Teste nuclear: "Os dados sísmicos indicam que a explosão está provavelmente abaixo do que se poderia esperar de uma bomba H" (Kim Hong-Ji / Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2016 às 10h48.
O anúncio da Coreia do Norte de que detonou com êxito uma bomba de hidrogênio em miniatura deixou céticos os especialistas, que afirmam que a atividade sísmica registrada após a explosão indica que foi utilizado um artefato muito menos potente.
Nas últimas semanas, o líder norte-coreano Kim Jong-Un havia dado a entender que estava desenvolvendo uma bomba de hidrogênio ou termonuclear, afirmações que os especialistas já receberam com incredulidade.
Segundo Crispin Rovere, um especialista em política nuclear e controle de armamentos baseado na Austrália, o terremoto de uma magnitude de 5,1 detectado nas instalações norte-coreanas de Punggye-ri é muito pequeno para uma bomba como a que Pyongyang anunciou.
"Os dados sísmicos que recebemos indicam que a explosão está provavelmente abaixo do que se poderia esperar do teste de uma bomba H", disse Rovere à AFP.
"Parece como se tivessem realizado com êxito o teste nuclear, mas sem completar a segunda fase, a da explosão de hidrogênio", acrescentou.
O anúncio do teste da bomba de hidrogênio chega dois dias antes do aniversário de Kim Jong-Un. Os analistas acreditam que o líder norte-coreano queria obter uma grande conquista antes do congresso do Partido, o primeiro deste tipo em 35 anos, previsto para o mês de maio.
"Não acredito que tenha sido um teste de bomba de hidrogênio. A explosão deveria ter sido maior se fosse o caso", reagiu Choi Kang, vice-presidente do Instituto Asan de Estudos Políticos de Seul.
As bombas termonucleares usam a fusão de dois núcleos atômicos para gerar uma reação em cadeia e provocar uma explosão muito mais potente que a obtida por fissão.
Risco de radiação
A Coreia do Norte afirma, sem que tenha sido possível comprovar, que dispõe de capacidade para atacar os Estados Unidos, algo que os especialistas acreditam ser muito improvável.
No entanto, o Instituto de Segurança Internacional e Ciência de Washington advertiu em setembro que a Coreia do Norte está construindo novas instalações no complexo nuclear de Yongbyon.
As imagens por satélite sugerem que seriam instalações para separar isótopos capazes de produzir trítio, um componente chave para fabricar bombas termonucleares.
"Se de verdade fosse uma bomba H, os níveis na escala Richter (do terremoto) deveriam ter sido cem vezes mais potentes, chegando a sete ou mais", disse Bruce Bennett, um especialista em defesa da Rand Corporation.
O especialista adverte, no entanto, para o risco de que estas explosões cada vez mais potentes desencadeiem novos terremotos ou radiações, algo que preocupa muito as regiões chinesas fronteiriças com as instalações norte-coreanas.
"Agora (Kim Jong-Un) realizou este teste que muita gente e muitos especialistas do mundo dirão que não funcionou. Será forçado antes de maio (quando o Congresso for celebrado) a fazer outro teste para demonstrar que pode funcionar?", se pergunta Bennett.
Os primeiros dois testes nucleares da Coreia do Norte, em 2006 e 2009, foram realizados com artefatos de plutônio e acredita-se que o terceiro, em 2013, utilizou urânio como material de fissão.
Segundo Seong Chai-Ki, um pesquisador do Instituto Coreano para Análises de Defesa, o teste anunciado nesta quarta-feira é provavelmente um teste de bomba de fissão, a fase prévia à detonação de uma de hidrogênio.
"Ocorreram especulações de que a Coreia do Norte testaria primeiro uma bomba de fissão, antes de realizar diretamente um teste de bomba de hidrogênio", disse Seong à AFP.