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Snowden desiste de asilo na Rússia e busca outros países

Em uma carta enviada à Polônia justificando seu pedido de asilo político, Snowden afirma que corre o risco de ser perseguido ou morto pelos Estados Unidos


	Pôster em apoio a Edward Snowden: Áustria, Finlândia, Noruega, Espanha e Itália confirmaram ter recebido um pedido de asilo político e ressaltaram que não cumpria com os critérios oficiais.
 (REUTERS/Bobby Yip)

Pôster em apoio a Edward Snowden: Áustria, Finlândia, Noruega, Espanha e Itália confirmaram ter recebido um pedido de asilo político e ressaltaram que não cumpria com os critérios oficiais. (REUTERS/Bobby Yip)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2013 às 17h40.

Moscou - O analista de inteligência americano Edward Snowden, bloqueado há nove dias em um aeroporto de Moscou, desistiu nesta terça-feira de pedir asilo à Rússia, e espera, agora, a resposta dos demais países aos quais pediu refúgio para evitar ser extraditado aos Estados Unidos.

Snowden, que revelou a existência de um programa secreto em grande escala dos Estados Unidos para espionar as comunicações telefônicas e de internet, solicitou o asilo a outros vinte países, entre eles China, França, Cuba, Equador, Brasil, Bolívia, Espanha, Nicarágua e Venezuela, mas não recebeu até o momento nenhuma resposta positiva.

Em uma carta enviada à Polônia justificando seu pedido de asilo político, Snowden afirma que corre o risco de ser perseguido ou morto pelos Estados Unidos.

"Eu vos escrevo para pedir asilo (...) em razão do risco de ser perseguido pelo governo dos Estados Unidos e seus agentes por ter decidido tonar público as graves violações da Constituição por este governo", escreveu em sua carta ao ministério polonês das Relações Exteriores enviada por fax e divulgada à imprensa.

Citando o julgamento em curso do soldado Bradley Manning, que também vazou documentos secretos americanos, Snowden considera que corre o risco de ter "prisão perpétua" decretada devido às acusações que pesam contra ele.


"Dada as circunstâncias, é improvável que eu beneficie de um julgamento justo ou de um tratamento apropriado antes do julgamento", afirmou, acrescentando que corre risco "de prisão perpétua ou pena de morte".

Em sua declaração postada na segunda-feira no site Wikileaks, a primeira desde a sua saída de Hong Kong, Snowden acusou o presidente Barack Obama de ter ordenado que seu vice-presidente, Joe Biden, pressionasse os líderes dos países aos quais pediu asilo para conseguir sua extradição.

No entanto, a Polônia reagiu negativamente ao pedido, assim como a Espanha. A Índia também negou o asilo e apoiou o programa de espionagem eletrônica dos Estados Unidos revelado por Snowden.

O Brasil, por sua vez, indicou que não irá responder formalmente ao pedido de asilo do americano "encaminhado à embaixada em Moscou".

Áustria, Finlândia, Noruega, Espanha e Itália confirmaram ter recebido um pedido de asilo político e ressaltaram que não cumpria com os critérios oficiais, dando a entender que seria rejeitado.

Já a Alemanha indicou que examinará o pedido.


Segundo a presidência venezuelana, o líder Nicolás Maduro, que estava em Moscou para participar da Cúpula de Países Exportadores de Gás que termina nesta terça-feira, reiterou que a Venezuela não recebeu nenhum pedido de asilo. Caso o receba, avaliará sua concessão, afirmou.

"Este jovem merece ser protegido, ele tem direito à proteção internacional", disse Maduro, para quem as denúncias de Snowden servem para prevenir uma guerra.

A Bolívia, por sua vez, que ainda não recebeu nenhuma solicitação do americano, também está disposta a considerar um pedido de asilo político de Snowden, declarou nesta terça-feira o líder boliviano, Evo Morales.

Na segunda-feira, o ex-assessor da inteligência americana acusou o presidente Obama de "pressionar os líderes" dos países onde busca proteção, em uma declaração publicada no site da organização WikiLeaks, a primeira desde sua saída de Hong Kong, há nove dias.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, anunciou nesta terça-feira que Snowden havia deixado sem efeito sua demanda de asilo, apresentada em seu nome no domingo passado por uma integrante do WikiLeaks, que acompanha o jovem americano desde sua saída de Hong Kong, no dia 23 de junho.


"Quando soube ontem a posição de Putin (o presidente russo) sobre as condições necessárias para ficar na Rússia, desistiu de seu pedido", disse Peskov.

O presidente russo Vladimir Putin afirmou na segunda-feira que Snowden só poderia ficar na Rússia se abandonasse "suas atividades que têm por objetivo prejudicar" os Estados Unidos.

"Está claro que não tem a intenção de parar com suas atividades, então deve escolher o país para onde ir e sair", acrescentou Putin.

Snowden vazou nos últimos três dias novos documentos relacionados à espionagem americana dos países europeus.

Estas novas revelações provocaram uma resposta enérgica de vários países europeus e de instituições da União Europeia.

O presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, afirmou que as revelações de Snowden colocam em evidência "métodos que eram utilizados em outra época pelo KGB", os serviços secretos da União Soviética.

A decisão de Snowden de retirar o pedido de asilo é uma boa notícia para a Rússia, considerou Alexandre Konovalov, especialista do Instituto de Avaliações Estratégica.

Esta decisão aumenta a pressão sobre o Equador, cujo presidente, Rafael Correa, havia dito à AFP que o pedido de asilo na Rússia podia solucionar o caso.

No entanto, "se o senhor Snowden chegar a território equatoriano e o pedido de asilo se mantiver, o tramitaremos e o faremos de forma soberana", sustentou Correa.

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