O vencedor terá a missão de suceder o Nobel da paz José Ramos-Horta, que não conseguiu se reeleger para um segundo mandato de cinco anos (Dimas Ardian/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 16 de abril de 2012 às 09h35.
Sydney - Os cidadãos do Timor-Leste compareceram nesta segunda-feira às urnas para definir, em segundo turno, o presidente desta jovem nação onde a rivalidade política esteve próxima de desencadear uma guerra civil.
A apuração das cédulas começou logo após o fechamento dos colégios eleitorais. Segundo o chefe de apoio técnico eleitoral da ONU no Timor-Leste, o mexicano Andrés Castillo, a jornada ocorreu com "toda calma" e não registrou nenhum incidente mais grave.
Nestas eleições, duas figuras de destaque da resistência contra a ocupação da Indonésia disputam a Presidência do país: Francisco Guterres "Lu Olo" e José Maria Vasconcelos, mais conhecido como "Taur Matam Ruak".
As pesquisas prévias indicavam uma apertada disputa entre os candidatos, embora apontem uma ligeira vantagem de "Lu Olo", que está respaldado pelo partido de esquerda Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin).
No primeiro turno, "Lu Olo" obteve 28,76% dos votos emitidos, enquanto Ruak obteve 25,7% e acabou ficando em segundo.
Gordon Peake, um analista político do Timor-Leste, explicou nesta segunda-feira que essa disputa será um verdadeiro teste para a democracia desta jovem nação. Segundo Peake, a principal dificuldade que envolve essa questão é o fato do candidato "perdedor aceitar sua derrota".
A Comissão Eleitoral Nacional, no entanto, ainda precisará de mais uns dias para completar o processo e anunciar o resultado oficial das eleições presidenciais no Timor-Leste.
O vencedor deste processo eleitoral se transformará no terceiro chefe de Estado deste país e também terá a missão de suceder o Nobel da paz José Ramos-Horta, que não conseguiu se reeleger para um segundo mandato de cinco anos.
No dia 20 de maio, o Timor-Leste realizará o décimo aniversário de sua independência, conquistada depois de quase 25 anos de submissão ao governo da Indonésia e após três anos de reconstrução tutelada pela ONU.
Essa transformação contou com um grande respaldo do primeiro presidente timorense, Xanana Gusmão, o popular chefe da resistência contra a ocupação da Indonésia e atual primeiro-ministro. Desde 2006, a ONU mantém no Timor-Leste uma missão que inclui 1.397 policiais e militares.
O desenvolvimento normal destas eleições presidenciais e a das legislativas, que serão realizadas no final de junho, abrirão caminho para uma possível retirada das Nações Unidas.
Segundo Peake, a jornada eleitoral desta segunda "ocorreu normalmente", e a Polícia quase não precisou intervir em nenhum momento. "Tudo parece indicar que a situação de segurança é bastante estável e tranquila", completou.
No último mês de fevereiro, a representante especial da ONU para o Timor-Leste, Ameerah Haq, seguiu está mesma linha de confiança. Isso porque, diante do Conselho de Segurança do organismo multilateral, Ameerah afirmou que estava convencida que as eleições presidenciais e legislativas no país asiático seriam "um êxito".
As Nações Unidas, que deixaram essa antiga colônia portuguesa em 2005, tiveram que retornar no ano seguinte porque as rivalidades políticas estiveram à beira de gerar uma guerra civil.
Além do desafio democrático, o Governo da nação possui outra grande dificuldade: erradicar a pobreza, já que 40% de sua população, de 1,1 milhão de pessoas, vive com menos de um dólar diário.
Segundo um estudo da Ásia Foundation, o Estado timorense recebe aproximadamente US$ 275 milhões mensais referente à exploração dos recursos energéticos do Mar do Timor, fundos que custeiam os orçamentos estatais.
O Banco Asiático de Desenvolvimento prevê que o crescimento econômico do Timor-Leste alcançará 10% em 2012, mas também prevê um desaquecimento para o final do ano.