que obrigou o primeiro-ministro a demolir a simbólica colônia de Amona.
A Casa Branca fez Netanyahu saber que foi longe demais e que não deveria sondar a política de Trump, um homem que sonha em solucionar um conflito que os outros não conseguiram resolver, disse Rosner à AFP.
As afirmações de Washington causaram, no entanto, alarme entre os palestinos. Hanan Ashrawi, membro da direção palestina, denunciou à AFP um comunicado "confuso e inaceitável" que autoriza os israelenses a construir no interior das colônias existentes.