Bo Xilai pretendia reviver em Chongqing o ideal revolucionário mais de 30 anos após a morte de Mao Tse Tung (Feng Li/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2012 às 21h53.
Pequim - A seis meses da renovação da cúpula do Partido Comunista chinês (PCCh), a luta pelo poder no país asiático adquiriu ares de novela após a suspensão de um dos candidatos à liderança da legenda, Bo Xilai, e a prisão de sua esposa como suspeita do assassinato de um empresário britânico.
O último capítulo dessa crise política, considerada pelos analistas como a maior desde o massacre de Praça da Paz Celestial de 1989, foi ao ar ontem à noite depois que, através de um breve comunicado emitido pela agência estatal ''Xinhua'', o comitê central do partido anunciou a suspensão de Bo.
''O camarada Bo Xilai (ex-secretário do PCCh na cidade de Chongqing) está suspenso (do Politburo e do Comitê) por estar envolvido em sérias violações disciplinares'', diz o comunicado.
Minutos depois, a mesma agência informava a detenção de sua esposa, Gu Kailai, e sua empregada doméstica, Zhang Xiaojun, por serem ''altamente suspeitas'' do homicídio de Neil Heywood, um empresário britânico de 41 anos ligado à família e que foi encontrado morto em novembro de 2011 em um hotel de Chongqing.
Como era previsível, a imprensa chinesa despertou nesta quarta-feira dando destaque à suspensão de Bo, um político carismático que tinha grandes esperanças de escalar posições no partido, e alguns editoriais, como o do jornal ''Xin Beijing'', o acusavam de ''ser responsável por grandes prejuízos ao país''.
Mas o cenário do ''caso Bo'' é ainda muito opaco devido à grande quantidade de incógnitas que o cercam.
Entre elas, a de quem mais vai se beneficiar com sua suspensão no Politburo (órgão formado por 24 membros do partido), uma decisão que o impede de concorrer a um dos nove postos que integram o Comitê Permanente que dirige a China, e que será renovado ainda no primeiro semestre.
Segundo fontes próximas à legenda, Bo, que se relaciona com a ala mais esquerdista, despertava suspeitas por seu ''afã de protagonismo'', e sua queda em desgraça poderia derivar em um cisma entre conservadores e progressistas.
Esses últimos estão, aparentemente, do lado do vice-presidente Xi Jinping, fortemente cotado para ser o próximo presidente do país, sucedendo Hu Jintao.
Além disso, enquanto Bo - filho de um famoso aliado de Mao Tsé-tung - não possui apoios sólidos, Xi tem o respaldo do ex-presidente Jiang Zemin desde que ambos coincidiram em Xangai como prefeito e secretário do PCCh.
Hipóteses políticas à parte, a trama deu um giro após a detenção de Gu Kailai, esposa de Bo, como suspeita da morte de Heywood, apesar de a Polícia chinesa ter apontado desde o princípio que a morte do empresário se devia a um ''possível excesso de álcool''.
A prisão de Gu vai de acordo com as declarações supostamente feitas por Wang Lijun, ex-agente anticorrupção de Bo, quando pediu asilo ao consulado dos Estados Unidos, primeiro em Chengdu (cidade próxima a Chongqing) e depois em Pequim, nas quais alegava que Heywood tinha sido envenenado e que discutiu com a esposa de seu chefe por negócios.
No entanto, alguns analistas desconfiam dessa versão, a não ser que Gu estivesse preocupada que o empresário britânico pudesse revelar informações comprometedoras sobre ela e seu marido.
A suposta confissão de Wang Lijun, que pode ser condenado à morte por traição ao revelar segredos do PCCh ''ao inimigo'' (EUA), precipitou a suspensão de Bo no comando de Chongqing.
Desde então, o destino do ex-agente de corrupção é também um enigma, já que enquanto a agência oficial ''Xinhua'' assegura que ele está detido em Pequim, outras fontes apontam que seu paradeiro é desconhecido.
A história se propagou na internet, onde ganhou vários rumores, opiniões e acusações, apesar de as autoridades comunistas terem bloqueado a busca de comentários sobre Bo em redes sociais como o ''Weibo'', similar ao Twitter.
O maior fluxo de informações procede de portais de notícias hospedados fora do país, como o site ''Boxun'', que chega a apontá-lo como responsável por seis assassinatos e vários escândalos de corrupção.
Alguma das suposições apontam que Pequim não gostava dos excessos ''capitalistas'' de seu filho, Bo Guagua, enquanto o pai defendia um retorno à essência do maoísmo.
Na véspera da suspensão do ex-dirigente de Chongqing, o primeiro-ministro Wen Jiabao advertiu que o bloqueio das reformas políticas poderia desembocar em um caos similar ao da Revolução Cultural, um gigantesco expurgo lançado em 1966 por Mao Tsé-tung contra os acusados de seguir a ''via capitalista''.