Síria: John Kerry, afirmou que as condições para uma cooperação militar dos EUA com Rússia não estavam reunidas (Ammar Abdullah / Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2016 às 16h10.
As Forças Armadas sírias anunciaram nesta segunda-feira o fim da trégua iniciada há uma semana por Estados Unidos e Rússia, que se acusam mutuamente pelo fracasso desta nova tentativa de colocar fim ao conflito.
Em Nova York, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que as condições para uma cooperação militar dos Estados Unidos com a Rússia, um aspecto chave do acordo de trégua de 12 de setembro, não estavam reunidas.
Em um comunicado divulgado pela agência de notícias síria Sana, Damasco anunciou que a suspensão dos combates, anunciada há uma semana, terminou e acusou os grupos rebeldes "de não respeitar nenhuma das disposições" do acordo.
"O Exército sírio anuncia o fim da suspensão dos combates, que começou às 19h00 (13h00 de Brasília) de 12 de setembro de 2016, em virtude do acordo russo-americano", indicou.
Menos de uma hora após este anúncio, os setores de Aleppo controlados pelos rebeldes foram alvos de bombardeios aéreos e de artilharia, constataram jornalistas da AFP.
Os ataques alcançaram os bairros de Sukari e Amiriya, dois setores orientais da cidade, e também no norte da cidade, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A trégua apoiada pelas duas superpotências, Rússia e Estados Unidos, tinha por objetivo colocar fim a cinco anos de um conflito na Síria no qual mais de 300.000 pessoas morreram e milhões foram obrigadas a abandonar seus lares.
Mas depois de vários dias de uma relativa calma, os combates foram retomados progressivamente na maioria dos fronts, a ponto de um bombardeio da coalizão liderada pelos Estados Unidos ter atacado no fim de semana uma posição do exército sírio.
"Acreditava-se que a trégua deveria ser uma verdadeira oportunidade para terminar com este banho de sangue, mas os grupos terroristas armados descumpriram este acordo", indicou Damasco em um comunicado.
Por sua vez, Kerry, que negociou o acordo com sua contraparte russa, Serguei Lavrov, afirmou que a Rússia falhou em cumprir sua parte da trégua, mas que Washington está disposto a continuar trabalhando nela.
Segundo os termos do acordo, se o cessar-fogo se mantiver, os Estados Unidos devem criar uma célula militar com Moscou para atacar os grupos extremistas que operam na Síria.
Pouco antes, Kerry havia insistido que o cessar-fogo permanecia ativo, "mas que é frágil".
À margem da Assembleia Geral da ONU, disse a jornalistas que autoridades americanas estavam "reunidas neste momento com autoridades russas em Genebra. O processo avança e veremos onde estaremos no fim do dia".
Um dos porta-vozes do departamento de Estado americano, Mark Toner, informou ainda que Estados Unidos, Rússia e outros atores principais no processo de paz na Síria se reunirão nesta terça-feira, em Nova York, para discutir o fim do cessar-fogo.
Condições não foram respeitadas
No entanto, o ministério da Defesa russo havia minado as esperanças de que a trégua se prolongasse para além da noite desta segunda-feira.
O general russo Serguei Rudskoi disse que, "considerando que as condições do cessar-fogo não estão sendo respeitadas pelos rebeldes, acreditamos que não tem sentido para as forças do governo sírio respeitá-la de forma unilateral".
Disse ainda que "o principal ponto" é que os rebeldes não se separaram em terra do grupo extremista Frente Fateh al-Sham.
Nesta segunda-feira a violência aumentou em diferentes partes do país, onde foram registrados violentos combates no leste de Damasco. Em Aleppo uma criança morreu em um bombardeio do exército sírio.
No total, em uma semana de trégua 27 civis, entre eles 9 crianças, morreram, segundo o OSDH.
O pior dia para os civis foi domingo, quando um barril de explosivos explodiu em um ataque do exército sírio, deixando 10 mortos em uma localidade rebelde do sul. Neste mesmo dia uma mulher morreu em um ataque aéreo em Aleppo.
A trégua estava por um fio no domingo depois que a coalizão liderada pelos Estados Unidos bombardeou no sábado uma colina controlada pelo exército sírio em Deir Ezzor (leste), onde as tropas de Damasco combatem o grupo extremista Estado Islâmico.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, acusou nesta segunda-feira Washington de ter cometido "uma agressão flagrante".
Uma conselheira do presidente sírio, Buthaina Shaaban, disse no domingo à AFP que Damasco considera que "este ataque foi deliberado. Tudo era premeditado".