Fontes próximas às investigações sobre queda do avião russo no Egito suspeitam da existência de uma bomba na aeronave (Mohamed Abd El Ghany / Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2015 às 11h03.
Fontes próximas às investigações se inclinam com força à tese de atentado para explicar a queda do avião russo há uma semana no Egito, apesar de um ministro do governo do Cairo ter afirmado neste neste sábado que o país não privilegia nenhuma hipótese.
Reino Unido e Estados Unidos priorizam claramente o cenário de uma bomba dentro do A321 da companhia russa Metrojet, que caiu em 31 de outubro poucos minutos depois de decolar de Sharm el-Sheikh com destino a São Petersburgo, provocando a morte das 224 pessoas a bordo.
Uma fonte próxima à investigação declarou à AFP que os dados das caixas-pretas indicam que "tudo transcorre de forma normal, absolutamente normal" até o minuto 24, quando subitamente as caixas deixam de funcionar, um fenômeno que sustenta a hipótese de uma "despressurização explosiva muito súbita". Isto permite "privilegiar fortemente" a hipótese de um atentado com bomba.
"A hipótese de uma explosão originada de uma falha técnica, um incêndio ou outra coisa parece extremamente improvável, já que os aparelhos que gravam teriam apontado algo antes da ruptura e/ou pilotos teriam dito algo", afirmou a fonte. "Um avião não para de transmitir dados tão bruscamente em plena altitude de cruzeiro se não ocorre uma explosão súbita", indicou.
O grupo Estado Islâmico (EI), cujo braço egípcio é muito ativo no norte da península do Sinai, reivindicou a queda do avião, mas sem explicar como teria executado o ataque.
Egito não privilegia hipóteses
Outra fonte próxima às investigações explicou que a análise das caixas-pretas revela o caráter "brutal" e "súbito" do ocorrido. Nas fotos dos destroços do avião, alguns parecem cheios de impactos de dentro para fora da aeronave, "o que tende a dar crédito à tese de um artefato pirotécnico".
Mas o ministro das Relações Exteriores do Egito afirmou neste sábado que o país não privilegia nenhuma hipótese sobre a queda do avião da companhia russa Metrojet no Sinai.
Em uma entrevista coletiva, Sameh Shukry declarou que os dados de inteligência estrangeiros que apontam que o avião explodiu em consequência de uma bomba, e que levou diversos governos a impor restrições nos voos ao Egito, "não foram repassados até o momento aos serviços de segurança egípcios".
A Rússia optou primeiro pela prudência ante a hipótese de um atentado, mas na sexta-feira o presdente Vladimir Putin ordenou a suspensão dos voos das companhias aéreas do país para o Egito.
O presidente egípcio Abdel Fatah al-Sisi e Putin concordaram posteriormente em reforçar a coordenação para garantir a segurança aérea e a retomada dos voos russos o mais rápido possível, informou o governo do Cairo.
Quase 80.000 turistas russos permanecem no Egito, mas o país não organizará uma repatriação de emergência porque os turistas podem retornar à Rússia quando desejarem, afirmou Irina Tiurina, porta-voz do sindicato russo da indústria turística. "Não acontecerá uma retirada", disse, antes de informar que maioria se encontra em Sharm el-Sheikh e em Hurghada.
A Rússia está enviando aviões ao Egito para o transporte dos turistas, mas estes devem retornar apenas de acordo com sua previsão inicial. De acordo com as autoridades russas, muitos viajantes programaram estadias de duas semanas e devem permanecer este período no Egito.
A Rússia informou ainda que os turistas poderão retornar apenas com bagagem de mão. As outras malas retornarão em outros voos.
Ao contrário dos russos, a repatriação começou para os 20.000 turistas britânicos presentes em Sharm el-Sheikh, balneário ao sul da península do Sinai.
Oito voos pousaram no Reino Unido desde sexta-feira. Os turistas retornaram apenas com bagagem de mão e o restante de suas malas será enviado posteriormente.
De acordo com a imprensa britânica, um avião Thomson Airways com 189 turistas a bordo que voava de Londres para Sharm el-Sheikh passou a menos de 300 metros de um míssil em 23 de agosto.
O ministério britânico dos Transportes confirmou ao jornal Daily Mail o "incidente", mas um porta-voz do governo afirmou que o ocorrido foi provocado por exercícios de rotina do exército egípcio e não por um ataque específico.
A imprensa destaca que os pilotos foram obrigados a manobrar pouco antes do pouso para esquivar do projétil e aterrissar com segurança. Os passageiros não foram informados do incidente.
Na sexta-feira, em Washington, a secretaria de Segurança Interna anunciou que por "precaução" solicitou a "alguns" aeroportos do Oriente Médio o reforço das medidas de segurança para os voos com destino aos Estados Unidos.
A tragédia do avião russo pode representar um golpe muito duro ao turismo no Egito, vital para a economia de um país afetado por anos de instabilidade desde a queda do presidente Hosni Mubarak, após uma revolta popular em 2011.