Brexit: a 1ª pesquisa divulgada depois da brutal morte da deputada trabalhista mostra a opção favorável à permanência com 45% dos votos (Neil Hall / Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2016 às 14h44.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediu nesta segunda-feira aos membros do Parlamento a "se unirem contra o ódio que matou" a deputada trabalhista Jo Cox, durante uma homenagem solene, a três dias do referendo sobre a permanência do país na UE.
"Vamos honrar a memória de Jo provando que a democracia e a liberdade pelas quais ela lutava são inabaláveis, continuando a lutar pelos nossos cidadãos e unidos contra o ódio que a matou", disse Cameron perante o Parlamento reunido em sessão especial.
O líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, com uma rosa branca na lapela como todos os deputados, pediu que a vida política seja "mais gentil".
"Todos nós temos a responsabilidade de não incitar ao ódio ou semear a divisão", argumentou, enquanto que o marido de Jo Cox e seus dois filhos de 3 e 5 anos estavam na Câmara dos Comuns.
Jo Cox, comprometida na campanha pela permanência na UE, foi morta na quinta-feira em Birstall, no norte da Inglaterra, a tiros e facadas. Seu assassino compareceu no sábado ante o tribunal e declarou: "Morte aos traidores, liberdade para o Reino Unido."
O assassinato parece marcar um ponto de inflexão na campanha, provocando uma mudança no tom beligerante.
Nesta segunda-feira, o líder do partido antieuropeu UKIP, Nigel Farage, denunciou que os partidários da UE estão tentando vincular a morte de Cox à campanha.
"Acredito que há partidários da permanência na UE que estão tentando dar a impressão de que este horroroso incidente isolado está relacionado de algum modo com os argumentos feitos durante a campanha por mim ou Michael Gove, e isto é ruim", disse Farage à rádio LBC, um dia depois de admitir que o assassinato de Cox freou o avanço do Brexit.
"Quando se utilizam da insegurança, medo e ira como armas, a explosão é inevitável", reagiu o deputado trabalhista Neil Kinnock sobre o cartaz de Farage apresentando uma fila de refugiados como uma ameaça ao Reino Unido.
A escritora britânica J.K. Rowling também utilizou o cartaz polêmico para pedir o voto a favor da UE, argumentando: "Não sou uma especialista em quase nada, mas sei como se cria um monstro".
Sayeeda Warsi, que foi presidente do Partido Conservador, anunciou nesta segunda-feira que mudou de opinião e votará a favor da permanência na UE, cansada do que chamou de "mentiras e xenofobia" da campanha Brexit.
Ela afirmou que o que provocou sua decisão foi o cartaz de Farage que apresenta uma caravana de refugiados como uma ameaça para o Reino Unido.
A primeira pesquisa divulgada depois da brutal morte da deputada trabalhista e pró-UE, defensora dos refugiados e dos imigrantes, mostra a opção favorável à permanência com 45% das intenções de voto, contra 42% para os defensores da saída.
A pesquisa do instituto Survation foi realizada na sexta-feira e sábado. O assassinato de Cox aconteceu na quinta-feira.
A média das últimas seis pesquisas elaborada pelo instituto de opinião What UK Thinks mostra um empate, com 50% para os dois lados, sem levar em consideração os indecisos.
Novas pesquisas devem ser divulgadas nas próximas horas, para confirmar ou desmentir a mudança de tendência.
Dez prêmios Nobel contra o Brexit
Os mercados, no entanto, já antecipam a vitória da permanência desde sexta-feira, um dia após a morte de Cox.
As Bolsas europeias operavam em alta, com destaque para Londres (acima de 3%), e a libra também registrava uma forte valorização, se recuperando das perdas registradas na semana passada.
Dez vencedores do prêmio Nobel de Economia advertiram sobre as consequências negativas e duradouras que seriam provocadas, no seu entender, por uma saída do Reino Unido da UE.
"Acreditamos que o Reino Unido está economicamente melhor dentro da UE", afirma o texto publicado no jornal britânico The Guardian pelos vencedores do Nobel entre o início dos anos 1970 e 2015.
"As empresas e os trabalhadores britânicos precisam de pleno acesso ao mercado único. Além disso, a saída criaria grande incerteza ao redor dos futuros acordos comerciais alternativos do Reino Unido, tanto com o restante da Europa como com mercados importantes como os dos Estados Unidos, Canadá e China".
"E estes efeitos perdurariam por muitos anos", completa o texto.
"Em consequência, o debate econômico se inclina claramente a favor de seguir na UE", concluem os especialistas.
O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, George Osborne, elogiou a carta.
"Sem precedentes, 10 economistas prêmios Nobel avisam sobre os danos a longo prazo da saída da UE. É hora de ouvir os especialistas", escreveu no Twitter.