Tratado de águas: Trump pressiona México com ameaça de tarifas por dívida hídrica com o Texas (Kevin Dietsch/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 11 de abril de 2025 às 10h27.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou na quinta-feira, 10, o México com "tarifas e inclusive sanções" até que cumpra um tratado de 1944 e "dê ao Texas a água que lhe deve".
Esse tratado estabelece que México e Estados Unidos compartilhem as águas dos rios Grande (chamado de Bravo pelos mexicanos) e Colorado, que correm ao longo da fronteira entre os dois países.
Em virtude desse texto, os Estados Unidos devem enviar uma quantidade de água do rio Colorado por ano e o México deve fornecer uma parte da água do rio Grande em ciclos de cinco anos. O último termina em outubro de 2025.
No entanto, quando o documento foi firmado não se tinha em conta problemas futuros de seca nem o aumento da população, o que provocou atritos e se tornou uma bomba-relógio diplomática.
"O México tem roubado a água dos agricultores texanos", denunciou o republicano em sua plataforma Truth Social.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, reagiu pouco depois e assegurou que seu país cumpre o tratado de águas e que apresentou uma proposta para o envio de água ao Texas.
Em novembro, ambos os países firmaram um acordo destinado a prevenir a escassez de água nos estados áridos do sul dos Estados Unidos mediante um abastecimento mais confiável de água fluvial por parte do México.
"O México deve ao Texas 1,3 milhão de acres-pés [1,6 bilhão de m³] de água [...] Isso é muito injusto e prejudica seriamente os agricultores do sul do Texas", apontou o presidente americano.
Trump, além disso, acusa seu vizinho pelo fechamento no ano passado da última usina de açúcar do Texas por falta de água e seu antecessor, o ex-presidente democrata Joe Biden, de ter-se negado "a mover um dedo para ajudar os agricultores".
"ISSO ACABA AGORA!", advertiu Trump em letras maiúsculas, e lembrou que interrompeu em março o envio de água a Tijuana.
"Vamos seguir intensificando as consequências, incluindo tarifas e, talvez, inclusive sanções, até que o México cumpra o Tratado e dê ao Texas a água que lhe deve", afirmou.
No fim de março, o escritório do Departamento de Estado para América Latina e Caribe afirmou que os Estados Unidos negariam "o pedido do México, fora do tratado, de um canal especial de fornecimento de água do rio Colorado para Tijuana".
Os agricultores e legisladores americanos reclamam que o país vizinho espera até o final de cada ciclo para cumprir com sua cota e tem ficado aquém nos últimos anos pela seca.
"São três anos de seca e, na medida da disponibilidade de água, o México tem cumprido", escreveu Sheinbaum na rede X.
Na quarta-feira, "foi enviada ao subsecretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos uma proposta integral para atender o envio de água ao Texas [...], que inclui ações de curtíssimo prazo", acrescentou.
Sheinbaum indicou que ordenou ao Ministério das Relações Exteriores e às pastas de Agricultura e Meio Ambiente para que "façam contato de imediato" com as autoridades americanas.
"Tenho certeza de que, assim como em outros temas, haverá um acordo", afirmou a presidente mexicana.
Tijuana, na fronteira com o estado da Califórnia, transformada em centro nevrálgico da indústria manufatureira americana, depende do rio Colorado para aproximadamente 90% de sua água.
O rio Colorado, que também é uma fonte de água importante para Los Angeles e Las Vegas, teve sua vazão reduzida devido à seca e ao forte consumo agrícola no sudoeste dos Estados Unidos, onde cerca de metade da água é destinada à criação de gado de corte e leiteiro.
No sul do Texas, os agricultores temem pelo futuro do algodão, das frutas cítricas e outros produtos agrícolas.