Rebeldes do grupo islamita Ansar Dine são vistos em Kidal, no Mali: Kidal era um reduto do Ansar Dine (Defensores do Islã) (Romaric Ollo Hien/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2013 às 11h48.
Timbuktu - O exército francês estabeleceu posição na madrugada desta quarta-feira em Kidal, a terceira maior cidade do norte de Mali, depois que recuperaram, em conjunto com o exército local, as cidades de Gao e Timbuktu.
"Elementos franceses foram estabelecidos esta noite em Kidal", a 1.500 km de Bamako, e sua região, no extremo nordeste de Mali, perto da fronteira com a Argélia, indicou em Paris o porta-voz do Estado-Maior francês, o coronel Thierry Burkhard.
Ele confirmou a aterrissagem em Kidal de um avião francês.
"Um avião francês pousou na pista do aeroporto de Kidal. Os soldados estabeleceram posição no campo de aviação", afirmou uma fonte do governo local, cujo testemunho foi confirmado por uma fonte da segurança da região.
A chegada dos soldados franceses a Kidal acontece depois da reconquista, nas últimas 48 horas e sem real resistência, das duas maiores cidades do norte do país, Gao e Timbuktu, tomadas pelos grupos armados islamitas que nos últimos nove meses intensificaram os ataques.
Kidal era um reduto do Ansar Dine (Defensores do Islã), liderado por Iyad Ag Ghaly (ex-rebelde tuaregue), um grupo islamita armado aliado à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (Aqmi).
Mais um grupo dissidente do Ansar Dine, o Movimento Islâmico de Azawad (MIA), afirmara que controlava Kidal ao lado dos rebeldes tuaregues do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad (MNLA). O MIA assegura que rejeita o terrorismo e pede por "uma solução pacífica" para a crise.
"Os franceses encontraram membros do MNLA e também o secretário-geral do MIA, Algabass Ag Intalla, assim como líderes locais", afirmou um membro da administração local.
Segundo um fonte malinense, os principais líderes dos grupos islamitas, entre eles Ag Ghaly e o argelino Abu Zeïd, um dos emir da Aqmi, se refugiaram no maciço de Ifoghas, as montanhas ao norte de Kidal, perto da fronteira argelina.
Em todas as cidades reconquistas, os soldados franceses tomaram o cuidado de sempre aparecer ao lado dos militares malinenses, a quem deixaram a função de patrulhar as ruas.
Mas em Kidal, o MIA e o MNLA expressaram sua hostilidade à presença dos soldados do Mali, por medo de excessos contra as comunidades árabe e tuaregue.
Em Timbuktu, no dia seguinte à entrada dos soldados franceses e malinenses, centenas de pessoas, visivelmente muito pobres, saquearam lojas que, segundo elas, pertencem a árabes, argelinos e mauritanos acusados de terem apoiado os insurgentes islamitas vinculados à Al-Qaeda.
Diante do "risco de abusos" e represálias, o primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayrault pediu "o envio rápido de observadores internacionais" para assegurar "o respeito aos direitos humanos".
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) havia advertido na segunda-feira sobre o "risco elevado de tensões interétnicas" no norte do Mali e solicitado que as autoridades protegessem "todos os malinenses das represálias".
A situação também se complica no plano humanitário em Timbuktu, onde os habitantes se queixam do aumento do preço dos alimentos. O Exército do Mali prossegue com as operações, em busca de minas e armas abandonadas pelos islamitas, mas também por eventuais combatentes que ficaram na cidade.
Os testemunhos sobre a destruição de preciosos manuscritos se multiplicam em Timbuktu, que foi capital intelectual e espiritual do Islã na África entre os séculos XV e XVI.
Alguns manuscritos de Timbuktu datam da era pré-islâmica. O Instituto de Altos Estudos e de Pesquisas Islâmicas Ahmed Baba abriga entre 60.000 e 100.000 manuscritos, segundo o Ministério malinense da Cultura.
A operação em Timbuktu foi realizada dois dias após a retomada de Gao, cidade mais importante do norte do Mali e um dos redutos dos combatentes islamitas, 1.200 km a nordeste de Bamaco.
Por sua vez, o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, afirmou ao jornal Le Parisien que as forças francesas deixarão "rapidamente" o Mali. "Agora, cabe aos países africanos assumir o papel", ressaltou.
Em Bamaco, planejando o pós-guerra, os deputados votaram na terça-feira um planejamento político, prevendo uma negociação com alguns grupos armados no quadro de uma "reconciliação nacional".
E o presidente interino malinense, Dioncounda Traoré, declarou que espera poder realizar eleições antes do dia 31 de julho.
Em Adis Abeba, os países participantes da conferência sobre o Mali se comprometeram a contribuir com 455 milhões de dólares para financiar a força militar africana e a ajuda humanitária.
O chefe de Estado-Maior francês, o almirante Edouard Guillaud, chegou terça-feira à noite em Bamako, onde foi recebido pelo primeiro-ministro, Diango Cissoko.
"As forças armadas malinenses e as forças armadas francesas inverteram o curso das coisas. O restabelecimento da legalidade malinense no norte do Mali começou", declarou durante o encontro.