Policiais do lado de fora da sinagoga após tiroteio, em Pittsburgh, dis 27/10/2018 (John Altdorfer /Reuters)
AFP
Publicado em 27 de outubro de 2018 às 17h17.
Última atualização em 27 de outubro de 2018 às 17h52.
Um homem abriu fogo neste sábado (27), durante cerimônia do shabat na sinagoga Árvore da Vida, na cidade americana de Pittsburgh, deixando onze mortos e seis feridos antes de ser detido, informou o diretor de segurança pública da cidade.
"Houve 11 mortos no tiroteio", disse o diretor de segurança pública, Wendell Hissrich, durante coletiva de imprensa, acrescentando que não há crianças entre os mortos.
"Houve também seis feridos, entre eles quatro policiais", acrescentou.
Autoridades confirmaram que o suspeito, que está sob custódia, é Robert Bowers, cujas ações "representam o pior da humanidade", nas palavras do procurador federal para o distrito oeste da Pensilvânia, Scott Brady.
O FBI (polícia federal americana) está investigando o ataque como crime de ódio e acusações criminais devem ser apresentadas ainda neste sábado.
Diferentes veículos de imprensa já haviam antecipado a identidade do atirador, um morador de Pittsburgh, de 46 anos, autor de publicações on-line repletas de comentários antissemitas.
Ele teria gritado insultos antissemitas durante o ataque à sinagoga Árvore da Vida, onde dezenas de pessoas celebravam o dia santo dos judeus, um crime cometido em um momento em que os Estados Unidos testemunham um forte aumento de incidentes contra esta comunidade.
Após o ataque, o edifício foi isolado e estava cercado de patrulhas, ambulâncias e uma equipe da SWAT, unidade de elite da Polícia.
Uma mulher que estava no local disse à rede CNN que sua filha estava com outras pessoas que correram escadas abaixo e se esconderam no sótão da sinagoga depois de ouvir os disparos.
"Estão a salvo, mas continuaram ouvindo disparos e tudo mais", contou à emissora.
O presidente Donald Trump denunciou um clima de ódio no país, e sua filha, Ivanka, convertida ao judaísmo, condenou o que chamou de ataque "depravado".
"É uma coisa terrível, terrível o que está acontecendo com o ódio no nosso país, francamente, e em todo o mundo", disse Trump a jornalistas antes de partir para uma série de eventos de campanha em Indiana e Illinois.
"Algo precisa ser feito", acrescentou o presidente, que mais tarde disse estar considerando cancelar seus eventos eleitorais por causa do ocorrido.
"Este foi um ato antissemita", afirmou Trump, falando em Indiana, em uma convenção de ruralistas. "Não deve haver tolerância ao antissemitismo", declarou.
No mesmo sentido, o vice-presidente Mike Pence condenou o que considerou "um ataque à liberdade religiosa".
"Não há lugar na América para a violência ou para o antissemitismo. Este mal deve acabar", disse Pence em Las Vegas.
Jonathan Greenblatt, diretor da Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização de combate ao antissemitismo, considerou este "provavelmente o ataque mais letal contra a comunidade judaica da história dos Estados Unidos".
Na sexta-feira, Greenblatt havia publicado um artigo no jornal Washington Post denunciando o aumento do antissemitismo nos campi universitários.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, expressou seu pesar e sua solidariedade com os Estados Unidos, dizendo-se aflito e consternado pelo ataque.
"Todo o povo de Israel chora junto com as famílias dos mortos", disse Netanyahu em mensagem de vídeo. "Estamos juntos à comunidade judaica de Pittsburgh. Estamos com o povo americano diante deste horrível ataque antissemita".
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, denunciou o "horrível ataque antissemita", enquanto sua ministra de Relações Exteriores, Chrystia Freeland, pediu a formação de uma "frente comum contra esse ódio, essa intolerância, o antissemitismo e a violência".
Já a chanceler alemã, Angela Merkel, condenou a "ira cega antissemita".
"Todos nós, em toda a parte, devemos nos levantar com determinação contra o antissemitismo", reagiu Merkel, segundo curta declaração postada no Twitter pelo porta-voz do governo alemão.
Em resposta ao ataque em Pittsburgh, o Departamento de Polícia de Nova York informou que está mobilizando equipes com armas mesadas em centros de culto em toda a cidade, que tem uma forte comunidade judaica.
Este é o mais recente ataque maciço a tiros dos Estados Unidos, onde as armas de fogo são a causa de mais de 30 mil mortes ao ano.
A sinagoga Árvore da Vida fica a 8 km do centro de Pittsburgh, no bairro residencial de Squirrel Hill.
Michael Eisenberg, ex-presidente da sinagoga, disse à CNN que a porta do templo costuma ficar aberta aos sábados, com cerimônias religiosas em curso, e que a Polícia só é enviada em dias santos e em festas religiosas judaicas anuais.
Também afirmou que a segurança foi uma grande preocupação durante seu mandato como presidente da sinagoga e que houve treinamentos sobre ataques a tiros caso "acontecesse algo horrível como isto".
Os crimes de ódio têm aumentado nos Estados Unidos nos últimos anos.
Estes episódios se multiplicaram no ano passado, refletindo um aumento do antissemitismo em todo o país, enquanto os incidentes cresceram 57%, passando de 1.256 para 1.986, segundo a ADL.
Squirrel Hill é historicamente o centro da vida judaica em Pittsburgh e abriga 26% de todas as famílias judias da região, segundo um estudo da Universidade de Brandeis.
Segundo este estudo de 2017, mais de 80% dos moradores do bairro disseram se sentir de alguma forma preocupados ou muito preocupados com o aumento do antissemitismo.
A congregação Árvore da Vida foi fundada há mais de 150 anos e em 2010 se fundiu com a Or L'Simcha.