Redator na Exame
Publicado em 1 de outubro de 2024 às 08h40.
Última atualização em 1 de outubro de 2024 às 09h35.
A Suíça e a Itália decidiram redesenhar parte de sua fronteira nos Alpes devido ao derretimento acelerado das geleiras, resultado das mudanças climáticas. A área em questão inclui regiões próximas ao Matterhorn, uma das montanhas mais altas da Europa, e importantes destinos turísticos de esqui.
A delimitação original de grande parte da fronteira entre os dois países foi baseada nas cristas de geleiras ou em áreas de neve eterna. No entanto, o recuo das geleiras ao longo dos anos alterou essas fronteiras naturais, levando os governos de ambos os países a negociar um ajuste, de acordo com a BBC.
Na última sexta-feira, 27, a Suíça aprovou oficialmente o novo acordo, enquanto a Itália ainda aguarda concluir seu processo de aprovação. Esse avanço segue um esboço de acordo elaborado por uma comissão conjunta entre os dois países em maio de 2023.
De acordo com estatísticas divulgadas em setembro de 2023, as geleiras da Suíça perderam 4% de seu volume naquele ano, a segunda maior perda já registrada, ficando atrás apenas de 2022, quando o derretimento atingiu 6%. A Rede de Monitoramento de Geleiras da Suíça (Glamos), responsável pela análise, atribui essas perdas recordes aos verões consecutivos de temperaturas muito altas e ao baixo índice de neve no inverno de 2022.
Os pesquisadores alertam que, se as condições climáticas atuais persistirem, o derretimento das geleiras poderá acelerar ainda mais. Geleiras maiores, como a Aletsch — que não está localizada na fronteira —, correm o risco de desaparecer dentro de uma geração, segundo especialistas.
O novo traçado das fronteiras foi desenhado levando em consideração os interesses econômicos de ambas as nações. A definição exata desses limites facilitará a atribuição de responsabilidades pela manutenção de áreas naturais específicas.
As regiões que sofrerão ajustes na fronteira incluem Plateau Rosa, o refúgio Carrel e Gobba di Rollin, todas próximas ao Matterhorn e a destinos populares de esqui, como Zermatt. Após a aprovação formal do acordo por ambos os países, os novos limites territoriais serão implementados e o tratado será publicado.
A Suíça informou que o processo de aprovação já está em andamento na Itália.
Além dos impactos ambientais, o derretimento rápido das geleiras tem revelado descobertas arqueológicas e históricas. Em julho de 2023, restos humanos encontrados perto do Matterhorn foram identificados como pertencentes a um alpinista alemão desaparecido desde 1986. Equipamentos de escalada emergiram do gelo quando alpinistas cruzavam a geleira Theodul, acima de Zermatt.
Outras descobertas incluem os destroços de um avião que caiu em 1968, revelados pelo derretimento da geleira Aletsch em 2022, e o corpo de Jonathan Conville, alpinista britânico desaparecido, encontrado em 2014. Essas descobertas são exemplos das mudanças drásticas que o derretimento das geleiras está provocando na paisagem alpina.