O ataque ao Líbano foi confirmado pelo Exército de Israel (Faruk Hanedar/Anadolu/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 15h10.
O exército israelense atacou neste sábado posições do Hezbollah no Sul do Líbano, mantendo o país em alerta sobre um cessar-fogo frágil, assinado há três dias. Israel também continua a atacar Gaza, sem sinais de abrandamento. Num dos bombardeios, morreram três funcionários de uma organização humanitária americana.
O ataque ao Líbano foi confirmado pelo Exército de Israel. O cessar-fogo no Líbano, firmado esta semana, encerrou meses de destrutivos ataques aéreos e combates, mas ainda não está claro quando as cerca de um milhão de pessoas deslocadas poderão retornar em segurança às suas casas.
Pelo acordo, as forças israelenses devem se retirar gradualmente do Sul do Líbano em um período de 60 dias, enquanto os combatentes do Hezbollah também se retiram para o norte do Rio Litani. Apesar dos ataques esporádicos, o cessar-fogo parece, em grande parte, se manter no Líbano. Em Gaza, qualquer pausa na guerra ainda parece distante.
O exército israelense afirmou que atingiu um local na fronteira entre o Líbano e a Síria que estava “sendo usado ativamente” pelo Hezbollah para transportar armas da Síria para o Líbano, o que chamou de violação do acordo de cessar-fogo.
Também afirmou ter atacado outros três locais no sul do Líbano onde observou militantes “se aproximando de estruturas do Hezbollah”, carregando veículos com armas ou realizando “atividades terroristas” em uma instalação do Hezbollah. O exército se recusou a fornecer mais detalhes sobre esses ataques.
O Hezbollah não comentou imediatamente os ataques. Israel já havia atingido pelo menos outros dois locais que descreveu como infraestrutura do Hezbollah nesta semana, após o cessar-fogo entrar em vigor na quarta-feira.
Israel mantém uma ofensiva de semanas no norte de Gaza, isolando a região. Dezenas de pessoas foram mortas em ataques aéreos israelenses na sexta-feira, e mais vítimas ficaram presas sob os escombros, segundo equipes de resgate de emergência no território.
A Defesa Civil Palestina em Gaza, um grupo de resposta emergencial, afirmou acreditar que mais de 75 pessoas morreram em ataques em Beit Lahia, uma cidade agrícola ao norte de Gaza, mas disse que não conseguiu chegar ao local devido ao bloqueio israelense. A Defesa Civil não diferencia entre civis e combatentes nos números de mortos, mas informou que famílias estavam entre as vítimas.
“Famílias inteiras foram exterminadas no norte de Gaza, e não sabemos nada sobre elas”, disse o grupo em um comunicado na sexta-feira à noite. “E há sobreviventes que permanecem sob os escombros por muito tempo, sem nenhuma defesa civil para resgatá-los.”
Trabalhadores de resgate não conseguem operar no norte de Gaza desde o início da ofensiva israelense, há quase dois meses. O serviço de internet e telefone na área também tem sido instável nos últimos dias, deixando as equipes de resgate e as famílias das vítimas sem meios confiáveis de obter informações.
O exército israelense rejeitou no sábado os relatos sobre ataques aéreos em Beit Lahia como “propaganda falsa do Hamas”, mas afirmou que continua suas “atividades contraterrorismo contra o Hamas na Faixa de Gaza”.
O exército “opera com base em inteligência precisa e confiável contra terroristas do Hamas e alvos terroristas, não contra civis em Gaza”, disse em comunicado. “Enfatizamos que a área em questão é uma zona de guerra ativa.”
O exército israelense também afirmou no sábado que atacou um combatente do Hamas que participou do ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza. Israel iniciou uma grande ofensiva militar no norte de Gaza no início de outubro para combater o que seu exército descreve como o ressurgimento do Hamas na região. Moradores e grupos de ajuda afirmam que o impacto humanitário da operação tem sido severo.
No início da ofensiva, as Nações Unidas estimaram que 400 mil pessoas estavam presas na zona de combate, e dezenas de milhares fugiram da área desde então. Os combates também praticamente interromperam o fluxo de ajuda humanitária e comércio no norte, deixando a população civil com pouco acesso a alimentos, água, remédios e outros itens essenciais.
Momen Ahmed, 27 anos, disse que passou horas tentando, sem sucesso, ligar para seus parentes e vizinhos em Beit Lahia quando ouviu sobre os ataques próximos. “Não há internet ou comunicações lá”, afirmou.
Finalmente, Ahmed conseguiu contato com um vizinho, que lhe disse que a casa da família havia sido “destruída e todos que estavam dentro do prédio no momento do ataque devem ter morrido”.
A Defesa Civil da Faixa de Gaza também disse que três trabalhadores humanitários foram mortos em um ataque aéreo em Khan Yunis (sul), enquanto o exército israelense alegou ter atingido "um terrorista".
Os trabalhadores humanitários, palestinos, eram funcionários da ONG americana World Central Kitchen (WCK), informou a Defesa Civil.
O exército israelense confirmou em um comunicado que uma das vítimas "trabalhava para a WCK" e disse que tratava-se de um "terrorista" que havia "se infiltrado em Israel e participado do massacre de 7 de outubro [de 2023] no kibutz Nir Oz", perto da Faixa de Gaza.
Procurada pela AFP, a organização humanitária, da qual sete funcionários foram mortos em Gaza em abril, não se pronunciou.
De acordo com o porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmoud Bassal, houve "pelo menos cinco mártires [...], incluindo três funcionários da WCK", depois de um ataque aéreo israelense a um veículo que circulava no nordeste de Khan Yunis.
Bassal afirmou, ainda, que os três trabalhadores humanitários "foram atingidos enquanto dirigiam um SUV pertencente à WCK em Khan Yunis, apesar do fato de que o veículo estava claramente marcado com um logotipo visível da ONG".
O exército israelense alegou, por sua vez, que o carro atacado era "um veículo civil sem marcações oficiais" e que seu movimento não foi coordenado como parte das operações de ajuda humanitária.
Em 1º de abril, sete trabalhadores humanitários da organização fundada pelo famoso chef José Andrés foram mortos em uma série de três ataques israelenses contra seu comboio em Gaza. O exército israelense reconheceu erros em vários níveis da operação.