Exercícios militares do Irã no Estreito de Ormuz elevaram a tensão na comunidade internacional (Ebrahim Noroozi/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de janeiro de 2012 às 17h20.
Londres - O clima de tensão em torno do Estreito de Ormuz faz reviver o nervosismo no mercado de petróleo, uma vez que toda a perturbação nesta via estratégica pode fazer disparar os preços do barril, mesmo se os analistas considerem pouco provável o cenário catastrófico de um bloqueio do estreito, pelo Irã.
Suspeito pelas potências ocidentais de desenvolver um programa nuclear militar, e com seu petróleo visado por um embargo da União Europeia, Teerã responde ameaçando fechar o estreito de Ormuz e, para demonstrar sua determinação, multiplica manobras militares e tiros de mísseis.
Por sua vez, os Estados Unidos afirmaram domingo que não hesitariam em responder com a força, se o Irã transpusesse a "linha vermelha".
Por este corredor de 50 quilômetros de largura, transitam o equivalente a cerca de 17 milhões de barris de petróleo bruto por dia, provenientes dos países do Golfo, do Iraque e do Irã - ou seja 35% do tráfego marítimo do óleo e cerca de 20% da produção mundial.
"Qualquer perturbação que exista neste ponto crucial de passagem terá, forçosamente, repercussões maiores sobre o mercado no mundo, e isso fará pular os preços", destacou Helen Hunton, analista da Standard Chartered.
"Os transportes alternativos através de oleodutos existem, mas não são suficientes para compensar o volume de petróleo bloqueado por um fechamento do estreito. Além disso, se o encaminhamento for feito apenas pelos oleodutos, isto encareceria claramente os custos, além de acarretar atrasos na entrega", acrescentou ela.
Assim, os Emirados Árabes Unidos anunciaram nesta segunda-feira que um oleoduto contornando o estreito de Ormuz entrará em operação até o mês de junho, mas sua capacidade será limitada a cerca de 1,5 milhão de barris por dia.
"Em caso de fechamento, o tráfego seria provavelmente restabelecido (pelos americanos) em um mês, e o impacto sobre a oferta mundial estaria, então, limitada; os barris em falta estariam simplesmente em atraso, não perdidos. Mas os preços poderiam, no entanto, disparar de forma incontrolável" ante a loucura dos operadores, observou o escritório vienense JBC Energy.
"Os mercados aceitam a ideia de que é improvável um bloqueio do estreito, tendo em vista as consequências econômicas e geopolíticas para o próprio Irã", comentou Helen Hunton.
"As probabilidades de um bloqueio do estreito pelo Irã são fracas. É duvidoso que Teerã vá até o confronto militar" com a V frota americana sediada em Bahrein, confirmou à AFP Harry Tchillinguirian, analista da BNP Paribas.
"O Irã, também, não assumirá o risco de se afastar de seus parceiros comerciais e aliados tradicionais na Ásia, como a China, que veriam seu abastecimento seriamente comprometido, no caso de fechamento de Ormuz", explicou Tchillinguirian.
Mais de 85% das quantidades de petróleo que passam pelo estreito são destinados à Ásia - com China, Índia, Japão e Coreia do Sul na cabeça.
Além disso, "o Irã veria sua economia, muito dependente do setor, afundar literalmente", destacam os especialistas do Barclays Capital, considerando que "as sanções ocidentais podem levar Teerã a realizar operações imprevisíveis" antes das eleições legislativas previstas para março no país.
Segundo eles, as forças iranianas poderiam também decidir parar alguns navios que passassem pelo estreito, revistando-os de ponta a ponta, "com o risco de agravar a crise", mas sem chegar, forçosamente, a um bloqueio completo.