Manifestantes no centro de Ancara: em Istambul, os manifestantes se reuniram durante a tarde na Praça Taksim (Adem Altan/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de junho de 2013 às 13h31.
Istambul - Milhares de pessoas responderam à convocação de dois sindicatos e saíram às ruas nesta quarta-feira em toda a Turquia, no sexto dia consecutivo de protestos que exigem a renúncia do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.
Após uma nova madrugada de violência, a Confederação dos Sindicatos do Setor Público (KESK) e a Confederação Sindical dos Trabalhadores Revolucionários (DISK), dois movimentos de esquerda, anunciaram marchas de protesto e greves nas maiores cidades do país.
Em Istambul, os manifestantes se reuniram durante a tarde na Praça Taksim, coração dos protestos que agitam a Turquia, gritando "Taksim, resiste, os trabalhadores chegam" e "Tayyip, os saqueadores estão aqui!".
O mesmo aconteceu na capital Ancara, onde pelo menos 10 mil manifestantes, alguns com emblemas com a imagem do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, também marcharam em meio a uma nuvem de bandeiras turcas.
Na espera do retorno na quinta-feira à Turquia do chefe de Governo, em visita oficial ao norte da África, os manifestantes continuam determinados a mostrar sua força, apesar do pedido de desculpas apresentado pelo vice-primeiro-ministro Bülent Arinç às vítimas da violência policial dos último dias.
"Antes, as pessoas temiam expressar seus medos publicamente. Mesmo os tweets eram um problema. Agora, eles não têm mais medo", declarou, em meio à multidão de manifestantes, Tansu Tahincioglu, que dirige uma empresa na internet.
"Erdogan deve se desculpar, renunciar e ser levado à justiça para responder pelo excesso de força (policial) e por tudo o que fez com a imprensa", acrescentou.
Após uma reunião com Arinç em Ancara, os representantes dos manifestantes turcos exigiram do governo que o governo demita os chefes de polícia de várias cidades do país, incluindo Istambul e Ancara, pelo uso excessivo da força.
Por meio de um porta-voz, o arquiteto Eyüp Muncu, eles também exigiram a libertação das pessoas detidas, o abandono do projeto de destruição da praça Taksim e do parque Gesi, o fim do uso de gás lacrimogêneo e respeito à liberdade de expressão no país.
Como nas noites anteriores, confrontos foram registrados em Istambul e Ancara durante a madrugada. As forças de segurança utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar centenas de manifestantes que tentavam se aproximar do gabinete do primeiro-ministro.
Nas duas cidades, os manifestantes permaneceram distantes da polícia, respeitando os apelos feitos nas redes sociais. Apenas os mais exaltados entraram em confrontos com as forças oficiais.
"Os manifestante da noite foram organizados por grupos radicais. Nós preferimos manter distancia", explicou à AFP Gamze Güven, uma dentista de Ancara, "foram os mais jovens que atacaram a polícia".
Também ocorreram distúrbios na cidade de Hatay, no sudeste do país e próxima à fronteira com a Síria, onde na segunda-feira um jovem militante de 22 anos morreu no hospital após se ferir nos protestos.
Durante a manhã, ao menos 25 pessoas foram detidas em Izmir (oeste) por terem difundido no Twitter "informações mentirosas e difamatórias", segundo a agência de notícias Anatolia.
Ali Engin, membro local do principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), declarou que os suspeitos foram presos por terem "convocado as pessoas a protestar".
No domingo, Erdogan criticou publicamente o Twitter e as redes sociais, chamando-os de "criadores de problemas"
Afastando-se da postura firme de Erdogan, Arinç adotou um discurso mais conciliador.
Ao deixar uma reunião com o presidente Abdullah Gül na terça-feira, ele pediu desculpas aos civis feridos, à exceção daqueles "que causaram danos nas ruas e tentaram comprometer a liberdade das pessoas".
Os manifestantes acusam Erdogan de uma guinada autoritária e de querer "islamizar" a Turquia laica.
"Não temos o direito ou o luxo de ignorar o povo, as democracias não podem existir sem oposição", ressaltou Arinç, antes de afirmar que o governo aprendeu com os eventos.
Além das duas mortes confirmadas no domingo e na segunda-feira, a violência deixou mais de 1.500 feridos em Istambul e ao menos 700 em Ancara, segundo as organizações de defesa dos direitos humanos e os sindicatos médicos.