Malala Yousafzai: com apenas 11 anos de idade, esta menina alimentava um blog no site da BBC em urdu, a língua oficial do Paquistão, e sob o pseudônimo de Gul Makai, descrevia o clima de medo que reinava em seu vale (Carlo Allegri/Reuters)
Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2015 às 16h23.
Peshawar - Um tribunal antiterrorista paquistanês condenou nesta quinta-feira à prisão perpétua 10 homens por tentativa de assassinato em 2012 contra a Malala Yusafzai, a jovem que foi premiada com o Nobel da Paz ano passado.
Em outubro de 2012, a jovem militante pelo direito à educação foi alvo de um atentado dos talibãs paquistaneses do TTP quando retornava da escola em sua cidade natal de Mingora, na região noroeste do Paquistão.
O ataque contra a adolescente, que tinha 15 anos na época, provocou forte comoção em todo o mundo e polêmica no Paquistão, onde os círculos islamitas a acusam de "jogar o jogo" do Ocidente a fim de "profanar" a religião muçulmana.
Em setembro do ano passado, o exército paquistanês, que lançou em um junho uma grande operação contra os talibãs do TTP e outros jihadistas ligados à Al-Qaeda, anunciou a detenção de 10 suspeitos.
Os suspeitos foram transferidos ao tribunal antiterrorista de Mingora, cidade onde nasceu Malala, no magnífico vale do Swat, controlado pelos islamitas radicais entre 2007 a 2009. Neste período, impuseram um regime de terror e privaram as meninas à educação.
Mas nesta quinta-feira, "os 10 homens envolvidos no ataque a Malala Yusafzai foram condenados à prisão perpétua", afirmou à AFP uma fonte do tribunal antiterrorista de Mingora, onde foi lida a sentença do juiz Mohamad Amin Kundi.
"Cada um deles recebeu uma pena de 25 anos de prisão", o que equivale à prisão perpétua no direito paquistanês, informou outra fonte, que pediu anonimato por temer represálias dos talibãs.
As autoridades de Islamabad afirmam que o homem suspeito de ser o autor do disparo contra Malala, identificado como Ataullah Khan, estaria foragido no Afeganistão, junto com o líder talibã paquistanês, Mulá Fazlullah, que ordenou o ataque.
Nascimento de um símbolo
Malala começou a lutar pelo direito das meninas à educação ainda em 2007, quando os talibãs faziam reinar sua lei no vale do Swat, que no passado era uma tranquila região turística atrás do Himalaya.
Com apenas 11 anos de idade, esta menina muito influenciada por seu pai, diretor de escola, mas cuja mãe é analfabeta, alimentava um blog no site da BBC em urdu, a língua oficial do Paquistão. Sob o pseudônimo de Gul Makai, descrevia o clima de medo que reinava em seu vale.
O nome desta menina, que adorava os livros e o saber, começou a circular no vale do Swat, e no resto do país quando recebeu um prêmio nacional pela paz.
No dia 9 de outubro de 2012, vários jihadistas do TTP invadiram o ônibus escolar no qual a jovem retornava para casa em Mingora e um deles perguntou "Quem é Malala?", antes de atirar à queima-roupa contra a cabeça da adolescente.
Por milagre, o tiro não matou a jovem, tendo a bala ricocheteado no lado esquerdo do crânio e saindo pela nuca. Em estado de coma, Malala foi levada para um hospital de Birmingham, na Grã-Bretanha, onde recuperou a consciência seis dias depois.
Pouco conhecida no exterior, a jovem militante se tornou um símbolo da luta contra o extremismo ao ponto de receber, em outubro do ano passado, quase dois anos após o ataque que paradoxalmente a revelou para o mundo inteiro, o Prêmio Nobel da Paz juntamente com o indiano Kailash Satyarthi.
Mas em razão das ameaça continua a receber no Paquistão, a mais jovem a ser agraciada com o Prêmio Nobel continua morando na Inglaterra, estudando e dando prosseguimento a seu combate contra o extremismo.