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Somalis lotam maior campo de refugiados do mundo

Crise alimentar e confronto armado fez milhares de pessoas cruzarem a fronteira com o Quênia em direção ao campo de Dadaab

O Campo de refugiados de Dadaab, no Quênia: mais de 400 mil pessoas estão no local (Oli Scarff/Getty Images)

O Campo de refugiados de Dadaab, no Quênia: mais de 400 mil pessoas estão no local (Oli Scarff/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2011 às 17h36.

Dadaab, Quênia - A crise humanitária provocada pela seca na região do Chifre da África e pelo conflito da Somália está causando a superlotação do campo de refugiados queniano de Dadaab, o maior do mundo, que tem recebido um fluxo incessante de somalis fugidos da crise de fome, à espera de mais ajuda internacional.

Dadaab (leste do Quênia) está com cerca de 400 mil refugiados, número que supera amplamente os 90 mil planejados quando, em 1991, foram criados os acampamentos de Hagadera, Ifo e Dagahaley, a apenas 100 quilômetros da fronteira com a Somália, que nas últimas semanas passaram a receber um fluxo constante de 1,3 mil refugiados novos ao dia.

Os refugiados somalis que passam dias - e até semanas - caminhando em direção a Dadaab chegam com a esperança de encontrar abrigo e sustento, mas podem demorar ainda vários dias para receber sua primeira porção de alimentos.

"Há casos de crianças que já estão nos acampamentos que passam de desnutrição moderada a aguda porque não recebem ajuda a tempo", alertou a responsável de comunicação da ONG internacional Médicos Sem Fronteiras em Dadaab, Serene Assir.

Há inclusive aqueles que não sabem o que verão no acampamento, como Yaqub Abdi, que caminhou durante oito dias para chegar a Dadaab, pois ele acredita que sua esposa e seus oito filhos tenham ido para lá, embora não tenha notícias deles há tempos.

"Na Somália, não choveu nos últimos anos e tive de ir porque não tinha com o que me alimentar", ressaltou Abdi, vítima da pior seca dos últimos 60 anos - segundo a ONU - no Chifre da África, que afeta cerca de 11 milhões de pessoas nessa região.

Com panorama semelhante, o responsável do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) no Quênia, Javier López-Cifuentes, afirma que as contribuições não econômicas também são bem-vindas, como doação de lonas (para armar barracas).

"Atualmente, necessitamos de 24 mil tendas, que custam US$ 406 cada, e já nos prometeram US$ 12 mil", ressaltou López-Cifuentes.

Ao expressar sua opinião sobre o assunto, a secretária de Estado espanhola para Cooperação Internacional, Soraya Rodríguez, indicou nesta sexta-feira que não basta promover diversas ajudas, mas deve haver um acompanhamento para assegurar o cumprimento das promessas.

Durante uma visita de cinco horas nesta sexta-feira aos campos de Hagadera e Ifo, Rodríguez fez também um apelo à comunidade internacional para salvar o Chifre da África e defendeu agir "frente à especulação nos mercados agrários".

"É inaceitável que hoje a comunidade internacional tenha de comprar alimentos a um preço exagerado por razões especulativas que multiplicam seu preço de mercado. A alta do preço representa a perda de vidas humanas", acrescentou.

O Quênia, que possui em Dadaab a terceira maior concentração populacional do país (depois da capital, Nairóbi, e da cidade portuária de Mombasa), manteve uma longa disputa com o Acnur sobre a abertura da ampliação do campo de Ifo, o chamado Ifo 2.

Embora na semana passada o primeiro-ministro queniano, Raila Odinga, tenha anunciado sua abertura nos próximos dez dias, o campo, com capacidade para 80 mil pessoas, ainda permanece fechado.

Segundo o Acnur, outro campo está sendo planejado, com capacidade para 100 mil refugiados, que lotaria logo após abrir as portas, mas a agência da ONU não conta ainda com o aval do Executivo queniano.

No entanto, López-Cifuentes reconheceu o trabalho do Quênia, o país mais estável do Chifre da África, que permitiu o alojamento de 450 mil refugiados de qualquer procedência em seu território.

Fontes do Acnur informam que refugiados estariam ameaçados por eventuais ataques de hienas e leões nos arredores dos acampamentos. Mas isso, segundo elas, é o menor dos problemas diante da atual situação humanitária.

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