Refugiados: a polícia macedônia respondeu disparando gás lacrimogêneo para afastar os migrantes e impedi-los de entrar em seu território (Alexandros Avramidis / Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de fevereiro de 2016 às 17h50.
Última atualização em 15 de junho de 2018 às 18h53.
A tensão na fronteira greco-macedônia aumentou nesta segunda-feira após a polícia macedônia utilizar gás lacrimogêneo contra centenas de migrantes que tentavam forçar a cerca fronteiriça para protestar contra o fechamento das fronteiras, uma questão que divide a União Europeia.
Mais de 7.000 migrantes e refugiados permaneciam retidos nesta segunda no posto grego de Idomeni após as restrições impostas por vários países, incluindo Macedônia, sobre o número de pessoas autorizadas a entrar em seus territórios.
Enquanto que, no domingo, a Macedônia deixou quase nenhum migrante atravessar, ao amanhecer desta segunda 300 iraquianos e sírios puderam finalmente entrar no país.
Ao meio-dia, outro grupo de 300 iraquianos e sírios, incluindo mulheres e crianças, forçou um cordão policial grego e derrubou parte da cerca de arame farpado que marca a fronteira com a Macedônia.
A polícia macedônia respondeu disparando gás lacrimogêneo para afastar os migrantes e impedi-los de entrar em seu território.
Segundo a ONG Médicos do Mundo (MDM), "pelo menos 30 pessoas precisaram de atendimento médico, incluindo muitas crianças". De acordo com MDM, o atual número de migrantes em Idomeni é quatro vezes maior do que a capacidade dos dois campos, instalados perto da passagem de fronteira, e muitas pessoas têm que dormir nos campos.
Abdaljalil, um sírio de 22 anos de idade de Aleppo, diz estar desesperado: "Ninguém nos explica por que não podemos atravessar. A situação é muito difícil aqui, não há espaço nem comida (...) e eu não posso retornar para Aleppo".
A Macedônia é o primeiro país na rota dos Bálcãs, utilizada por migrantes que chegam nas ilhas gregas a partir da costa turca e que desejam chegar aos países da Europa do Norte e Central.
Plano de emergência
Depois da Áustria, o primeiro país a adotar um sistema de cotas, a Croácia e a Eslovênia, membros da UE, bem como a Macedônia e a Sérvia, decidiram na semana passada limitar o número de migrantes admitidos no seu território, provocando protestos em Atenas.
A Grécia alertou que entre 50.000 e 70.000 pessoas poderiam se ver bloqueadas no país em março, contra 22.000 atualmente.
E o presidente macedônio advertiu que a rota dos Balcãs seria totalmente fechada quando "a Áustria atingir seu teto" de requerentes de asilo, fixado em 37.500 este ano.
O número já chega a "12.000 atualmente" e o fluxo avança, mesmo que lentamente, segundo o ministério austríaco do Interior.
A União Europeia não pode deixar a Grécia "afundar no caos" frente ao fluxo migratório, insistiu no domingo a chanceler alemã Angela Merkel, que criticou a decisão unilateral da Áustria.
A Áustria "não deve receber lição de ninguém", respondeu a ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner, lembrando que foi a Alemanha que, sem anunciá-lo, começou em dezembro a filtrar os migrantes na sua fronteira com a Áustria.
Enquanto que as dissensões aumentam no seio da UE, Mina Andreeva, porta-voz da Comissão Europeia, disse nesta segunda-feira que "um plano de contingência estava sendo desenvolvido para ajudar a Grécia" e outros países da Europa ocidental, "a fim de evitar uma possível crise humanitária".
A UE "utiliza todos os instrumentos disponíveis para reforçar as capacidades de recepção, transferência e gestão do problema nas fronteira", assegurou.
Em Atenas, uma reunião foi realizada esta segunda entre o ministério do Interior e a União dos municípios do país (Kede) para gerir o problema das estruturas de acolhimento.
Além dos centros de triagem e registro (hotspots) instalados nas ilhas gregas, dois campos de acolhimento foram recentemente abertos na Grécia continental, com uma capacidade de 2.000 pessoas cada atualmente.
Ex-sedes olímpicas em Hellinikon, subúrbio a sul de Atenas, também foram disponibilizadas aos migrantes.
Na França, as autoridades começaram nesta segunda-feira a desmantelar uma parte do maior campo de migrantes do país, a "selva" de Calais (norte), que conta com entre 3.700 e 7.000 pessoas, de acordo com diferentes fontes.
A evacuação da zona sul do acampamento, contestada por migrantes e associações, foi autorizada na quinta-feira pela justiça administrativa, levando ao restabelecimento pela vizinha Bélgica do controle na fronteira, e já "devolveu" 619 migrantes à França.
Os migrantes da "selva" deverão ser transferidos para abrigos em Calais ou em outras partes na França.