Joe Biden, presidente dos Estados Unidos (Mandel Ngan/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 10 de julho de 2024 às 18h20.
“Não podemos deixar a aliança ficar para trás”, afirmou, na primeira sessão de trabalhos da cúpula da Otan em Washington, o presidente dos EUA, Joe Biden. Além de ser o anfitrião de um encontro considerado crucial para os rumos da guerra da Ucrânia, Biden encara a reunião como uma oportunidade para demonstrar força em outro campo de batalha, o político. Sob pressão para abandonar a disputa à reeleição, o democrata garante que seguirá até o fim, ao mesmo tempo que tenta evitar novos tropeços e deslizes em público.
Na noite de terça-feira, durante uma cerimônia em homenagem aos 75 anos da Otan, Biden leu cautelosamente um discurso projetado no teleprompter, no qual confirmou o envio de sistemas de defesa aérea para a Ucrânia e reiterou suas críticas à Rússia. Nesta quarta, na primeira sessão de trabalhos, fez uma curta introdução antes da imprensa ser convidada a saír da sala onde estão reunidos líderes e representantes dos 32 países.
— Nós seremos capazes de produzir mais equipamentos de defesa, de forma mais rápida. E talvez precisemos deles — disse o presidente. — Todos os membros da Otan estão comprometidos em fazer a sua parte para manter a aliança forte.
O democrata usará o encontro em Washington para reforçar o apoio da aliança à Ucrânia, dois anos e meio depois do início da invasão russa, e no momento em que as forças de Moscou estão realizando pequenos avanços no Leste, fortalecendo posições de defesa e intensificando os ataques aéreos.
Na segunda-feira, 43 pessoas morreram em uma série de bombardeios ao redor do país, incluindo contra um hospital em Kiev. No dia seguinte, os EUA confirmaram o envio de baterias do sistema de defesa Patriot, e nesta quarta-feira, que caças F-16, um desejo antigo dos ucranianos, estão a caminho do país, e devem estar operacionais nas próximas semanas. O encontro deverá marcar ainda uma posição forte de apoio à adesão ucraniana à Otan, um processo “irreversível”, como declarou o secretário de Estado, Antony Blinken.
— Na minha opinião, pelo menos, o sucesso é uma Ucrânia forte e independente, cada vez mais integrada às instituições atlânticas como a União Europeia, como a Otan, e que seja capaz de se manter de pé, militarmente, economicamente, democraticamente — afirmou Blinken, durante um evento paralelo à cúpula, em Washington.
Apesar do forte peso geopolítico da reunião, celebrada no mesmo local onde, há 75 anos, a Otan foi fundada, são as questões internas dos EUA que mais preocupam o presidente americano, hoje em um dos momentos mais difíceis de sua longa vida pública.
"Não vamos vencer em novembro com esse presidente", escreveu Clooney. "Além disso, não ganharemos a Câmara e perderemos o Senado. Essa não é apenas a minha opinião; essa é a opinião de todos os senadores, membros do Congresso e governadores com quem conversei em particular."
O ator não foi a única figura do meio do entretenimento a questionar Biden.
— Quer dizer, estou profundamente preocupado. É especialmente difícil porque os democratas têm uma grande bancada. Quero dizer, muitos pesos pesados — afirmou, em entrevista à ABC, o ator Michael Douglas, que também organizou eventos de arrecadação para Biden. — Essa é uma pergunta tão difícil, mas eu adoro o cara. Você sabe, 50 anos de serviço público... um cara maravilhoso. E esta é uma daquelas eleições cruciais.
Reed Hastings, co-fundador da Netflix e grande doador do Partido Democrata, defendeu que Biden saia da disputa. Abigail Disney, herdeira da Disney, suspendeu todas as doações até que o presidente seja substituído. Barry Diller, billionário que negocia a compra da Paramount Global, foi sucinto ao ser questionado pelo site Ankler se ainda apoia a reeleição do democrata:
— Não.
Em vídeo divulgado pelo site TMZ, o âncora da rede ABC, George Stephanopoulos, respondeu que Biden não tem condições de governar por mais quatro anos, após ser questionado por uma pessoa na rua. Stephanopoulos, que na sexta-feira passada entrevistou Biden, disse posteriormente que não deveria ter tratado do assunto dessa forma, mas a opinião, mesmo que não oficial, tem peso entre os democratas: o hoje âncora atuou em duas campanhas presidenciais — Michael Dukakis, em 1988, e Bill Clinton, em 1992 — e trabalhou na Casa Branca entre 1993 e 1995, no primeiro mandato de Clinton.
Dentro do Partido Democrata, a tentativa de aliados de Biden de apagar os incêndios em torno de seu nome convive com o número cada vez maior de políticos que pedem que reconsidere a reeleição, ou que decida abandonar a disputa o quanto antes.
“Trump é uma ameaça existencial à democracia americana; é nosso dever apresentar o candidato mais forte contra ele. Joe Biden é um patriota, mas já não é o melhor candidato para derrotar Trump. Para o bem do nosso país, peço a Joe Biden que se afaste -- para cumprir a sua promessa de ser uma ponte para uma nova geração de líderes”, escreveu no X, o antigo Twitter, o deputado Pat Ryan.
Ele se juntou a outos sete deputados do partido que pediram publicamente que Biden saia da corrida pela Casa Branca. Sem declarar sua opinião sobre a manutenção ou não de Biden na campanha, o senador Richard Blumenthal disse estar “profundamente preocupado” com as chances de reeleição, e que o partido deveria chegar a uma conclusão sobre a chapa “o quanto antes”. Na véspera, ele havia feito uma contundente defesa de Biden, dizendo que o presidente estava “mostrando ter força para colegas e ao público”.
Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, sugeriu em entrevista que Biden deveria reconsiderar sua decisão de concorrer, e apontou que o relógio está correndo.
— Cabe ao presidente decidir se vai concorrer. Estamos todos encorajando-o a tomar essa decisão. Porque o tempo está acabando — disse Pelosi, em entrevista à ABC, aparentemente ignorando que o presidente reiterou, em mais de uma ocasião, que vai “até o fim”. — Quero que ele faça tudo o que decidir fazer, e é assim que as coisas são. O que quer que ele decida, nós concordamos.
Horas depois, Pelosi disse, em comunicado ao New York Times, que “jamais disse que ele deveria reconsiderar sua decisão” de se candidatar.
A Convenção Democrata, que confirmará o nome de Biden (ou de outro candidato ou candidata) à Presidência, acontece entre 19 e 22 de agosto em Chicago. Biden sabe que, ao conseguir mais tempo como candidato, reduz as chances de ser substituído — por outro lado, aqueles que buscam uma nova candidatura parecem elevar o ritmo das críticas, que, até o momento, não parecem ter movimentado as peças na cúpula do partido.