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Síria e Rússia negam acusações ocidentais sobre ataque químico

Dois dias depois do ataque que deixou 86 mortos, Moscou afirmou que Washington não dispõe de informações para acusar o regime de Bashar al-Assad

Síria: o presidente russo Vladimir Putin considerou "inaceitável" acusar sem provas o regime sírio de responsabilidade (Ammar Abdullah/Reuters)

Síria: o presidente russo Vladimir Putin considerou "inaceitável" acusar sem provas o regime sírio de responsabilidade (Ammar Abdullah/Reuters)

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AFP

Publicado em 6 de abril de 2017 às 16h20.

O regime sírio e seu aliado russo negaram em bloco as acusações dos países ocidentais sobre o suposto ataque químico na Síria, enquanto estes últimos tentavam levar à votação uma resolução de condenação na ONU.

Dois dias depois do ataque que deixou 86 mortos, Moscou afirmou que Washington não dispõe de informação "objetiva, confiável nem realista", enquanto americanos, franceses e britânicos acusam o regime sírio de Bashar al-Assad.

O Conselho de Segurança deve se reunir nesta quinta-feira novamente depois que na véspera uma resolução de condenação foi adiada enquanto os ocidentais negociam com a Rússia.

Aliado inabalável do regime de Damasco desde o início da guerra, Moscou apresentou seu veto na ONU em várias ocasiões para evitar uma condenação contra a Síria.

O presidente russo Vladimir Putin considerou "inaceitável" acusar sem provas o regime sírio de responsabilidade.

Em uma conversa telefônica com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, Putin considerou "inaceitável" fazer "acusações não fundamentadas contra qualquer um antes de uma investigação internacional imparcial e minuciosa", afirma o comunicado divulgado.

Crime monstruoso

De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, "logo depois da tragédia, ninguém podia ter acesso a essa área" em Khan Sheikhun, uma pequena localidade da província rebelde síria de Idlib (noroeste), onde supostamente um ataque químico ocorreu. No entanto, classificou o ataque de "crime monstruoso".

Em Damasco, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem, afirmou que o exército sírio "não usou e nunca vai utilizar" armas químicas contra seu próprio povo, "nem mesmo contra os terroristas", que é como o governo se refere aos rebeldes e jihadistas.

Segundo o ministro, a força aérea síria bombardeou "um depósito de munições pertencente" aos jihadistas "que continha substâncias químicas". Esta explicação é consistente com a versão apresentada pelo exército russo, que desculpou em parte o regime.

Ainda assim, Paris, Londres e Washington faziam pressão para aprovar uma resolução com o objetivo de investigar a tragédia.

"É preciso obter a condenação de armas químicas e investigar para descobrir o que realmente aconteceu, saber quais armas foram usadas e agir para que isso termine", declarou o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault.

Gás sarin

Três dias após os incidentes ocorridos na cidade de Khan Sheikhun, no noroeste da Síria, o caráter químico do ataque parece estar sendo definido, embora as circunstâncias permaneçam indeterminadas e controversas.

Na Turquia, para onde muitos feridos foram levados, os exames e as necropsias realizadas em alguns casos confirmaram a utilização de armas químicas, indicou nesta quinta-feira a agência de notícias Anadolu.

Médicos presentes no local dos incidentes e ONGs internacionais como Médicos Sem Fronteiras (MSF) mencionaram a utilização de "agentes neurotóxicos".

Os elementos recolhidos durante as primeiras análises realizadas com as vítimas indicam que elas forma expostas a gás sarin, um potente agente neurotóxico, declarou o ministério da Saúde turca.

Khan Sheikhun, controlada por rebeldes e jihadistas, parecia uma cidade fantasma quando um correspondente a visitou na quarta-feira. Seus habitantes estavam abalados e havia animais mortos jazendo nas ruas. Uma equipe usando máscaras e luvas recolhia amostras em uma cratera aberta pelo bombardeio aéreo de terça-feira.

"Só posso contar meu sofrimento a Deus (...) Os europeus não podem fazer nada, exceto condenar", disse à AFP Abdelhamid Al Yusef.

Este homem, de 28 anos, perdeu 19 parentes, incluindo sua esposa Dalal e seus dois filhos, Ahmad e Aya. Uma foto dele com os filhos mortos nos braços deu a volta ao mundo nas redes sociais.

Trinta crianças estavam entre os 86 civis mortos em Khan Sheikhun, de acordo com o último balanço do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Outras 160 pessoas ficaram feridas e foram levadas para hospitais da província de Idleb ou do sul da Turquia.

Linha vermelha

"Estes atos de ódio por parte do regime de Assad não podem ser tolerados", declarou o presidente americano, Donald Trump, admitindo que sua "atitude em relação à Síria e a Assad mudou".

Para Trump, "vários limites foram ultrapassados", acrescentou, referindo-se à "linha vermelha" que havia sido traçada por seu antecessor, Barack Obama, em relação aos ataques químicos do regime sírio.

A embaixadora americana ante a ONU, Nikki Haley, foi além. "Quando as Nações Unidas fracassam constantemente em sua tarefa de agir coletivamente, há momentos na vida dos Estados nos quais nos vemos impelidos a agir por conta própria", declarou, sem esclarecer o que ela entende como uma ação unilateral.

Desde o seu início, há seis anos, a guerra síria divide o Ocidente e Moscou, bloqueando qualquer esforço para acabar com o conflito, que já deixou mais de 320.000 mortos.

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