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Serra Leoa prepara confinamento da população contra ebola

Medida coincide com uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para examinar uma proposta de resolução americana de resposta global ao vírus

Membro da Médicos sem Fronteiras alimenta uma criança com o ebola em Kailahun, leste de Serra Leoa (Carl de Souza/AFP)

Membro da Médicos sem Fronteiras alimenta uma criança com o ebola em Kailahun, leste de Serra Leoa (Carl de Souza/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2014 às 16h17.

Freetown - Serra Leoa se preparava nesta quinta-feira para confinar durante três dias toda a população e tentar conter a propagação do vírus ebola, que já matou mais de 500 pessoas neste país do oeste da África.

A medida coincide com uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para examinar uma proposta de resolução americana de resposta global ao vírus.

Serra Leoa é um dos três países, ao lado de Libéria e Guiné, mais afetados pela epidemia, que provocou mais de 2.600 mortes em 2014.

Os seis milhões de habitantes do país terão que permanecer, a partir de meia-noite (21h00 de Brasília), em casa, enquanto 30.000 voluntários comparecerão às residências para detectar possíveis cadáveres ou pessoas infectadas pelo vírus.

"Chova ou faça sol, o exercício de confinamento vai acontecer. Durante três dias, temos que terminar o trabalho", disse Steven Gaojia, diretor do centro de operações de emergência do governo.

A campanha, que tem o nome "Ose to Ose ebola Tok" ("Conversa sobre o ebola casa por casa", na língua krio), contará com 7.000 equipes, que pretendem visitar 1,5 milhão de casas.

Os voluntários distribuirão sabão e explicarão as medidas de prevenção aos moradores. Também pretendem estimular os vizinhos a criar grupos de "vigilância".

O governo afirma que as equipes não entrarão diretamente nas casas, mas chamarão os serviços de emergência caso sejam encontrados corpos ou pessoas infectadas.

Também foram instaladas leitos adicionais em escolas e hospitais de todo o país.

O ministério da Saúde colocou 14 equipes médicas de prontidão para realizar exames com possíveis vítimas do vírus.

A polícia e o exército devem garantir o cumprimento do confinamento, que tem exceções: os trabalhadores do setor de saúde e a imprensa.

A campanha será lançada oficialmente pelo presidente Ernest Koroma em um discurso na televisão, que depois será repetido pelos líderes tribais em todo o país.

Medidas polêmicas

Para muitos especialistas, no entanto, as medidas coercitivas são difíceis de aplicar e poderiam ter consequências negativas.

"O país não tem capacidade para visitar cada casa em apenas três dias", disse à AFP Jean-Hervé Bradol, ex-diretor da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) e que trabalhou muitos anos na África.

"A campanha pode levar muitas pessoas a ocultar possíveis pessoas infectadas e o vírus se espalharia ainda mais", disse, além de criar desconfiança entre a população e os funcionários do setor de saúde.

Mas os líderes comunitários e a população da capital Freetown apoiam a medida.

"Vamos rezar para que a operação dê certo. Apoiamos o governo", disse Samuel Johnson, de 60 anos, que perdeu uma filha para a doença.

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta quarta-feira em Nova York para buscar uma resposta global, que tem custo avaliado em um bilhão de dólares.

O presidente americano, Barack Obama, prometeu enviar 3.000 soldados ao oeste da África para conter a epidemia, que pode ter consequências econômicas "catastróficas", segundo o Banco Mundial.

A epidemia de ebola na África ocidental, a mais grave desde que o vírus foi identificado em 1976, matou 2.630 pessoas até o momento, a maioria na Libéria (1.459), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O ebola é um vírus transmitido por contato direto com o sangue, os fluidos corporais ou os tecidos de pessoas ou de animais infectados, e que tem uma taxa reduzida de sobrevivência.

Até o momento não existe nenhuma vacina ou tratamento específico, mas as pesquisas foram aceleradas nos últimos meses.

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