Campanha contra suicídio: apesar do número total ser pequeno comparado ao número de homens que tiram suas próprias vidas, o aumento tem causado muito preocupação (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2016 às 18h37.
As taxas de suicídio entre mulheres aumentaram quase 10% no último ano.
Em 2014, houve 831 casos de suicídio feminino no Reino Unido. Esse número cresceu para 902 mortes em 2015.
Essas são 71 mães, filhas, irmãs e avós a mais que morreram em um período de 12 meses.
Embora o número possa parecer pequeno em comparação com o número de homens que tiraram suas vidas – um chocante número de 2.997 indivíduos, menos que os 3.020 em 2014 – o fato de estar aumentando é um enorme motivo de preocupação.
Especialistas enfatizaram que precisamos ter “cuidado” ao tirar conclusões “cedo demais” desses números divulgados pelo Ministério da Justiça.
Sabemos que as taxas de suicídio entre as mulheres aumentaram durante o ano, mas um insight mais profundo, até mesmo sobre a idade das mulheres, ainda não está disponível.
"A preocupação é que esse possível aumento pode ocorrer devido a taxas crescentes entre mulheres jovens e mulheres de meia-idade, com mais de 50 anos”, disse o Professor Louis Appleby no Centro de Saúde Mental e Segurança, da Manchester University.
Se elas tinham 50 anos ou mais, isso poderia sugerir que as mulheres estão se unindo aos homens entre os mais vulneráveis durante a meia-idade.
“Se são mulheres jovens, isso se encaixa com uma preocupação sobre o comportamento suicida e a saúde mental no geral em jovens no momento”.
Papyrus, uma organização de caridade que foca na prevenção de suicídio entre jovens, descobriu que as questões de baixa autoestima, assim como o abuso emocional e físico, são frequentes entre mulheres jovens suicidas.
Na Inglaterra, as mulheres são mais propensas do que os homens a terem problemas de saúde mental comuns e são quase duas vezes mais propensas a serem diagnosticadas com distúrbios de ansiedade.
“As taxas de suicídio sempre foram altas em homens”, disse o consultor psiquiátrico do Priory, o Dr Paul McLaren, ao The Huffington Post UK.
“Tentativas de suicídio e pensamento relacionado ao suicídio têm sido geralmente mais altos em mulheres”.
Alexandra Sheach, 42, tentou se suicidar e teve pensamentos suicidas. Ela acredita que mais pode ser feito pelas autoridades de saúde para ajudá-la durante seus piores momentos.
Sheach, diagnosticada com Síndrome de Borderline (Distúrbio de Personalidade Limítrofe) em 2002, explicou em um blog como ela chegou ao ápice da crise uma noite de outubro.
Depois de ser admitida no hospital e feitos os curativos em suas feridas, no dia seguinte, após a visita de uma enfermeira da área de doenças mentais, ela recebeu alta – apesar de dizer para a funcionária que ela “não se sentiria segura sozinha”.
Uma semana mais tarde ela viu um psiquiatra e recebeu um material de leitura que poderia ajudá-la. Mas pensando bem, ela disse que isso não era suficiente.
Ela disse que foi o seu estado civil e a constatação que ela já tinha mais de 40 e “nenhuma esperança para os próximos 40 anos” que contribuíram para sua decisão de atentar contra a própria vida.
Então, daqui para frente, como podemos prevenir que se percam mais vidas?
Os especialistas criticaram a falta de serviços do Sistema Nacional de Saúde, (NHS nas siglas em inglês) dedicados aos problemas mentais.
Geoff Heyes, gerente de políticas e campanhas na instituição de caridade Mind, disse ao HuffPost UK: “um terço dos suicídios são entre pessoas que conhecem os serviços de saúde mental do NHS e é fundamental que quando busquem ajuda, elas recebam todo o suporte que precisam.
“Os serviços de doenças mentais do NHS estão sob enorme pressão no momento pois cortes de financiamento nos últimos anos vieram em uma época de maior demanda.
“Como resultado, muitas pessoas não estão recebendo o apoio certo na hora certa e, por consequência, elas têm ficado mal e chegado a esse ponto de crise”.
E continuou: “Sabemos que os suicídios entre pessoas que entraram em contato com as equipes de crise aumentaram, assim como os suicídios entre pessoas enviadas para as áreas de cuidado local, com frequência por falta de camas.
“É inaceitável que o próprio serviço ali para ajudar as pessoas em crise não esteja disponível para apoiar pessoas de forma certa e ajudá-los a se recuperarem”.
Em resposta aos comentários de Heyes, um porta-voz para o NHS da Inglaterra disse que eles estão procurando melhorar os serviços para tratamento de doenças mentais, investindo mais dinheiro.
“A doença mental até bem recentemente era uma das piores, mas a boa notícia é que agora estamos vendo uma reviravolta, com investimento em saúde mental aumentando de forma marcante e mais rápido do que no passado - e em porcentagem muito maior do que a de outros serviços”, disse o porta-voz.
“De fato, os Grupos Clínicos Comissionados (CCGs, na sigla em inglês) locais reportaram já a metade no último ano fiscal em relação ao financiamento geral que subiu um 3,7%. Eles estão aumentando o gasto em saúde mental em 5,4% - uma mudança decisiva a favor de dignidade equiparável.
“E ainda, o NHS, pela primeira vez em 25 anos agora está apresentando tempo de espera padrões e claros para tratamentos de doenças mentais”.
Além do NHS, existem também linhas de ajuda e organizações disponíveis no Reino Unido dedicadas a ajudar as pessoas suicidas.
“The Samaritans (Os Samaritanos) oferecem um serviço verdadeiramente valioso”, disse Dr McLaren do Priory. “Sentir-se ouvido é realmente importante quando estamos lutando com o desespero”.
Para aqueles que acreditam que seus pensamentos suicidas possam ser alimentados por um problema de saúde mental, o Dr McLaren também estressa a importância de buscar ajuda profissional.
“Se você sofre com depressão, então por favor busque tratamento porque pode ser muito efetivo”, disse. “Você provavelmente verá o futuro de outra forma quando fizer isso”.
Heyes, do Mind, acrescentou que as campanhas de doenças mentais e grupos de apoio online podem ajudar as pessoas a se sentirem menos isoladas. “Frequentemente as pessoas sofrem em silêncio e consideram que é difícil buscar ajuda”, disse.
“De forma geral, estamos melhorando já que falamos sobre saúde mental e campanhas como a Time to Change (Hora de Mudar, em tradução livre) e Rethink Mental Illness (Repense as Doenças Mentais) estão ajudando a quebrar o estigma ao falar sobre.
“Se falamos abertamente sobre o suicídio, nós podemos incentivar as pessoas a buscarem ajuda antes e a terem apoio prático e emocional para ajudá-las a lidar melhor com isso”.
A fundação Mental Health Foundation ecoa esse sentimento e escolheu focar no tema de relacionamentos por meio da Semana de Conscientização de Doenças Mentais. .
Depois de ter alta, após sua tentativa de suicídio, Sheach decidiu estar próximo da sua família.
Ela disse que ter um centro de acolhimento, onde ela pode relaxar e ter acesso aos médicos facilmente, seria benéfico – especialmente quando os serviços de saúde mental na Shetland Island, onde mora, são limitados.
“Eu acho que às vezes apenas precisamos estar cercadas de pessoas e não analisar tudo – apenas precisamos saber que estamos seguros e que não estamos sozinhos. Ajuda muito saber que existem pessoas próximas, mesmo que elas não estejam dizendo nada”.
Ter e saber que há alguém ali para você, que se importa com seu bem-estar, cumpre um papel importante na prevenção do suicídio.
Heyes, do Mind, disse: “Umas das coisas mais importantes que você pode fazer é falar com eles sobre como se sentem e estar ali para ouvi-los.
“Você pode até sentir a pressão de dizer a coisa certa’, mas apenas estar ali e ouvir com compaixão é fundamental para ajudar alguém a se sentir menos isolado e assustado”.
Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 141, para o CVV - Centro de Valorização da Vida. O atendimento é gratuito. No exterior, consulte o site da Associação Internacional para Prevenção do Suicídio para acessar uma base de dados com redes de apoio disponíveis.