Cartaz em portão do aeroporto de Cabul indica como as mulheres devem se vestir (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 28 de março de 2022 às 10h09.
O Talibã ordenou que as companhias aéreas no Afeganistão impeçam as mulheres de embarcar, a menos que estejam acompanhadas por um parente do sexo masculino, uma nova restrição às liberdades das afegãs, muito afetadas nos sete meses que o grupo está no poder.
Desde seu retorno ao poder em 15 de agosto de 2021, os talibãs anunciaram várias restrições à liberdade das mulheres, geralmente aplicadas localmente, de acordo com as autoridades regionais do ministério para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício.
O movimento islamita prometeu que apresentaria uma versão mais tolerante do rígido código de comportamento que seu governo impôs em seu primeiro período no poder, de 1996 a 2001.
Mas desde agosto, os talibãs reverteram duas décadas de avanços nos direitos das mulheres afegãs. Elas foram excluídas da maioria dos cargos públicos e do Ensino Médio.
Além disso, elas também são obrigadas a usar roupas de acordo com uma interpretação estrita do Alcorão.
As novas medidas contra o deslocamento das mulheres foram divulgadas poucos dias após o fechamento das escolas do Ensino Médio para meninas - apenas algumas horas após a reabertura pela primeira vez desde a chegada dos islamitas radicais ao poder.
Dois funcionários das companhias aéreas Ariana Afghan e Kam Air afirmaram no domingo à noite que os talibãs ordenaram que não permitam às mulheres que viajem sozinhas, sem a presença de um parente do sexo masculino.
Uma carta enviada por um executivo da Ariana Afghan aos funcionários da companhia aérea após a reunião com os talibãs - a AFP obteve uma cópia da mensagem - confirma que as novas instruções devem ser aplicadas a todos os voos. "Nenhuma mulher pode viajar em um voo local ou internacional sem um parente masculino", afirma a carta.
A decisão foi adotada após uma reunião na quinta-feira entre representantes do Talibã, das duas companhias aéreas e autoridades migratórias do aeroporto, informaram à AFP os dois funcionários, que pediram anonimato.
O ministério afirmou que não divulgou nenhuma diretriz para proibir as viagens de mulheres sozinhas em aviões.
Dois agentes de viagens procurados pela AFP também confirmaram que pararam de emitir passagens para mulheres que viajam sozinhas. "Algumas mulheres que viajavam sem um parente do sexo masculino não conseguiram embarcar em um voo da Kam Air na sexta-feira de Cabul a Islamabad", afirmou um passageiro à AFP.
Os talibãs já haviam proibido as mulheres de viajar sozinhas por estrada entre cidades caso o trajeto supere 72 quilômetros, mas até agora elas tinham permissão para embarcar em voos.
Ainda não está claro se a regra também se aplica a mulheres estrangeiras, mas a imprensa local informou que uma mulher afegã com passaporte americano foi impedida de embarcar em um avião na semana passada.
Esta semana as associações de defesa dos direitos das mulheres no Afeganistão pretendem organizar manifestações, caso as escolas não retomem as aulas.
Os islamistas radicais também parecem ter iniciado uma repressão à imprensa local, que prosperou sob regimes anteriores apoiados pelos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira, na província de Kandahar (sul), os serviços de inteligência talibãs executaram operações em quatro emissoras de rádio que tocam música e prenderam seis jornalistas.
No domingo, o Talibã ordenou a interrupção dos programas da BBC nas emissoras sócias do grupo britânico.