Relatório divulgado nesta manhã por comitê do Senado dos EUA revelou que os métodos de interrogatório usados pela CIA em detentos eram mais violentos do que se imaginava (Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 10 de dezembro de 2014 às 08h30.
São Paulo – Um explosivo relatório divulgado nesta manhã pelo Comitê de Inteligência do Senado dos Estados Unidos trouxe à tona informações assustadoras sobre os métodos de interrogatório usados pela CIA durante a era Bush (2001-2009).
A investigação começou em 2009 e foi concluída neste ano pelo comitê após a análise de mais de seis milhões de documentos da agência de inteligência. O relatório completo conta com 6.700 páginas e seu sumário executivo, que foi disponibilizado ao público, tem 499.
Dentre as muitas constatações feitas pelo chamado “Relatório da Tortura”, foi concluído que tais interrogatórios eram muito mais violentos do que se imaginava e que a maioria deles não renderam sequer uma informação valiosa para o combate ao terror.
Foi revelado ainda que a agência de inteligência mentiu para o Departamento de Justiça do país por diversas vezes, o que impediu que uma investigação profunda pudesse ter sido feita mais cedo.
A CIA produziu relatórios enganosos sobre, por exemplo, a efetividade das técnicas empregadas nos interrogatórios, os efeitos psicológicos nos detentos e as condições de vida dentro de suas prisões.
Tortura e confinamento
O relatório retrata a rotina de horror ao qual foram submetidas as 119 pessoas detidas pelo Programa de Detenção e Interrogatório da agência, que vigorou entre 2002 e 2009.
As sessões se iniciavam sempre com técnicas não agressivas, mas rapidamente se tornavam violentas. A maioria dos detentos eram possíveis membros do Al Qaeda, grupo terrorista responsável pelos ataques às torres gêmeas em 2001.
Era comum que a pessoa a ser interrogada fosse deixada sem roupa e que levasse socos e tapas entre as perguntas. Estes métodos eram por vezes associados à privação de sono, que consistia em deixar detento acordado por até 180 horas, ou ao chamado “waterboarding”, simulação afogamento na qual se coloca um pano úmido sob o rosto do interrogado.
Ameaças também eram frequentes durante as sessões. Há relatos de agentes que sugeriam que não seria possível deixar a prisão com vida e os presos jamais seriam julgados em um tribunal, pois não poderiam mostrar ao mundo o que é que foi feito com eles durante o período em custódia.
As condições da carceragem também eram pavorosas. A maioria dos detentos passava dias em escuridão e isolamento. Alguns ficavam em total silêncio, enquanto outros permaneciam em celas nas quais eram emitidos sons em volumes altíssimos. Alucinações, paranoia e tentativas de suicídio eram comuns.
Na introdução do sumário executivo, a senadora e líder do comitê, Diane Feinstein, fez questão de lembrar o contexto histórico sob o qual o polêmico programa foi concebido.
Os EUA haviam acabado de passar por um de seus momentos mais dramáticos, o 11 de setembro, e era inerente o medo de que outros ataques pudessem acontecer em solo americano.
“No entanto, a pressão, o medo e a expectativa de mais atos terroristas não justificam ações inadequadas de indivíduos ou organizações em nome da segurança nacional. A principal lição deste relatório é que, independentemente das pressões e da necessidade de agir, as atitudes da comunidade de inteligência devem sempre refletir quem somos como nação e devem aderir às nossas leis e normas”, enfatizou.
Repercussão
A divulgação do relatório rendeu manifestações de diversas sortes. Para a Anistia Internacional, o documento comprova que os Estados Unidos cometeram tortura e que os responsáveis por este crime devem ser punidos. “Isto não era uma mera operação. Era um programa aterrorizante em seus detalhes e ilegal desde o primeiro dia”, disse a entidade em nota.
Para um grupo de ex-agentes da CIA, contudo, o programa salvou vidas. Segundo informações da revista americana Newsweek, eles pretendem lançar em breve uma iniciativa na qual vão expor o outro lado de toda a história.