Equador: Ao todo, 22 grupos criminosos passaram a ser considerados "organizações terroristas"
Agência de notícias
Publicado em 10 de janeiro de 2024 às 09h18.
A escalada de tensões no Equador, iniciada com a fuga de Fito, líder da maior facção criminosa do país, provocou a instalação do estado de exceção e estado de Conflito Armado Interno em todo o território nacional. Com a medida, as Forças Armadas foram ordenadas a "neutralizar" 22 grupos criminosos, que passaram a ser considerados "organizações terroristas".
Entre os grupos que entraram na mira do governo, estão: Águillas, ÁguillasKiller, Ak47, Caballeros, Oscuros, ChoneKiller, Choneros, Corvicheros, Cuartel de las Feas, Cubanos, Fatales, Gánster, Kater Piler, Lagartos, Latin Kings, Los p.27, Los Tiburones, Mafia 18, Mafia Trébol, Patrones, R7 e Tiguerones.
Em maio do último ano, 16 integrantes da facção “Los Tiburones” foram capturados na tarde de 8 de maio, no sul de Guayaquil. A quadrilha é reconhecida no país pela orquestração e operacionalização de sequestros e assaltos. O grupo costuma utilizar armas sofisticadas, como uma espingarda com mira laser, pistola 'glock' com seletor de tiro e submetralhadoras.
A polícia descobriu o local da operação da quadrilha após perseguir dois indivíduos que haviam cometido sequestro para fins de extorsão. Ao sair da casa, também encontraram um carro supostamente envolvido em outros atos criminosos em Guayaquil.
Integrantes dos “Los Corvicheros” foram julgados recentemente por tentativa de homicídio de um grupo de policiais, em um tiroteio ocorrido no ano passado no bairro conhecido como “Las Siete Puñaladas”. Segundo a polícia local, a gangue “Los Corvicheros” é uma organização dedicada à venda de drogas, assaltos e roubos de automóveis.
No caso do Cuartel de Las Feas, a polícia identifica a área de atuação do grupo criminoso como uma das mais violentas de Guayaquil. Por lá, uma pessoa é assassinada a cada 48 horas. Segundo o jornal “Primicias”, de janeiro a outubro de 2021 ocorreram 111 mortes violentas, mais que o dobro do número registrado em 2020.
O grupo é conhecido por praticar os crimes com requinte de crueldade e extrema violência. Segundo a publicação, esta realidade está ligada ao que acontece nas prisões de Guayaquil: em regiões da cidade, as mesmas gangues que se massacram em complexos prisionais, lutam por território.
Apesar da ordem às Forças Armadas para neutralizar as organizações criminosas, o texto determina que as operações militares ocorram tendo em vista o Direito Internacional Humanitário e respeitando os direitos humanos.
A nova determinação se soma ao estado de exceção declarado na segunda-feira, que impôs, entre outras coisas, toque de recolher obrigatório de 23h às 5h à população por 60 dias e autorizou as Forças Armadas a se unirem à polícia no patrulhamento das ruas.
O estopim da escalada da violência no Equador foi a fuga de José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, líder da principal facção criminosa do Equador, a Los Choneros, da Prisão Regional de Guayaquil no domingo. Em apenas 48 horas, sete policiais foram sequestrados, tumultos foram registrados em presídios, houve ataques com explosivos nas ruas, além da invasão ao canal de TV. A casa do presidente do Tribunal Nacional foi incendiada. Até o momento, não há relatos de mortos ou feridos.
— São dias extremamente difíceis porque [...] a decisão importante é enfrentar essas ameaças com características terroristas — disse o secretário de Comunicação do governo, Roberto Izurieta, em entrevista ao canal digital Visionarias.
Desde 2011, o chefe do Los Choneros cumpria uma pena de 34 anos por crime organizado, narcotráfico e homicídio. O grupo é considerado um dos braços operacionais do cartel de Sinaloa, no México. Fito teria fugido "horas antes" de uma operação de revista no presídio onde cumpria pena, segundo Izurieta. O Ministério Público investiga a participação de agentes do Estado infiltrados que teriam colaborado com a fuga.
Fito foi visto em público pela última vez em setembro, quando foi enviado a outra prisão de segurança máxima após o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio. O político de 59 anos havia relatado, uma semana antes, que o chefe da gangue o havia ameaçado de morte. Para a transferência de Fito, uma megaoperação militar e policial foi montada: ao todo, 4 mil policiais foram mobilizados. A mudança, porém, durou pouco. Menos de um mês depois, ele retornou à sua “prisão favorita” e desafiou o sistema ao lançar um clipe musical de dentro da cadeia.
Localizado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador deixou de ser uma ilha de paz para se tornar um forte de guerra às drogas. O ano de 2023 terminou com mais de 7,8 mil homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes no país de 17 milhões de habitantes.
Desde 2021, os confrontos entre presidiários deixaram mais de 460 mortos. Além disso, os homicídios nas ruas entre 2018 e 2023 cresceram quase 800%, passando de 6 para 46 por 100 mil habitantes