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Terremoto agrava tensões migratórias na Turquia

O terremoto de magnitude 7,8 matou cerca de 40.000 pessoas no sudeste da Turquia e em várias localidades da Síria, devastando uma região que abriga muitas famílias sírias que fugiram de 12 anos de guerra

Terremoto na Turquia: número de mortos ultrapassa os 40 mil (Yasin Akgul/AFP)

Terremoto na Turquia: número de mortos ultrapassa os 40 mil (Yasin Akgul/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 16 de fevereiro de 2023 às 16h38.

Um voluntário turco arrasta um sírio com o rosto ensanguentado e diz que o pegou roubando entre os escombros de um prédio que desabou no terremoto da semana passada. Dezenas de milhares de pessoas morreram na tragédia e as tensões relacionadas à migração aumentaram.

"Estava roubando!", grita o voluntário. A acusação é semelhante a outras feitas nos últimos dias contra migrantes em Antakya e outras cidades turcas devastadas pelo terremoto.

O terremoto de magnitude 7,8 matou cerca de 40.000 pessoas no sudeste da Turquia e em várias localidades da Síria, devastando uma região que abriga muitas famílias sírias que fugiram de 12 anos de guerra.

A Turquia aceitou que quase cinco milhões de pessoas - incluindo cerca de quatro milhões procedentes da Síria - se estabelecessem em seu território para interromper o fluxo de migrantes para a União Europeia em 2015-2016.

Um gesto generoso que atingiu o limite quando a economia da Turquia entrou em colapso e o custo de cuidar dos refugiados se tornou um problema, no final de 2021.

Recentemente, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seus opositores ameaçaram enviar os sírios de volta a seu país, como parte de promessas de campanha antes das eleições marcadas para 14 de maio.

Jornalistas da AFP em áreas fronteiriças com a Síria testemunharam vários episódios de tensões entre moradores e migrantes.

"Enquanto os turcos estão tentando salvar vidas, os sírios estão procurando por dinheiro, ouro", disse Baki Evren, de 43 anos, caminhando entre prédios desabados em Islahiye, um distrito na província de Gaziantep onde vivem muitos migrantes.

"Estamos frustrados, naturalmente", acrescentou.

Modelo de tolerância

Fatma Shoud, refugiada síria de 42 anos, com um bebê, enquanto responde às perguntas de um jornalista, em 15 de fevereiro de 2023, em um acampamento montado no distrito de Islahiye, em Gaziantep, na Turquia

O terremoto derrubou milhares de prédios e deixou os pertences das pessoas à vista de todos, no meio da rua.

A Turquia decretou estado de emergência na área afetada, permitindo a intervenção do Exército e da polícia para tomar medidas extraordinárias de segurança.

Mas os recursos são escassos e os nervos estão à flor da pele em lugares como Antakya, que já foi berço de diferentes civilizações e modelo de tolerância cultural e religiosa na Turquia.

Minutos depois de voluntários turcos levarem embora o sírio ferido, um homem com um colete se aproximou de outro migrante que carregava uma sacola plástica cheia até a metade.

Quando uma pequena multidão começou a acusar o homem de roubo, uma jovem turca se adiantou para defendê-lo. "Ele é meu empregado", declarou a mulher. "Ele tem permissão para juntar minhas coisas", disse ele.

Um membro das forças de segurança confirmou a versão da mulher.

Ahmad Salami, um sírio de 31 anos e pai de cinco filhos, disse que passou os primeiros dias após o terremoto tentando salvar vidas, não roubando.

"Tirei 20 pessoas dos escombros, onze turcos e nove sírios, no primeiro dia. Não fui lá para roubar nada", explicou.

Wadda, um pedreiro turco de 35 anos de Antakya, que só quis dar seu primeiro nome, admitiu que a raiva contra os sírios é infundada.

"Os primeiros a saquear as lojas foram os turcos. Mas ninguém fala isso", acrescentou.

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