Miguel Díaz-Canel: presidente cubano culpa embate com os EUA (Carlo Allegri/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 12 de julho de 2021 às 13h19.
Última atualização em 14 de julho de 2021 às 15h55.
Em meio aos protestos em Cuba no fim de semana, o presidente Miguel Díaz-Canel se pronunciou ao país nesta segunda-feira, 12, ao lado de ministros de seu gabinete.
O mandatário voltou a culpar o embargo dos Estados Unidos pela crise econômica do país.
A economia em frangalhos, com problemas de falta de energia e de abastecimento alimentar (Cuba importa a maior parte dos alimentos), estão entre os principais motivos que levaram os manifestantes às ruas em protestos neste domingo, 11.
Protestos pediram também o fim do regime que impera desde 1959, com gritos de "Abaixo a ditadura" e "Liberdade". Testemunhas da agência Reuters viram ao menos duas dúzias de manifestantes serem presos.
O presidente cubano acusou os EUA de estarem pagando influenciadores para falar à população contra o regime.
"Estamos observando que nas últimas semanas se intensificou nas redes sociais uma campanha contra a revolução cubana, ao redor dos problemas e das carências que estamos vivendo", disse.
Canel admitiu que "nem todos os manifestantes são contrarrevolucionários", e que parte consiste em uma fatia da população insatisfeita com os problemas energéticos e de alimentos. Porém, disse não poder resolver amplamente essas questões diante do embargo americano, endurecido sob Donald Trump e até agora mantido pelo presidente Joe Biden.
"Todos esses temas que estão presentes na nossa sociedade e são motivo de insatisfação, qual é a origem deles? O bloqueio", disse Canel.
Defensores do governo também foram às ruas no domingo, após Díaz-Canel afirmar que os apoiadores deveriam defender o regime. “A ordem de combate está dada: às ruas os revolucionários”, disse o presidente em outro discurso ontem.
Díaz-Canel é presidente de Cuba desde 2018, mas foi oficializado como mandatário do país em abril deste ano, quando chegou à liderança do Partido Comunista Cubano, partido único do país. Díaz-Canel assumiu o lugar do então mandatário Raúl Castro, irmão de Fidel Castro (morto em 2016).
Nascido em 1960, um ano após a revolução de 1959, Canel é o primeiro mandatário que não participou da tomada de poder em 1959. Sua chegada aos postos mais altos do governo marca o fim de uma era em Cuba, com a ascensão da geração que já nasceu sob o regime socialista.
Em sua trajetória na política cubana, e sendo vice-presidente desde 2013, Canel se mostrou fiel seguidor do regime dos Castro, mas analistas apontam que sua chegada marca o começo inevitável de uma nova fase em que Cuba terá de se transformar para seguir sobrevivendo.
A economia da ilha foi duramente afetada pela queda do turismo e restrições de viagens internacionais. Os problemas na geração de energia elétrica foram, segundo as agências internacionais, a gota d'água para a insatisfação popular.
A população cubana enfrenta falta de itens básicos, como carne e laticínios. O país importa dois terços dos alimentos que são consumidos, além de comprar sobretudo combustível e recursos como minérios. Segundo o governo, o produto interno bruto caiu 11% em 2020.
Sem acesso ao mercado estrangeiro, Cuba também desenvolveu as próprias vacinas contra o coronavírus, que começaram a ser aplicadas nos últimos meses.
A ilha teve pouco mais de 56.000 casos de covid-19 e 1.500 mortes. A média móvel de mortes diária superou as 20 vítimas nesta semana, o que também gera preocupação.
O presidente Joe Biden, que foi vice de Obama durante o relaxamento dos embargos contra Cuba, não deve ter a revisão das políticas como prioridade, e critica a ditadura cubana. Sem dar prazos, a Casa Branca disse logo após a posse de Biden, em janeiro, que as medidas de Trump seriam revistas "cuidadosamente".
Após os protestos de ontem, Biden disse que o governo cubano deve "escutar a população".
Antes do coronavírus, a economia cubana já havia sido duramente afetada sob governo de Donald Trump, quando os embargos contra a ilha, que haviam sido levemente relaxadas no governo Obama, voltaram a ficar mais restritos.
Nos últimos dias de seu mandato, Trump também colocou Cuba no grupo de "patrocinadores do terrorismo", categoria da qual o país havia sido removido em 2015. O governo cubano afirma que as medidas tiveram impacto de 20 bilhões de dólares na economia da ilha.
Os mandatários de Cuba no discurso de hoje afirmaram que os EUA querem usar o conceito de terra arrasada, como acontece com a Venezuela. Canel disse também que "uma das primeiras ligações de solidariedade" que recebeu foi do presidente venezuelano Nicolás Maduro.
(Com Reuters)