Theresa May: a primeira-ministra britânica enfrenta dificuldades para aprovar o projeto e manter o seu cargo (Ian Vogler/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de novembro de 2018 às 11h27.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, respondeu nesta sexta-feira a perguntas de ouvintes em uma intervenção incomum na mídia, buscando apoio público para o controverso projeto de acordo sobre o Brexit e sua continuidade no cargo.
Lançando uma campanha pública frenética para defender o texto de 585 páginas que levou 17 meses para acertar com Bruxelas, May, que muitos culpam pela frieza que a distância dos britânicos, optou por uma estratégia arriscada.
Durante meia hora, ela respondeu aos telefonemas que chegaram ao programa matutino do jornalista Nick Ferrari, conhecido por colocar políticos proeminentes em situações comprometidas ao vivo na rádio privada LBC.
"Muitas pessoas que votaram para deixar a União Europeia querem ter certeza de que as decisões são tomadas aqui, no Reino Unido e não em Bruxelas", disse a primeira-ministra.
"Isso é exatamente o que permite o acordo que negociei", assegurou, acrescentando: "a livre circulação de pessoas acabará de uma vez por todas".
Recuperar o controlo das fronteiras, pondo fim ao sistema que permite a todos os cidadãos europeus viver e trabalhar livremente em qualquer país do bloco, foi uma das principais promessas dos defensores do Brexit na campanha pelo referendo de 2016, em que 52 % dos britânicos optaram por deixar a UE.
"O que acontecerá com os residentes no exterior?", perguntou uma mulher que ligou de Alicante, no leste da Espanha, um país onde cerca de 800 mil britânicos vivem, embora nem todos estejam registrados.
"Falei com o governo espanhol e sei como isso é importante", afirmou May.
"Uma das coisas que negociamos (...) foi que os direitos das pessoas de outros países da UE que vivem no Reino Unido estão protegidos. Se não houver acordo, os europeus que vivem aqui, e espero que os outros países da UE façam a mesma coisa, estarão protegidos", afirmou.
A premiê fez estas declarações ao mesmo tempo em que, no parlamento, os deputados pró-Brexit de seu próprio Partido Conservador montaram um plano para tirar a liderança e assumir o controle da negociação com Bruxelas, pois acreditam que May fez concessões demais.
Na véspera, um legislador conservador chegou a pedir um voto de censura.
Para fazer isso, é necessário que pelo menos 48 legisladores da formação de May apresentem pedidos semelhantes. Vinte já fizeram isso publicamente, e muitos podem tê-lo feito em particular, pois circulam rumores que o número necessário pode ter sido alcançado.
A chefe do Governo também está enfrentando a difícil tarefa de encontrar um novo ministro para o Brexit, após a renúncia de Dominic Raab na quinta-feira, dia em que quatro membros do governo igualmente apresentaram suas renúncias por discordar do esboço do acordo validado pelo executivo e que os líderes europeus planejam aprovar em uma cúpula extraordinária em 25 de novembro em Bruxelas.
A União Europeia já se declarou satisfeita com o texto e a chanceler alemã, Angela Merkel, descartou retomar a negociação.
Uma pesquisa publicada na quinta-feira pela Sky Data indica que 54% dos britânicos agora preferem ficar na UE, 32% querem sair sem um acordo e apenas 14% escolheriam um Brexit nos termos negociados por May.