Tarifas de Trump reacendem disputas comerciais na América do Norte (Ludovic MARIN /AFP)
Agência de Notícias
Publicado em 5 de março de 2025 às 21h02.
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México ameaça a sobrevivência do T-MEC, acordo de livre comércio entre os três países, negociado pelo próprio republicano há cinco anos. A justificativa da Casa Branca para a medida é a suposta falta de ações dos vizinhos para conter o tráfico de fentanil e a imigração ilegal.
O governo canadense reagiu rapidamente e começou a aplicar tarifas de 25% sobre produtos americanos, atingindo setores como o de bebidas alcoólicas, eletrodomésticos, cereais, motocicletas e cosméticos. O impacto inicial é estimado em 30 bilhões de dólares canadenses (cerca de R$ 110 bilhões).
"Trump está desmantelando acordos comerciais de longa data e comprometendo uma rede produtiva altamente integrada entre Canadá, Estados Unidos e México", afirmou Tony Stillo, diretor da Oxford Economics.
O T-MEC foi firmado em 2020 como sucessor do TLCAN, acordo de livre comércio vigente desde 1994. Apesar de continuar formalmente ativo, especialistas alertam que as novas tarifas impõem restrições que minam seu funcionamento na prática.
"Tecnicamente, o acordo ainda existe, mas, na realidade, já está morto", afirmou Julian Karaguesian, professor de Economia da Universidade de Carleton e ex-assessor econômico do governo canadense. Ele lembrou que Trump já havia adotado tarifas sobre aço e alumínio durante seu primeiro mandato, usando a justificativa de segurança nacional.
O Canadá também entrou com um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os Estados Unidos, mas uma decisão formal pode levar meses.
A postura de Trump levanta dúvidas sobre a confiabilidade de negociações comerciais com os Estados Unidos. Para os especialistas, o presidente norte-americano utiliza tarifas como ferramenta política e pode mudar de posição caso perceba impactos negativos para sua base eleitoral.
"Trump pode recuar se seus eleitores começarem a sentir os efeitos das tarifas ou se ele puder declarar vitória após negociações", apontou Stillo.
No entanto, Karaguesian acredita que a visão protecionista do republicano é mais profunda: "Trump vê as tarifas como um atalho para reindustrializar os EUA, sem se preocupar com o impacto no comércio global ou até mesmo em empresas americanas".