Primeira-ministra britânica Theresa May anuncia que irá propor novas eleições (Stefan Wermuth/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 18 de abril de 2017 às 12h00.
São Paulo – A manhã dessa terça-feira foi de surpresa no Reino Unido depois que a primeira-ministra Theresa May anunciou que irá propor a realização de novas eleições gerais. Se aprovado, o pleito acontecerá no próximo dia 8 de junho. Até então, as votações estavam marcadas apenas para 2020.
Citando a divisão no parlamento britânico quanto aos rumos do Brexit, apesar do resultado do referendo popular que optou pela saída do bloco, a primeira-ministra disse ter concluído que o movimento de se ter novas eleições “é a única maneira de garantir certeza e segurança nos próximos anos”. “O país está unido, mas Westminster não está”, afirmou.
“Se não convocarmos eleições gerais agora, os jogos políticos vão continuar. E as negociações com a UE vão chegar à sua fase mais difícil às vésperas da data em que estão marcadas as votações”, alertou. “Só cheguei a essa conclusão recentemente e relutantemente. Desde que me tornei primeira-ministra, dizia que não deveríamos ter novas eleições antes de 2020. ”
Segundo a rede de notícias CNN, May contou com o apoio do seu gabinete e consultou a Rainha Elizabeth II sobre o tema. Agora, a primeira-ministra busca o apoio popular para fortalecer a posição de seu governo, que é minoria no parlamento, nas negociações de saída da UE e enfraquecer a oposição que tenta frustrar esses planos.
Abaixo, EXAME.com reuniu alguns pontos essenciais para entender o último turbilhão político no Reino Unido.
De acordo com uma nova lei em vigor desde 2011, as eleições devem acontecer a cada cinco anos. Contudo, há duas hipóteses que permitem a antecipação das votações.
A primeira delas se dá pela aprovação da proposta por até dois terços da Câmara dos Comuns, uma das casas do parlamento. Já a segunda ocorre quando o chamado “voto de desconfiança” é aprovado e um novo governo não seja confirmado em 14 dias.
How is the timing of general elections decided? Find out more about the Fixed Term Parliaments Act https://t.co/dSEh38Dq9J pic.twitter.com/dO7H4wiLtW
— UK House of Commons (@HouseofCommons) April 18, 2017
O que May propõe se encaixa na primeira situação. De acordo com a primeira-ministra, a moção com a proposta será enviada para apreciação dos membros dessa casa do parlamento já nesta quarta-feira (19).
Bom, Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista no parlamento, aprovou o movimento de May e já manifestou que seus correligionários irão aprovar a moção que deve chegar à casa na quarta-feira.
Já Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, que tenta realizar um referendo de independência do Reino Unido para permanecer no bloco europeu, enxergou a estratégia como “grande erro de cálculo político”. Em comunicado oficial, a política alegou, ainda, que May estaria colocando os interesses de seu partido acima dos interesses do país.
Tim Farron, líder dos Liberais Democratas, disse ver o anúncio como uma chance de mudança de direção no Reino Unido. “Se você quer evitar um desastroso e difícil Brexit. Se quiser manter o país no mercado único. Se quer um Reino Unido aberto, tolerante e unido, essa é a chance”, disse o político em um posicionamento oficial.
O mundo foi pego de surpresa porque May disse repetidas vezes que não iria, em hipótese alguma, convocar novas eleições antes de 2020, data original para a realização do pleito.
De acordo com levantamento do jornal britânico The Independent, a última vez em que a primeira-ministra rechaçou essa ideia foi a cerca de um mês, em 20 de março. A primeira foi em junho de 2016, dias depois de ter assumido as rédeas do Reino Unido após a renúncia de David Cameron em razão da aprovação do Brexit.
Embora a estratégia de convocar novas eleições seja arriscada, pesquisas de opinião conduzidas recentemente no Reino Unido mostram que o Partido Conservador, do qual May é parte, conta com uma relativa folga na preferência dos eleitores ante o Partido Trabalhista.
Segundo uma pesquisa do site YouGov, realizada nas primeiras semanas de abril, 42% dos britânicos disseram que votariam nos conservadores se as eleições fossem realizadas naquele momento. Os trabalhistas aparecem em 2º, com 21% da preferência, enquanto os liberais democratas ficaram em 3º, com 11% dos votos, empatando com os eurocéticos do Ukip.
Latest Westminster voting intention (5-6 Apr)
Con - 42%
Lab - 25%
LD - 11%
UKIP - 11%
Oth - 11%https://t.co/LEex43KZnD pic.twitter.com/kGnsK3ygaw— YouGov (@YouGov) April 11, 2017
Em linhas gerais, e por enquanto, não são muitos, uma vez que as chances de os conservadores não vencerem essa eleição são pequenas. O gabinete da primeira-ministra garante que as eleições não irão atrasar em nada as negociações que já estão em andamento
Se May vencer, terá ainda mais força para conduzir o processo da saída do bloco europeu segundo os seus termos. Seu maior rival, o Partido Trabalhista, também já disse que, caso se consagre vencedor nessas eleições, irá seguir com os planos do Brexit.
O único partido que pode trazer alguma mudança de direção, na ocasião da vitória, é o dos liberais democratas, que se opõem firmemente à saída britânica com a UE.
Entretanto, vale lembrar que o país já invocou o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que dá início oficial ao processo de saída da UE, e que a reversibilidade desse divórcio é amplamente debatida por especialistas e permeada por controvérsias.