Timor Leste: "A língua portuguesa é parte de nossa história", afirmou ministro das relações exteriores (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2014 às 11h16.
Jacarta - O Timor-Leste, um dos países mais pobres da Ásia desde sua independência, em 2002, tenta impulsionar através da alfabetização o português, o idioma cooficial, embora seja falado, atualmente, por apenas um quarto da população.
De acordo com cálculos oficiais, cerca de 40% dos timorenses são analfabetos e o governo luta contra a corrente para que as novas gerações possam superar a pobreza que mantém quatro de cada cinco habitantes na agricultura de subsistência.
Para isso, as autoridades contaram com o apoio de vários países e agências internacionais na reconstrução de um novo sistema educacional e infraestrutura, destruídos na violência de 1999 quando o país rejeitou em referendo continuar sendo parte da Indonésia.
Desde então, o Timor-Leste decidiu utilizar sua herança colonial portuguesa e incluiu a oficialidade do português junto ao tétum, língua majoritária, e seu uso nos meios administrativo e acadêmico.
'A língua portuguesa é parte de nossa história e continuaremos usando como idioma oficial que é', explicou à Agência Efe o ministro das Relações Exteriores do Timor-Leste, José Luís Guterres.
O ministro quer, com o domínio do português e de outros idiomas, impulsionar setores econômicos sustentáveis, como o turismo, e deixar para trás a dependência das exportações de petróleo, que representam 95% das receitas estatais.
No entanto, se reconectar com o português parece paradoxal para os dois terços da população atual nascida após a era colonial. Segundo o censo de 2010, apenas 25% dos entrevistados falam o idioma, contra 45% que usam o bahasa indonésia e 56% o tétum.
Nas escolas o português foi fixado como língua de instrução desde o começo, algo que o brasileiro Davi Borges de Albuquerque, doutor em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB), vê como pouco prático.
'Para os professores é um problema ter de ensinar em português ou em inglês, porque eles não têm fluência, então uma hora ou outra o professor usa o tétum ou o indonésio', diz ele, que durante 2008 e 2009 ajudou a formar novos professores nativos na Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL).
Albuquerque também adverte que o português dificulta a aprendizagem dos alunos, opinião compartilhada pela linguista australiana Kerry Taylor-Leech que descreve em um estudo um sentimento de alienação entre os timorenses perante um sistema educacional que 'não reflete as necessidades e realidade cultural'.
O professor considera 'importante' que haja um planejamento linguístico para a incorporação dos idiomas minoritários, mas acredita que 'deve ser feita de forma organizada, a longo prazo e para um futuro', e não de forma corrida.
Por outro lado, o português tem grande presença na capital, Díli, onde em julho ocorreu a Cúpula da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Em entrevista à agência 'Portuguese News Network' em abril, o ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz José Ramos-Horta assegurou que em dez anos a metade do povo timorense falaria português, mas Albuquerque não vê isto de forma clara.
'Eu tenho uma visão realista. Não acho que isso acontecerá sem investir em professores, pesquisadores e verbas, ações que esses países (membros do CPLP) não tomam pelas denúncias de corrupção no governo do Timor-Leste', afirma ele.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Timor-Leste uma de cada quatro crianças em idade primária não está na escola. Além disso, o país possui o índice de desnutrição mais alto do mundo em crianças com menos de cinco anos (58% do total), o que interfere diminuindo a capacidade de aprendizagem.