Dylann Roof, 21 anos, detido por suspeita de matar 9 pessoas em igreja da Carolina do Sul, Estados Unidos (Jason Miczek/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2015 às 17h46.
Washington - O tiroteio em uma histórica igreja metodista da comunidade negra de Charleston, no estado americano da Carolina do Sul, no qual nove pessoas morreram pelos tiros de um jovem branco, reviveu nesta quinta-feira o fantasma do racismo o debate sobre o controle das armas nos Estados Unidos.
O ataque ocorreu na noite da quarta-feira contra a Igreja Africana Metodista Episcopal Emanuel, uma das congregações negras mais antigas do país, enquanto um grupo de pessoas fazia leitura de textos da Bíblia.
De acordo com a polícia de Charleston, o suspeito, um jovem branco de 21 anos identificado como Dylann Roof, estava rezando junto às demais pessoas durante uma hora antes de iniciar o tiroteio.
Entre as nove vítimas - oito morreram no local do incidente e uma no hospital - está o pastor da igreja e senador estadual democrata Clementa Pinckney. Seis mulheres e três homens perderam a vida por causa dos tiros.
Três pessoas sobreviveram ao ataque e, segundo o relato de uma das testemunhas, o suspeito justificou a ação.
"Tenho que fazer isso. Vocês estupraram as nossas mulheres e estão tomando nosso país", disse o suspeito às vítimas, de acordo com o relato.
Após o tiroteio, Roof ficou foragido durante horas e a polícia distribuiu várias fotos do suspeito ao pedir a colaboração dos cidadãos para localizá-lo.
Em uma dessas fotos, tirada do perfil do jovem no Facebook, Roof aparece vestido com uma jaqueta que tem, aparentemente, uma bandeira do sistema de segregação racial sul-africano do "apartheid" e outra da Rodésia, antiga colônia britânica governada pela minoria branca até se transformar no atual Zimbábue em 1980.
Roof foi preso na manhã desta quinta-feira em uma blitz na cidade de Shelby, na Carolina do Norte, a quatro horas de percurso de Charleston, e está sob custódia policial.
O chefe da polícia de Charleston, Greg Mullen, afirmou em entrevista coletiva acreditar que foi um "crime de ódio" e o Departamento de Justiça abriu uma investigação para determinar se, efetivamente, o massacre teve motivos raciais.
Antes de viajar para Los Angeles, na Califórnia, o presidente Barack Obama falou sobre o tiroteio da sala de imprensa da Casa Branca, visivelmente abatido e em companhia do vice-presidente, Joseph Biden.
O líder americano disse que conhecia o pastor morto e outros membros da igreja, expressou profunda "tristeza" e "indignação" pelo tiroteio e classificou a "tragédia" de "particularmente dilaceradora" porque ocorreu em um lugar onde normalmente se procura "consolo e paz".
Obama também ressaltou que "não é a primeira vez" que as igrejas das comunidades negras do país são atacadas e que este novo incidente gera perguntas sobre uma "parte obscura" da história dos EUA
"Além dos motivos do ataque, o que sabemos, mais uma vez, é que pessoas inocentes foram assassinadas porque alguém que queria fazer o mau não teve problemas em conseguir uma arma", enfatizou Obama.
De acordo com imprensa americana, Roof ganhou a arma como presente do pai por seu último aniversário.
"Sejamos claros. Em algum momento, como país, teremos que considerar o fato de que este tipo de violência em massa não ocorre em outras nações avançadas, não ocorre em outros lugares com esta frequência. E está em nosso poder fazer algo ao respeito", refletiu.
Obama reconheceu que uma das maiores frustrações de seu mandato foi o fracasso de seus esforços para conseguir um maior controle sobre a venda e a posse de armas no país.
O presidente americano insistiu na necessidade de "enfrentar" o assunto como sociedade para "poder mudar" a forma de pensar sobre a violência causada pelas armas de fogo.
"Tive que fazer declarações como esta muitas vezes", ressaltou Obama, cuja indignação de hoje lembrou a que mostrou após o tiroteio em uma escola de Newtown no qual morreram 20 crianças no dia 14 de dezembro de 2012, um dos "piores" dias de seu mandato, como ele mesmo relatou.
A maioria dos pré-candidatos à presidência, tanto democratas como republicanos, expressou repúdio e tristeza pelo ocorrido em Charleston através das redes sociais.
O republicano Jeb Bush, ex-governador da Flórida, suspendeu um ato de campanha que faria nesta quinta-feira em Charleston e seu colega Lindsey Graham, senador pela Carolina do Sul, também cancelou suas atividades eleitorais para viajar para a cidade.