Rua popular de Taipei, Taiwan - 23 de fevereiro de 2020 (Alberto Buzzola/LightRocket/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 13 de março de 2020 às 06h01.
Última atualização em 15 de março de 2020 às 21h02.
São Paulo – Tinha tudo para dar errado. Com 850.000 cidadãos de Taiwan trabalhando na China, e visitando com alguma frequência os parentes na terra natal, a ilha de 23,7 milhões de habitantes localizada a 130 quilômetros do litoral chinês poderia ter se transformado em um dos maiores focos da explosão do coronavírus. Mas não foi isso que aconteceu. Com apenas 47 casos confirmados e somente um morto, um dos índices mais baixos entre os 127 países que estão sofrendo com o coronavírus, Tawain vem dando lições sobre como controlar a propagação da doença.
No dia 31 de dezembro, quando a China notificou a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre os casos de pneumonia causados pelo novo vírus, Tawain imediatamente começou a monitorar passageiros vindos da província chinesa de Wuhan, o epicentro mundial da epidemia. A agilidade de resposta do governo de Tawain em relação à doença foi surpreendente – e agora serve de alerta aos outros países.
Os maiores infectologistas da ilha embarcaram prontamente para Pequim no dia 1º de janeiro. O objetivo era entender o comportamento do vírus e seu grau de letalidade. A equipe de médicos não foi lá muito bem recebida, em função das estremecidas relações entre Tawain e a China. O governo de Tawain, capitaneado pela presidente Tsai Ing-wen, que obteve um segundo mandato em janeiro deste ano, pleiteia a independência da China. Os dois territórios são governados separadamente desde 1949, mas o governo chinês considera Tawain como uma espécie de província.
De qualquer forma, os resultados da expedição foram bastante satisfatórios para Tawain. Os técnicos da ilha que participaram da visita técnica puderam sentir de perto a extensão do problema. A partir daí, foram tomadas uma série de medidas, com extrema agilidade.
Tawain se tornou o primeiro país do mundo a banir os voos vindos da província de Wuhan.
As iniciativas de Tawain para conter a propagação do vírus não pararam por aí. O uso inteligente da tecnologia desempenhou um papel fundamental para conter a disseminação do vírus.
Os viajantes internacionais foram orientados a usar um código de barras especial com leitura por celular para reportar, na alfândega de Taiwan, o prontuário médico de doenças e internações.
Com isso, ficou mais fácil identificar quais seriam as pessoas com maior probabilidade de infecção pelo coronavírus, já que comorbidades contribuem para o índice de infecções e óbitos.
Mesmo viajantes com histórico de saúde impecável, mas que tinham estado recentemente na China ou em outros países com graves surtos da doença, como o Irã, ficaram de quarentena.
Campanhas de conscientização alertaram as famílias a medir a temperatura das crianças e adolescentes e evitar que eles fossem à escola caso estivessem com febre ou dificuldade para respirar, um dos principais sintomas do coronavírus.
Os adultos foram orientados a permanecer em casa caso apresentassem sinais de gripe, que costumam ser parecidos com os do novo vírus. Funcionou. Agora, o mundo quer aproveitar os ensinamentos de Taiwan, que se tornou uma referência mundial ao combate do coronavírus, para conter a propagação da doença.