Guerra na Síria: desde 2011 milhares de sírios já deixaram o país (Rodi Said/Reuters)
AFP
Publicado em 5 de abril de 2018 às 15h08.
Última atualização em 6 de abril de 2018 às 09h22.
Com medo de serem detidos se voltarem para casa, os sírios que fugiram de seu país devastado pela guerra consultam freneticamente uma interminável lista de pessoas procuradas pelo regime, postada em um site ligado à oposição.
"Procurado por: Direção Geral de Informações. Ação solicitada: detenção", é a mensagem que consta para o nome do professor Amr al Azm, que ensina história do Oriente Médio no estado de Ohio, nos Estados Unidos.
Seu nome aparece nesta lista, publicada em março por Zaman Al-Wasl, um site próximo à oposição, e na qual 1,5 milhão de indivíduos procurados pelo regime de Bashar al-Assad aparecem.
"O contrário teria me surpreendido", comenta Azm. Embora ele não tenha retornado à Síria desde 2010,manifestou-se publicamente contra a política de seu governo.
Por se oporem ao regime, centenas de milhares de sírios foram detidos pelos serviços de segurança.
Desde 2011, o país está imerso em um conflito provocado pela repressão de manifestantes que exigiam reformas democráticas.
Milhões de sírios se refugiaram no exterior fugindo dos combates, mas muitos são aqueles que partiram por medo de serem detidos e torturados pelo regime.
Mas descobrir seu nome na lista publicada por Zaman Al Wasl carrega uma mensagem clara: uma visita ao país pode acabar na prisão.
De acordo com o site opositor, que afirma ter obtido suas informações em 2015 de fontes em Damasco, a lista foi consultada mais de dez milhões de vezes, e os exilados sírios a fizeram circular.
Muitos deles já sabiam que eram persona non grata em seu país, mas queriam detalhes: que serviço do Estado procura por eles? Para ser interrogado ou preso?
O banco de dados não especifica as razões pelas quais as pessoas são procuradas. Ninguém sabe, além disso, se foi atualizada.
Mas quando Zeina (um pseudônimo) soube da existência da lista, ela a consultou imediatamente.
"Eu preferi saber", diz esta mulher que deixou a Síria em 2012, após ter sido presa duas vezes por participar de manifestações.
Sua busca não deu resultado: "Espero que esta lista seja autêntica, por razões egoístas: não estou nela e quero voltar à Síria", confessa.
Mas ela enfrenta um dilema: voltar e correr o risco de ser presa? Ou não voltar quando talvez nem a estejam procurando?
Refugiado há dois anos na Alemanha, Mohamad Kheder quer voltar para a Síria, mas sabe que terá que esperar.
"Eu não estou tentando me acostumar com a vida aqui, porque vamos voltar para a Síria", diz este homem de 30 anos.
Ele lembra com saudade a euforia que sentiu quando protestou em 2011 contra o regime em sua cidade natal de Bukamal (leste). Seu nome está na lista.
"Eu nem sequer olhei, já sabia o resultado. Meus amigos enviaram screenshots da tela com o meu nome", diz ele.
"É como uma decoração, reforça a minha vontade de voltar, mas não enquanto Assad estiver no poder. Se eu estou na lista de pessoas procuradas por Assad, ele está na minha", afirma ironicamente.
Mesmo pessoas que vivem na Síria, fora das áreas controladas pelo governo, consultam listas semelhantes que circulam pela rede. É o caso de Dilbrin Mohamad, de 37 anos.
Este ex-manifestante de 2011 duvida e prefere não correr nenhum risco, por isso evita voltar aos setores nas mãos do regime.
"Eu sonho em passear por Hamidiye e Salihiyeh", dois bairros históricos de Damasco, diz. Mas a capital, a mais de 700 km da área sob controle curdo, onde ele mora atualmente, parece inacessível.
"As áreas controladas pelo regime são como um outro país, para o qual precisaríamos de um visto, como se fosse a Coreia do Norte e eu morasse na Coreia do Sul", ilustra.