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Tensões entre potências elevam corrida global por armas nucleares, aponta agência

Relações internacionais deterioradas aumentam pressão sobre o regime de não proliferação nuclear, enquanto países debatem abertamente o desenvolvimento de armas atômicas

Protesto contra armas nucleares em Peer, na Bélgica, em frente à base nuclear de Kleine-Brogel (agosto de 2006) (YORICK JANSENS/AFP/Getty Images)

Protesto contra armas nucleares em Peer, na Bélgica, em frente à base nuclear de Kleine-Brogel (agosto de 2006) (YORICK JANSENS/AFP/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 26 de agosto de 2024 às 13h08.

O regime de não proliferação nuclear global enfrenta sua maior pressão desde o fim da Guerra Fria, com países de relevância internacional considerando publicamente o desenvolvimento de armas nucleares, segundo alertas do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, em entrevista para o Financial Times. Ele destacou que as tensões entre potências como Estados Unidos, Rússia e China, somadas aos conflitos no Oriente Médio, estão sobrecarregando o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1968, que visa limitar a disseminação de armas atômicas no mundo.

A invasão russa em larga escala na Ucrânia destacou o poder dissuasivo das armas nucleares, contribuindo para um renovado interesse de certos países em desenvolver suas próprias capacidades atômicas. Além disso, fatores como alianças fragilizadas e a necessidade de autopreservação nacional têm reacendido a atração pelas armas nucleares em um contexto inesperado. Embora Grossi não tenha citado especificamente quais países estão considerando essas opções, o ambiente de competição geopolítica intensificada entre grandes potências cria um cenário propício para essa expansão.

A situação é agravada pela percepção de que as grandes potências, ocupadas em rivalizar entre si, estão relaxando o foco na prevenção da proliferação nuclear. Desde que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abandonou unilateralmente o acordo nuclear de 2015, o Irã expandiu agressivamente seu programa nuclear, enriquecendo urânio a 60% de pureza, próximo ao nível necessário para armas nucleares. Especialistas indicam que o Irã possui material físsil suficiente para produzir até três bombas nucleares em poucas semanas, caso opte por isso, embora a militarização desse material levaria mais tempo. O Irã insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos, mas, com as crescentes hostilidades regionais desencadeadas pela guerra entre Israel e Hamas, autoridades iranianas sugeriram que podem reconsiderar sua postura.

Ameaças pelo mundo

A contínua presença de inspetores da AIEA no Irã não revelou evidências de que o país esteja desenvolvendo ou avançando em um programa de armas nucleares. O novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, declarou interesse em melhorar as relações com o Ocidente e negociar um acordo para encerrar o impasse nuclear. No entanto, caso o Irã avance para o desenvolvimento de armas nucleares, isso poderia desencadear uma corrida armamentista no Oriente Médio, com a Arábia Saudita indicando que também buscará uma bomba se o Irã o fizer.

O cenário global é ainda mais complexo, com o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, sugerindo que um programa de armas nucleares pode ser necessário para contrabalançar a ameaça da Coreia do Norte. Em resposta às crescentes tensões, a liderança da União Europeia tem pressionado por um aumento das capacidades de dissuasão, especialmente contra a Rússia, enquanto a incerteza sobre o futuro das garantias de segurança dos EUA na Europa e na Ásia alimenta temores de proliferação nuclear.

Lukasz Kulesa, diretor de proliferação e política nuclear no Royal United Services Institute (Rusi), afirma, ao Financial Times, que as discussões sobre armas nucleares são em parte impulsionadas pela ansiedade em relação ao resultado das eleições nos Estados Unidos, especialmente diante da possibilidade de uma nova presidência de Trump, que poderia abalar as garantias de segurança dos EUA. No entanto, ele acredita que o núcleo do TNP permanece sólido, com a maioria das nações ainda comprometida em manter o regime de não proliferação e trabalhar em seus pilares.

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