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Trump ainda pode criar obstáculos em últimos dias na presidência

Antes de deixar o cargo ao meio-dia de 20 de janeiro, Trump pode perseguir e punir desafetos,além de impôr punições à China, que ele culpa pela pandemia

 (Carlos Barria/Reuters)

(Carlos Barria/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 9 de novembro de 2020 às 12h52.

Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 12h53.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ter não ter conseguido se reeleger, mas sua presidência e capacidade de criar obstáculos estão longe do fim. Os últimos dois meses de Trump no cargo podem trazer um turbilhão de recriminações, ações executivas e esforços para dificultar o governo do presidente eleito Joe Biden.

E, embora quase todo presidente tenha procurado maximizar sua influência durante as horas finais no Salão Oval, poucos mostraram o desprezo e desdém de Trump pelas instituições da presidência e do governo federal, abrindo novas frentes para possível confusão. Antes de deixar o cargo ao meio-dia de 20 de janeiro, aqueles vistos como inimigos poderiam ser demitidos ou perseguidos e aliados perdoados.

“Uma vez que um presidente é um ‘lame duck’, há menos restrições em sua capacidade de exercer o poder do Executivo”, disse Emily Sydnor, professora de ciência política da Southwestern University, em referência ao termo para políticos em fim de mandato. Sem a ameaça de enfrentar os eleitores novamente, ela disse que a única restrição para Trump serão as tradições do comportamento presidencial.  “A história sugere que isso tem pouca influência neste governo”, disse.

Como presidente, Trump se recusou a divulgar suas declarações de imposto de renda, pressionou o Departamento de Justiça para investigar adversários políticos, demitiu três chefes de gabinete em quatro anos e ameaçou abandonar alianças na Europa e no Pacífico, entre outras rupturas com seus antecessores. Trump enfrentou um processo de impeachment por pressionar o governo da Ucrânia a denunciar Biden, que viria a substituí-lo.

Biden conquistou a presidência no sábado depois de vencer nos estados da Pensilvânia e Nevada, de acordo com a Associated Press e redes de TV. Trump prometeu contestar o resultado da eleição em vários estados, alegando, sem evidências, que houve fraude generalizada na votação. Na Casa Branca, assessores começam a se conformar com a realidade de que a derrota de Trump provavelmente não será revertida.  O presidente, por sua vez, já deu a entender que tem como alvo integrantes de seu próprio governo, os quais ele culpa por não terem feito o suficiente para ajudá-lo politicamente antes das eleições.

O presidente parece ter desenvolvido uma ira particular por seus assessores médicos, culpando-os por não apoiarem seus planos de reabrir a economia, apesar do surto de coronavírus. Em comício na segunda-feira na Flórida, Trump incitou uma multidão, que pedia a demissão de Anthony Fauci, o maior especialista em doenças infecciosas do país. “Agradeço o conselho”, disse Trump.

Biden já disse que reintegraria Fauci se ele for despedido por Trump. Mas outras autoridades de saúde mais estreitamente alinhadas com o presidente - como o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, Robert Redfield, e a coordenadora da Força-Tarefa do Coronavírus, Deborah Birx - podem não receber um salva-vidas de Biden se Trump optar por dispensá-los.

Da mesma forma, o presidente pode demitir funcionários como o secretário de Defesa, Mark Esper, e a diretora da Agência Central de Inteligência, Gina Haspel - fontes de frustração frequente para alguns do círculo íntimo de Trump - como um ato de punição.

Trump também pode tentar cimentar sua marca nas políticas públicas durante as últimas semanas no poder. Antes da eleição, Trump disse que esperava negociar um grande pacote de ajuda para o coronavírus após a contagem dos votos. Seu apetite por fazê-lo agora pode ter diminuído - principalmente porque qualquer benefício econômico provavelmente beneficiará seu sucessor -, mas a Casa Branca ainda estará envolvida nas negociações sobre um projeto de lei.

Decisões sobre vacinas

Trump também deve enfrentar decisões sobre como distribuir a vacina contra o coronavírus que, segundo autoridades do governo, poderia estar pronta em questão de semanas. O presidente pode promover o lançamento em uma tentativa de abrilhantar seu legado. Mas Trump também afirmou que os requisitos para testes desenvolvidos pela agência reguladora FDA, que atrasaram a aprovação antes das eleições, tiveram motivos políticos para que ele não participasse do processo de anúncio.

Outras prioridades poderiam ganhar atenção considerável nos últimos dias do governo Trump.

Trump deve estar ansioso em punir a China, que ele culpa pela pandemia de coronavírus que lhe custou a presidência, especialmente agora que não precisa se preocupar com as consequências econômicas que podem impactá-lo politicamente.

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