Donald Trump: presidente dos EUA fez viagem surpresa ao Afeganistão e pode retomar negociações com os talibãs (Tom Brenner/Reuters)
AFP
Publicado em 29 de novembro de 2019 às 07h01.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (28), durante uma visita surpresa a uma base americana no Afeganistão, a retomada das negociações com os talibãs, interrompidas em setembro.
Realizada por ocasião do feriado de Ação de Graças, a viagem de Trump, a primeira ao país, foi mantida em segredo por razões de segurança.
"Os talibãs querem um acordo, estamos nos reunindo com eles, estamos dizendo a eles que deve haver um cessar-fogo, eles não queriam um cessar-fogo, agora eles querem um cessar-fogo", disse Trump à imprensa após se encontrar com o presidente Ashraf Ghani, na base de Bagram.
"Ficaremos aqui enquanto não houver acordo ou até que aconteça uma vitória total, e eles querem de verdade este acordo", destacou Trump.
Também confirmou sua intenção de reduzir o número de soldados americanos no local para 8.600, em comparação aos cerca de 14 mil que estão no país atualmente.
"Ambos os lados enfatizaram que, se o Talibã for sincero em seu desejo de obter um acordo de paz, deve aceitar um cessar-fogo", postou no TwitterAshraf Ghani após o encontro dom o dirigente dos Estados Unidos. "Também insistimos que, para que a paz seja duradoura, devemos acabar com os refúgios terroristas fora do Afeganistão".
O presidente Ghani só foi informado sobre a visita de Trump poucas horas antes do desembarque no país, segundo a Casa Branca.
O presidente embarcou na noite de quarta-feira da Flórida, passando pela base de Andrews, perto de Washington. Ele chegou a Bagram por volta das 20H30, horário local, mas a notícia da viagem não foi divulgada até pouco antes da decolagem.
Todos os integrantes da imprensa que viajaram no mesmo avião que Trump somente foram informados sobre o destino final duas horas antes do pouso da aeronave no Afeganistão.
Dentro da base, todos os movimentos do presidente foram acompanhados por soldados fortemente armados, equipados com óculos de visão noturna.
No dia 7 de setembro, Trump encerrou as negociações que já duravam mais de um ano com os Talibãs, para surpresa geral, num momento em parecia estar próximo de um acordo histórico após 18 anos de conflito no Afeganistão.
Justificou a decisão com a morte de um soldado americano e de outras 11 pessoas num atentado de autoria dos talibãs dois dias antes, em Cabul.
"Estávamos perto do objetivo e desistimos, não fizemos pelo que eles fizeram", disse Trump durante a reunião com o presidente afegão, em referência à morte do soldado americano. "Desde então, os atacamos com tanta força, nunca foram atacados de maneira tão forte", completou.
O negociador dos Estados Unidos, Zalmay Khalilzad, apenas revelou alguns detalhes do "acordo de princípios" que ele afirmou ter fechado com o grupo.
Esse pacto previa uma retirada progressiva dos soldados americanos do Afeganistão em troca de garantias de segurança, uma "redução da violência" e a abertura de negociações diretas entre o Talibã e o governo de Cabul.
Na semana passada, os talibãs libertaram dois reféns, um americano e um australiano, professores da universidade americana em Cabul, em troca da libertação de três líderes talibãs que estavam presos sob custódia das forças afegãs.
Na quinta-feira, o presidente posou para fotos com os soldados e serviu a refeição, antes de discursar diante de cerca de 500 soldados dentro de um grande pavilhão.
"Viajamos 8.331 milhas para estar aqui esta noite com um único motivo: dizer-lhes em pessoa que este Dia de Ação de Graças é especial, que tudo vai muito bem, que nosso país é mais forte economicamente do que jamais foi", disse Trump.
Também destacou que guerra do Afeganistão não será decidida no campo de batalha e que "no final, será necessária uma solução política [...] decidida pelos habitantes da região".