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Síria pode negociar, mas não com terroristas, diz Assad

Em entrevista, Bashar al Assad mostrou sua disposição em negociar, mas alertou que não o fará com organizações terroristas


	Bashar al-Assad: "Há uma grande diferença entre grupos armados e terroristas, por um lado, e oposição, pelo outro"
 (AFP)

Bashar al-Assad: "Há uma grande diferença entre grupos armados e terroristas, por um lado, e oposição, pelo outro" (AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 09h00.

Damasco - O presidente da Síria, Bashar al Assad, afirmou que seu governo está disposto a negociar uma solução política para a guerra que afeta seu país, mas não com organizações terroristas, e que não cogita deixar a Síria sob nenhuma circunstância.

Em entrevista exclusiva à Agência Efe, o líder sírio deixou aberta a via do diálogo, quando se aproxima um momento crítico dentro dos esforços internacionais encaminhados a pôr fim a um conflito bélico que entrará em breve em seu quinto ano e que causou várias centenas de milhares de mortes.

Reforçado no plano militar pela recente ajuda russa, Assad lembrou sua exigência de que, primeiro, é preciso acabar com a rebelião armada e, depois, dialogar "com uma oposição real, nacional e patriótica, que tenha suas raízes na Síria e que só se relacione com os sírios, não com qualquer outro Estado ou regime no mundo".

O presidente sírio cobrou que as potências ocidentais se concentrem em parar "o fluxo de terroristas" que chega a Síria e Iraque, "especialmente através da Turquia", assim como o "volume de dinheiro saudita e catariano" que, segundo ele, financia as atividades dos extremistas de ideologia sunita radical.

Para Assad, a Arábia Saudita, a Turquia e o Catar "são os principais responsáveis pelas atrocidades" cometidas pelo autodenominado Estado Islâmico (EI) e, se a comunidade internacional pressionasse estes três países para que deixassem de apoiar os terroristas, "este conflito terminaria em menos de um ano", afirmou taxativamente na entrevista, a primeira concedida por ele a uma agência internacional de notícias desde que começou o conflito.

O governante sírio dedicou palavras especialmente duras contra o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que, segundo ele, não mudará na "atitude criminosa" que "adota desde o começo da crise por meio do apoio aos terroristas de todas as formas possíveis".

A aspiração de Erdogan, segundo o presidente sírio, é transformar a Turquia no eixo para toda a região da ideologia adotada pelo grupo Irmandade Muçulmana, "e o último bastião de seu sonho é a Síria".

Segundo Assad, a recente derrubada do caça-bombardeiro russo pelo exército turco "foi uma reação insensata", mas que não reflete a forma de pensar de Erdogan, e sim "a realidade seu instinto, seu instinto visceral em relação à participação russa", um país cuja intervenção prejudicou a estratégia turca de domínio.

O presidente sírio criticou também o governo dos Estados Unidos porque "não se atreve a dizer que o Catar, desde o começo, e depois a Arábia Saudita, o tinha enganado" com relação à verdadeira natureza do levante que acontece na Síria.

Além disso, Bashar al Assad denunciou que tanto os Estados Unidos como a França não são "sérios" quando afirmam que querem acabar com os terroristas, porque o presidente Barack Obama falou a princípio em apenas "conter" o EI - e não em destrui-lo -, enquanto o chefe de Estado francês, François Hollande, só começou a buscar a aniquilação do EI depois do massacre ocorrido em outubro em Paris.

"Isto significa que este intenso bombardeio é só para dissipar a ira da opinião pública francesa, e não para lutar contra o terrorismo. Se você quer lutar contra o terrorismo, não espera que ocorram tiroteios para fazê-lo", enfatizou o líder sírio.

Assad estendeu a crítica à União Europeia, à qual reprova, salvo exceções, por não ter uma política independente.

"A pergunta que fazemos, não só durante esta crise, mas antes, durante digamos os últimos dez anos, especialmente depois da Guerra do Iraque, é: continua existindo uma Europa politicamente ou é apenas um satélite da política dos Estados Unidos?", questionou.

Já a Rússia, em sua opinião, não só está buscando a estabilidade na Síria e na região, mas ao atuar militarmente em seu país "está defendendo a Europa diretamente".

Assad negou que o presidente russo, Vladimir Putin, tenha lhe pedido algo em troca de sua decisiva ajuda militar, nem que deixe o poder ou que autorize a construção de uma nova base permanente russa na Síria.

"Quando os russos deram início a sua participação na guerra contra o terrorismo, as conquistas dos exércitos russo e sírio em duas semanas foram muito maiores que as da aliança (dirigida pelos EUA) durante mais de um ano", ressaltou.

A propósito da visita do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, a Moscou, que ocorrerá nos próximos dias, o presidente sírio se mostrou absolutamente convicto da solidez sem fissuras da aliança entre Moscou e Damasco.

Perguntado se não teme algum tipo de negociação entre Rússia e EUA que seja realizada pelas costas de Damasco (em particular, uma troca de concessões entre os casos de Ucrânia e Síria), Assad comentou que "os russos são pragmáticos, mas ao mesmo tempo estão adotando uma política moral baseada em valores e princípios, não apenas em interesses, e o bom de sua posição é que não há conflito ou contradição entre seus valores e seus interesses".

Assad arescentou, ainda, que no caso de uma hipotética negociação, "os russos sabem muito bem que nenhuma solução pode ser aplicada se não for mediante um compromisso entre os sírios".

Texto atualizado às 10h.

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