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Trump admitiu que minimizou risco do coronavírus, revela livro

Trump reconheceu, no início da pandemia, que a covid-19 é "muito difícil" devido às suas formas de transmissão, e que a doença mata mais do que a gripe

Com mais de 190 mil mortos e 6,3 milhões de infectados, os EUA são o país mais atingido no mundo (Getty Images/AFP)

Com mais de 190 mil mortos e 6,3 milhões de infectados, os EUA são o país mais atingido no mundo (Getty Images/AFP)

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AFP

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 06h31.

Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 06h32.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu que sabia da ameaça do novo coronavírus semanas antes da primeira morte registrada no país, mas disse que minimizou publicamente os riscos para não espalhar pânico, revela o novo livro do lendário jornalista Bob Woodward.

Os comentários do presidente republicano, que se tornaram conhecidos em entrevistas divulgadas nesta quarta-feira, foram denunciados como algo "quase criminoso" por seu rival democrata nas eleições de novembro, Joe Biden, que lidera as pesquisas de opinião.

As gravações, divulgadas pela rede de TV CNN, constam de "Rage", novo livro de Woodward sobre a presidência de Trump, que será lançado no próximo dia 15. Nas conversas com Woodward, o presidente americano reconhece, no início da pandemia, que o novo coronavírus é "muito difícil" devido às suas formas de transmissão, e aponta que o mesmo mata mais do que a gripe. "É transmitido pelo ar, Bob (...) Isso é algo fatal", disse Trump a Woodward em 7 de fevereiro.

Semanas mais tarde, o presidente afirmou que buscou deliberadamente não dar grande importância ao tema, mesmo depois de declarar emergência nacional. "Sempre quis minimizar a sua importância. Ainda gosto de minimizá-lo, porque não quero criar pânico", comentou Trump em 19 de março, durante outra conversa com Woodward.

Com mais de 190 mil mortos e 6,3 milhões de infectados, os Estados Unidos são o país mais afetado do mundo pelo novo coronavírus. A gestão da pandemia por Trump, acusado por muitos de negligência visando a aumentar suas chances de ser reeleito, é desaprovada por cerca de dois terços dos americanos, segundo pesquisas.

"Mentiu para nós durante meses"

Joe Biden arremeteu contra o adversário republicano. "Donald Trump sabia. Mentiu para nós durante meses. Embora uma doença fatal tenha arrasado o nosso país, não fez o seu trabalho, a propósito. Foi uma traição de vida ou morte ao povo americano", tuitou o democrata.

"É repugnante", declarou Biden, em seguida. "Pensem no que ele não fez e é quase criminoso."

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, líder democrata no Congresso, considerou que as conversas mostraram a "fraqueza" de Trump ao enfrentar o desafio, bem como "o seu desprezo pela ciência. Claramente, o presidente não esteve à altura", disse ao canal de TV MSNBC.

"Mostrar calma"

Definindo-se como um "animador" da nação, Trump insistiu hoje em que sua obrigação era "mostrar calma e fortaleza como nação. Amo este país e não quero que as pessoas se assustem. Não vou levar este país ou o mundo a um frenesi. Seja Woodward ou qualquer outra pessoa, você não pode mostrar uma sensação de pânico, ou terá problemas maiores que os de antes", declarou o presidente na Casa Branca.

A assessora de imprensa do governo, Kayleigh McEnany, afirmou que a única motivação de Trump para minimizar os riscos era tranquilizar o público. "É importante expressar confiança, é importante expressar calma", disse. "O presidente nunca mentiu para o público americano sobre a Covid-19."

O principal especialista em doenças infecciosas do país, Anthony Fauci, membro da unidade instalada na Casa Branca para responder à crise, disse não achar que Trump alterou os fatos. "Não lembro de nada que tenha sido uma grande distorção das coisas que falei para ele", declarou ao canal Fox News.

Questão de ética

Trump considerou que o livro, baseado em 18 entrevistas gravadas por Woodward com a autorização do presidente entre dezembro de 2019 e julho de 2020, é "outro sucesso político".

O jornalista ganhou fama quando, como funcionário do jornal "Washington Post", ajudou, juntamente com Carl Bernstein, a revelar o escândalo Watergate, que derrubou o presidente americano Richard Nixon em 1974.

Rage é o segundo livro de Woodward sobre a presidência Trump, depois de "Fear", lançado em setembro de 2018. Mesmo sendo um profissional reconhecido, o jornalista recebeu críticas por manter as informações guardadas por tanto tempo, pensando em seu livro.

"Na situação atual, de vida ou morte, segue sendo ética esta prática tradicional?", questiona David Boardman, decano da faculdade de jornalismo da Temple University. Consultado pelo Washington Post, Woodward respondeu que buscava dar mais contexto do que poderia proporcionar em um artigo informativo.

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