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Traficantes precisam de menos folhas de coca para produzir cocaína

O uso mais eficiente de produtos químicos permitiu ao narcotráfico na Bolívia economizar na produção do entorpecente

Mulheres colhem folhas de coca enquanto soldados retiram as plantas em La Asunta, 220 km ao norte de La Paz: segundo a ONU, são cultivados na Bolívia 31.000 hectares de coca
 (Aizar Raldes/AFP/AFP)

Mulheres colhem folhas de coca enquanto soldados retiram as plantas em La Asunta, 220 km ao norte de La Paz: segundo a ONU, são cultivados na Bolívia 31.000 hectares de coca (Aizar Raldes/AFP/AFP)

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Da Redação

Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 08h20.

La Paz - O uso mais eficiente de produtos químicos permitiu ao narcotráfico na Bolívia usar menos folhas de coca para a mesma quantidade de cocaína, disse o representante do Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC), César Guedes, em entrevista à AFP.

"A produção sofisticou-se nos últimos três anos. É necessário agora muito menos folhas de coca para produzir a mesma quantidade de cocaína. Estamos falando que o rendimento dobrou", disse o funcionário.

Ele explicou que isso se deve ao fato de os traficantes "estarem usando produtos químicos mais eficientes, capazes de extrair de uma forma mais intensa o alcaloide da folha de coca".

Trata-se de um assunto de "tecnologia química que não foi desenvolvida para a coca, mas para outras atividades, como a indústria farmacêutica ou petroquímica, mas que se aplica no narcotráfico", onde se maximizam seus efeitos.

"A folha de coca não é droga, mas seu processo de transformação é muito simples. Requer poucos aditivos para transformar essa folha em entorpecente", afirmou Guedes.

Para a fabricação de cocaína, é necessário uma mistura de químicos como ácido sulfúrico, acetona, gasolina, diesel, carbonato de sódio e permanganato de potássio que são utilizados em diferentes fases, como a obtenção de pasta base de cocaína e depois cloridrato.

Autoridades bolivianas afirmaram que os traficantes começaram a usar coca moída e cimento para fabricar drogas.

Guedes declarou que ainda não se pode precisar o rendimento dos novos procedimentos químicos, apesar de se ter certeza de que estão otimizando os reagentes para produzir droga com menor quantidade da planta milenar.


Segundo as Nações Unidas, são cultivados na Bolívia 31.000 hectares de coca e a profução da folha de coca alcança aproximadamente 55.000 toneladas.

O Departamento de Estado, em um relatório de 2010, afirmava que a Bolívia tinha a capacidade para produzir cerca de 115 toneladas de cocaína.

O governo boliviano, que nunca reconheceu quanta cocaína é produzida no país, afirmou que suas apreensões de drogas durante 2011 beiram as 31 toneladas, entre pasta base e cloridrato, uma quantidade segundo o governo histórica.

Na Bolívia, a lei permite o uso de coca em seu estado natural para a mastigação.

As plantações do Chapare, no centro do país e reduto político de Morales, rendem mais, porque têm mais espaço para crescer, enquanto que em Yungas, leste de La Paz, rendem menos por estar em terrenos mais acidentados.

O funcionário das Nações Unidas afirmou que esse processo de produção mais sofisticada de drogas é sobretudo resultado da atividade dos traficantes colombianos que transmitiram "know how" ou conhecimento da fabricação da droga a grupos locais de Peru e Bolívia, assessorando-os também sobre estratégias de comercialização.

Há algumas décadas, a coca ou a pasta de cocaína eram levadas de Peru e Bolívia para a Colômbia para sua transformação em cocaína, pelo que os traficantes desse país se beneficiavam diretamente da transformação de uma matéria-prima em produto altamente rentável.

No entanto, após a perseguição às máfias colombianas, estas decidiram emigrar, aliando-se a grupos locais em Peru e Bolívia, possibilitando que as duas nações se tornem também produtores de cocaína.

A droga de origem peruana é comercializada nos Estados Unidos, enquanto que a cocaína boliviana é vendida principalmente no Cone Sul e entra no Brasil, de onde se dirige à Europa, continente que na última década duplicou seu consumo, sendo Espanha, França, Grã-Bretanha e Alemanha os principais mercados.

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