Negociações: suscitam poucas expectativas para resolver o conflito (Rodi Said/Reuters)
AFP
Publicado em 10 de julho de 2017 às 09h22.
A calma imperava neste domingo (9), no sul da Síria, no primeiro dia de um cessar-fogo acordado por Rússia, Estados Unidos e Jordânia, enquanto novas negociações mediadas pela ONU vão tentar dar fim à guerra, que já dura seis anos.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), os combates em três províncias - Daraa, Quneitra e Suweida - foram interrompidos pelo acordo, que entrou em vigor às 12H00 do horário local (06H00 de Brasília) neste domingo.
Com o cessar-fogo, anunciado na sexta-feira pelo o chefe da diplomacia russa, Sergueï Lavrov, as delegações do regime sírio e a oposição são esperados para uma nova rodada de negociações em Genebra, na Suíça, na próxima segunda-feira.
"Os combates entre rebeldes e forças pró-regime pararam nesta manhã, à exceção de algumas bombas atiradas antes do meio-dia pelas forças do governo contra os rebeldes em Daraa", declarou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane.
Segundo a ONG, o cessar-fogo se manteve até o começo da noite. De Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comemorou no Twitter.
"Parece que o cessar-fogo sírio se mantém. Se salvarão muitas vidas", tuitou.
Violentos confrontos foram travados nas últimas semanas entre as forças pró-governo e grupos rebeldes nessas três províncias.
O regime de Damas tinha decretado, na última segunda-feira (3), um cessar-fogo unilateral de alguns dias no sul do país, enquanto negociavam com os rebeldes em Astana, capital do Cazaquistão.
O governo sírio não reagiu oficialmente ao novo cessar-fogo, e a televisão estatal tampouco falou no assunto em seu boletim informativo no meio do dia.
O jornal Al-Watan, próximo do regime, citou o chefe da comissão parlamentar de relações exteriores da Síria sugerindo que o acordo tinha sido negociado em consulta com Damas.
"Nenhum detalhe do acordo foi apresentado, mas o Estado sírio tem as informações", disse Boutros Marjana ao jornal. "O regime sírio vai dar a última palavra quanto a transformação do sul da Síria numa 'zona de desescalada'. Ele tem uma coordenação com a Rússia sobre esse tema", garantiu.
Na última sexta, antes do anúncio do acordo, uma delegação de grupos rebeldes exprimiu sua oposição a um cessar-fogo em só uma parte do país durante negociações em Astana.
Por meio de um comunicado, as facções se disseram preocupadas com "as reuniões e acordos secretos entre Rússia, Jordânia e Estados Unidos acerca de um acordo para o sul da Síria, isoladamente do norte". Tal acordo "dividiria o país em dois".
Os Estados Unidos, que se afastaram do regime sírio desde que Donald Trump assumiu em janeiro, celebraram o acordo.
"Essas zonas são uma prioridade para os Estados Unidos e nós ficamos encorajados com os progressos realizados ao alcançar esse acordo", declarou, neste sábado, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, o general H.R. McMaster, definindo esse como "um passo importante para a paz".
O papel de Washington no acordo foi interpretado como um sinal de prudência em seus esforços para dar fim ao conflito, que já fez mais de 320.000 mortos desde que foi desencadeado em março de 2011.
Ramzi Ezzedine Ramzi, adjunto do mediador da ONU na Síria, Staffan de Mistura, acredita que o cessar-fogo melhora o clima para as negociações em Genebra.
"Isso continua a gerar uma atmosfera propícia para as negociações, como veremos na segunda-feira", declarou Ramzi.
As novas negociações, contudo, suscitam poucas expectativas quanto a um avanço considerável para resolver o conflito, que é cada vez mais complexo dada a implicação de vários atores regionais e internacionais.