Panamá: de acordo com documentos em Berna, propina havia sido entregue no Panamá pela Odebrecht com a promessa de que a construtora fosse beneficiada em licitações públicas (Carlos Jasso/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 22h40.
Genebra - A Suíça congelou contas em nome dos filhos do ex-presidente do Panamá, sob a acusação de que os recursos seriam fruto de pagamentos de subornos por parte da Odebrecht.
De acordo com fontes do Ministério Público do Panamá, um total de US$ 22 milhões foram bloqueados pelos suíços.
Luis Enrique e Ricardo Alberto Martinelli são filhos de Ricardo Martinelli Berrocal, presidente do Panamá entre 2009 e 2014 e suspeitos de terem recebido milhões para garantir contratos para a Odebrecht. Procurado, o MP suíço não se pronunciou até o momento.
Mas, de acordo com documentos em Berna, propina havia sido entregue no Panamá pela Odebrecht com a promessa de que a construtora fosse beneficiada em licitações públicas.
A reportagem apurou que, no mesmo período em que a propina foi paga, dez licitações públicas foram vencidas pela Odebrecht no país centro-americano, num valor de mais de quase US$ 4 bilhões.
Nelas estão incluídas a Linha 1 do metrô, projeto de água potável e estradas.
Os documentos revelam que, entre 16 de dezembro de 2009 e 27 de agosto de 2012, "um total de pelo menos 32,8 milhões de francos suíços (R$ 104 milhões)" foram pagos a um "ex-membro de alto escalão do governo no Panamá". As datas coincidem com o governo de Martinelli, que começou em 1o de julho de 2009 e terminou em 2014.
As planilhas obtidas pelos suíços ainda indicam que um total de oito pagamentos saíram de contas secretas na Suíça para alimentar a corrupção entre o membro de alto escalão do governo de Martinelli.
No Panamá, o atual governo já anunciou que a Odebrecht está proibida de participar de licitações. A Odebrecht é hoje a maior empresa estrangeira com contratos no Panamá, avaliados em mais de US$ 8,5 bilhões.
Os pagamentos e o envolvimento da Odebrecht no Panamá coincidem com uma aproximação entre os governos do Brasil e do Panamá, a partir do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e fui justamente neste período que a Odebrecht passou a ganhar praticamente todos os contratos que disputou no país centro-americano.
Em janeiro de 2015, a Justiça do Panamá abriu investigações contra Martinelli, sob a suspeita de ter recebido propinas entre 2009 e 2014.
O ex-presidente nega qualquer envolvimento e afirma que o processo é uma "perseguição política orquestrada pelo atual governo".