Tensão: países como a Rússia e a China expressara, preocupação com a troca de "ameaças" entre os dois (Kevin Lamarque, KCNA/Handout/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de setembro de 2017 às 13h11.
A escalada verbal entre Donald Trump e Kim Jong-Un atingiu um novo nível nesta sexta-feira, com o presidente americano chamando o líder norte-coreano de "louco" após este último anunciar um possível teste da bomba H no Pacífico.
"Kim Jong Un, da Coreia do Norte, que é obviamente um louco que não se importa de matar seu povo de fome e assassiná-lo, será colocado à prova como jamais foi!" afirmou Trump no Twitter.
Na quinta-feira, Washington anunciou o reforço das sanções contra Pyongyang em resposta ao seu programa nuclear e de mísseis balísticos.
Mais cedo nesta sexta, Kim Jong-Un disse que Trump tem um "transtorno mental", e advertiu que "pagará caro" pelas ameaças feitas contra seu país na ONU.
Trump "insultou a mim e ao meu país, sob os olhos do mundo inteiro, e fez a mais feroz declaração de guerra da história, declarou, segundo a agência oficial de notícias norte-coreana KCNA.
"Vou disciplinar pelo fogo o americano mentalmente perturbado", acrescentou, dois dias depois que, em seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, Trump disse que se os Estados Unidos "forem forçados a se defender ou a seus aliados, não haverá outro remédio que destruir totalmente a Coreia do Norte".
A nota divulgada pela KCNA foi acompanhada por uma foto de Kim Jong-Un segurando uma folha de papel.
O Kremlin expressou sua preocupação com esta troca de "ameaças" entre os dois homens e "a escalada das tensões". Do mesmo modo, a China alertou que a situação na península coreana é "complicada e sensível" e pediu moderação nos dois lados.
À margem da Assembleia Geral da ONU em Nova York, o ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Ri Yong-ho, disse a repórteres que Pyongyang pode agora considerar a detonação de uma bomba de hidrogênio fora do seu território.
"Acredito que poderia haver um teste de bomba H em um nível sem precedentes, talvez sobre o Pacífico", afirmou. "Cabe ao nosso líder decidir, então eu não seu bem", acrescentou.
As declarações inflamatórias do líder norte-coreano vieram logo depois que Donald Trump anunciou que havia assinado uma ordem executiva para proibir as empresas de operarem nos Estados Unidos se trabalhassem com a Coreia do Norte ao mesmo tempo.
Trata-se da última de uma série de medidas para tentar forçar a Coreia do Norte a abandonar seus programas nuclear e balístico, que aceleraram nos últimos meses.
Depois de lançar dois mísseis intercontinentais em julho, a Coreia do Norte realizou um sexto teste nuclear em 3 de setembro, afirmando ter testado uma bomba H que poderia ser montada em um míssil.
Por esta razão, o Conselho de Segurança da ONU votou um oitavo pacote de sanções contra Pyongyang.
No entanto, alguns especialistas alertam contra a aparente ineficácia dessas medidas de retaliação e os riscos da crescente violência do discurso americano e norte-coreano.
"Há algumas coisas muito perigosas que poderiam resultar disso tudo. É hora de se desviar desse caminho, em vez de contribuir para torná-los inevitável", aponta John Delury, da Universidade Yonsei, em Seul.
Ele acrescentou que o discurso de Kim, que raramente fala na primeira pessoa, talvez também fosse dirigido aos norte-coreanos.
Divulgada nesta sexta-feira pelos jornais da Coreia do Norte, a declaração também foi lida na televisão pela apresentadora em frente a uma imagem fixa de Kim em seu escritório.
Esta sequência, em loop, também incluiu imagens de um míssil gigante em um campo de tiro e soldados norte-coreanos irritados brandindo seus punhos e armas.
"Tenho certeza que todo o mundo vai apoiar nosso querido chefe e proteger nosso país", disse Ri Yong Suk, uma norte-coreana entrevistada pela AFP em Pyongyang e que havia lido a declaração de Kim Jong-Un em um jornal.
Apesar da aprovação unânime das sanções contra a Coreia do Norte, as principais potências permanecem divididas sobre como acabar com a crise.
No plenário da Assembleia Geral da ONU, o chanceler chinês Wang Yi disse que a "negociação" era "a única solução" e convocou todos os atores, americanos e norte-coreanos, "a se reunir".
Mais diretamente, seu colega russo Sergei Lavrov criticou as ameaças marciais americanas bem como "aventureirismo de Pyongyang". "A histeria militar leva não só ao impasse, mas também à catástrofe", advertiu.