Chuvas: mais de 2.500 pessoas desalojadas ou desabrigadas estão sendo mantidas em 20 abrigos de emergência na Argentina. (AFP/La Plata)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2013 às 20h31.
Chuvas torrenciais registradas na terça-feira e nesta quarta deixaram pelo menos 54 mortos na Argentina, dos quais 46 faleceram na cidade de La Plata (63 km ao sul de Buenos Aires), onde a intensidade das precipitações não tem precedentes.
"Lamentavelmente, o número de mortos subiu de 35 para 46", disse o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, durante uma entrevista coletiva à imprensa em La Plata, sede do governo.
Outras seis pessoas faleceram em consequência das chuvas torrenciais na capital, Buenos Aires, e outras duas, em sua periferia.
Scioli alertou que o número de mortos pode aumentar em La Plata, cidade de cerca de 900.000 habitantes.
Mais de 2.500 pessoas desalojadas ou desabrigadas estão sendo mantidas em 20 abrigos de emergência.
A presidente Cristina Kirchner visitou La Plata na tarde desta quarta-feira para se informar a respeito da grave situação humanitária em bairros que estão alagados.
Kirchner foi de helicóptero à localidade vizinha de Tolosa, onde passou sua infância e agora vive sua mãe Ofelia Wilhelm.
Depois de a mandatária ter expressado sua preocupação com a questão da segurança ao chegar à noite nos bairros inundados, Scioli explicou que foi organizada uma operação especial "com mais de 400 policiais", que inclusive se posicionarão em zonas de difícil acesso para evitar saques.
"A maior preocupação das pessoas agora é a segurança à noite", disse Cristina aos jornalistas durante sua visita às áreas mais afetadas.
Em La Plata foram registrados 400 milímetros de água em duas horas, uma marca história, o que fez com que milhares de pessoas ficassem isoladas, sem luz ou telefone, enquanto as ruas da cidade, de 900 mil habitantes, se transformassem em rios, constatou a AFP.
Devido à situação crítica, as autoridades resolveram decretar feriado nos estabelecimentos públicos e educacionais de La Plata, uma cidade industrial e comercial que abriga uma universidade estatal frequentada por diversos alunos de outros países latino-americanos.
Scioli descreveu que, diante do aumento do nível das águas, que em alguns casos chegou a dois metros, "as pessoas se refugiavam em telhados e árvores, mas muitas não chegaram a tempo".
"Esta é a primeira vez que isso acontece: há 40 anos vivo aqui e não se pode jogar a culpa em ninguém. Tenho três famílias vivendo encima (de uma casa modesta), dois velhinhos, três crianças, e uma delas é deficiente física; são vizinhos que resgatamos. Havia dois metros de água no pior momento", disse à AFP Maximiliano Miceli, de 34 anos, enquanto limpava seu carro cheio de água no bairro de Tolosa, vizinho de La Plata.
"Por sorte os potes com leite estavam fechados, porque hoje pude dar o café da manhã ao meu filho, mas não restou nada de comida, perdemos tudo", disse à AFP Fernando Chatte, de 57 anos.
O governo federal mobilizou o Exército e as forças de segurança para tentar resgatar centenas de pessoas que ficaram presas em suas casas em La Plata, onde em algumas zonas centrais havia alagamentos de até 1,60 metro.
"Isto que aconteceu em La Plata nunca tinha acontecido antes. Meia cidade está sem luz. Pessoas estão em telhados, em árvores, e esperam que possamos ir buscá-las", disse o vice-ministro argentino da Segurança, Sergio Berni.
Em Tolosa, cerca de 50 carros com passageiros dentro estão isolados em uma zona inundada desde terça-feira.
"Chegamos ontem (terça) às três da tarde, ficamos aqui isolados, não nos deixaram avançar. Não há maneira de sair, temos carros por todos os lados", explicou Vanesa Silletti, em declarações à rádio Vorterix. Ela está em seu carro com um bebê de dez meses.
"Estamos sem bateria, sem luz, sem nada. Dou de mamá ao bebê, mais nada. Não tenho nada, estamos aqui dentro sem poder nos mover, sem poder fazer nada", disse a mulher, desesperada.
Devido ao temporal, na capital e em sua povoada periferia, assim como em La Plata, "cerca de 280 mil pessoas estão sem luz", disse o ministro do Planejamento, Julio de Vido, afirmando: "Vamos esperar que os transformadores sequem para garantir a segurança dos trabalhadores, porque não queremos ter mais mortos".
O prefeito da capital, Mauricio Macri, afirmou nesta quarta-feira que "as inundações vieram para ficar e não vão embora, (porque) estas chuvas violentas estão se repetindo como resultado das mudanças climáticas".