Donald Trump, presidente eleito dos EUA (Chip Somodevilla/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 14h08.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tem prometido intensificar as deportações de imigrantes em situação irregular, e um trunfo em suas mãos pode ser o apoio de xerifes republicanos, segundo o Wall Street Journal.
Tal perspectiva tem causado medo nas comunidades de imigrantes, dividindo opiniões em regiões que tradicionalmente apoiaram os democratas em eleições passadas, como em um condado de Maryland, cujo xerife Chuck Jenkins já declarou estar disposto a ajudar Trump em sua investida.
Para pôr em prática o plano de Trump, é necessário o apoio das forças policiais locais em cidades e estados distantes da fronteira para realizar prisões e remoções em massa. E, para xerifes conservadores como Jenkins, o momento não poderia ser mais propício.
— Estou disposto a apoiar o presidente 100% — disse Jenkins, de 68 anos, ao WSJ. — Quero fazer mais, dentro da lei.
Jenkins administra o condado de Frederick, onde a adversária de Trump, Kamala Harris, venceu nas eleições deste ano. Apesar disso, muitos temem uma aplicação mais rigorosa da lei sob o governo de Trump por conta do xerife republicano.
— Sabendo que temos um xerife que se alinha muito com algumas dessas políticas, há uma preocupação maior — disse ao WSJ Claudia Hernandez, uma conselheira licenciada que faz parte da Comissão de Assuntos de Imigrantes do condado.
A administração Trump já fala em reforçar o quadro do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) e até usar militares para acelerar as deportações. Também buscam expandir programas que dão a xerifes poderes para atuar em questões migratórias e redirecionar bilhões de dólares para agências policiais locais que cooperem com o ICE.
Atualmente, os agentes do ICE se concentram em localizar e deportar criminosos condenados, como molestadores de crianças e outros suspeitos de serem uma ameaça à segurança pública ou nacional.
Segundo o WSJ, a Associação Nacional de Xerifes, que representa cerca de 70% dos 3.081 xerifes do país, já está em diálogo com a equipe de transição de Trump para entender os custos, a escala e a duração do plano de cooperação.
Além de Jenkins, há outros xerifes republicanos que já declararam que pretendem cooperar com o ICE sob Trump. Questionado se apoia deportações em massa, o xerife republicano Richard Jones, do condado de Butler, em Ohio, respondeu ao jornal:
— Claro que apoio. E o povo americano também... As pessoas estão cansadas disso.
Tom Homan, veterano do ICE nomeado pelo republicano para ser o próximo "czar das fronteiras", apoia firmemente o plano de deportação em massa de Trump. Durante período em que trabalhou no primeiro mandato de Trump, supervisionou sistema de imigração que colocou um número recorde de crianças imigrantes sob custódia do Estado.
Mas os planos da nova administração ainda esbarram em obstáculos, e muitos apontam limites práticos para quantas pessoas poderiam ser deportadas (há cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentação no país atualmente). Trump e autoridades da sua equipe de transição também já começaram publicamente a restringir o escopo de seus esforços, com foco agora principalmente naqueles com históricos criminais.
Além dessas questões logísticas, o plano também enfrenta oposição de estados e cidades que adotam políticas de "santuário" de imigrantes, algo que Trump e sua equipe já disseram que pretendem penalizar, com o corte de subsídios federais.
Enquanto xerifes conservadores, especialmente em estados republicanos, veem as propostas como uma oportunidade para reforçar o controle migratório, o cenário é outro em estados democratas. Em muitos deles, xerifes já declararam que rejeitam as iniciativas da nova gestão, afirmando que minam a confiança com as comunidades imigrantes e sobrecarregam recursos locais.
Há também a questão legal. Em muitos estados democratas, como Califórnia e Oregon, leis locais restringem ou proíbem a cooperação com as autoridades federais de imigração, o que pode dificultar a implementação dos planos de Trump.
Grupos de defesa de direitos humanos também questionam a abordagem.
— No final das contas, o governo Trump vai querer dar poder aos xerifes — disse ao WSJ Naureen Shah, vice-diretora de assuntos governamentais da União Americana pelas Liberdades Civis.
As deportações não são incomuns. Trump deportou cerca de 1,5 milhão de pessoas durante seu primeiro mandato, de acordo com uma análise do Migration Policy Institute. Já o governo Joe Biden removeu aproximadamente o mesmo número. O presidente Barack Obama deportou 3 milhões em seu primeiro mandato.
A única comparação histórica com um programa de deportação em massa ocorreu em 1954, quando 1,3 milhão de pessoas foram deportadas como parte da Operação Wetback, cujo nome deriva de uma calúnia depreciativa comumente usada contra os mexicanos na época. No entanto, esse número é contestado pelos historiadores.