Rex Tillerson: sua estreita relação com o presidente russo Vladimir Putin também pode ser problemática (Joshua Roberts/Reuters)
AFP
Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 12h05.
Última atualização em 30 de março de 2017 às 10h50.
Washington - Rex Tillerson, CEO da ExxonMobil e designado por Donald Trump para chefiar o departamento de Estado, comparece nesta quarta-feira na audiência de confirmação no Senado, em meio a preocupações sobre seus laços com a Rússia.
No segundo dia de audiências ante senadores democratas e republicanos para avaliar as credenciais do gabinete escolhido por Trump, Tillerson deverá desfazer quaisquer dúvidas sobre possíveis conflitos de interesse que teria um futuro chefe da diplomacia americana com toda uma carreira formada na indústria petroleira.
Elaine Chao, indicada pelo presidente eleito para a pasta do Transporte e esposa do líder republicano do Senado Mitch McConnell, também tem programada uma audiência nesta quarta.
Simultaneamente, a Comissão de Assuntos Judiciais continuará na segunda parte da sessão de confirmação de Jeff Sessions para o cargo de secretário da Justiça.
Tillerson, de 64 anos, trabalhou toda sua vida na Exxon, onde por mais de 40 anos fez negócios na Arábia Saudita, Iêmen, Chade, Iraque e Rússia, por vezes contrários aos interesses dos Estados Unidos.
Em um discurso em fevereiro passado, na Universidade do Texas, o empresário disse que ante os vários governos estrangeiros insistia em afirmar que não representava os Estados Unidos: "Não estou aqui para representar os interesses do governo americano. Não estou aqui para defendê-los nem criticá-los. Sou um homem de negócios", afirmou ante os estudantes.
Agora Tillerson deverá convencer os congressistas do contrário.
Além disso, sua estreita relação com o presidente russo Vladimir Putin pode resultar problemática, depois que as agências americanas de inteligência concluíram que Moscou organizou uma campanha de ingerência nas eleições de 8 de novembro.
O calendário de audiências acertado pelos republicanos não agradou os democratas, que consideraram o processo rápido demais.
Além disso, o Escritório de Ética do governo expressou preocupação porque alguns candidatos têm "potenciais problemas éticos não resolvidos", e outros sequer entregaram sua declaração de imposto de renda, segundo carta ao chefe dos democrata no Senado, Chuck Schumer.
A audiência de Tillerson acontece um dia depois de uma jornada agitada no Senado pela audiência de Sessions, uma sessão maratônica de mais de dez horas em que o senador de 70 anos se mostrou radical contra a imigração clandestina e se defendeu de acusações de racismo.
A audiência de Sessions foi interrompida por manifestantes vestidos com capas e capuzes brancos, em alusão à organização supremacista Klu Klux Klan, dramatizando as preocupações sobre seu histórico no campo dos direitos civis.
Os manifestantes, vários deles do grupo de defesa dos direitos humanos Code Pink, agitavam cartazes que diziam: "Acabe com o racismo, pare Sessions" e "Acabe com o ódio, pare Sessions".
O escolhido de Donald Trump para assumir o posto de maior autoridade em aplicação da lei nos Estados Unidos é acusado de ter feito comentários racistas sobre afro-americanos e direitos civis no início de sua vida profissional.
Ao contrário de Sessions, o general reformado John Kelly, nomeado para ocupar o cargo de secretário de Segurança Doméstica, teve uma recepção bem mais amistosa durante os vários dias de audiência privada com membros republicanos e democratas do Comitê de Segurança Doméstica.
Enquanto isso, Trump não demonstrava qualquer sinal de preocupação com a recepção que seus nomeados terão no Capitólio.
"A confirmação está transcorrendo bem", disse o presidente eleito a jornalistas na segunda-feira, em uma aparição surpresa no lobby da Torre Trump, QG de sua companhia em Nova York.
"Eu acho que todos serão aprovados", antecipou.
Os democratas, no entanto, prometem não deixar o Congresso simplesmente passar recibo para as escolhas de Trump sem lutar.
Muitos dos indicados de Trump trazem à tona questões de conflitos de interesse, explicou Schumer.
"Muitos deles têm uma origem de enorme riqueza. Muitos têm grandes grande quantidade de ações e muito poucos têm experiência na política. Portanto, eles nunca foram testados em algo semelhante a um posto de gabinete", disse o democrata de Nova York.
"O que costumava ser uma prática padrão para a grande maioria dos nomeados - a conclusão de uma revisão ética preliminar antes de sua indicação - foi deixado de lado para a grande maioria dos indicados do presidente eleito Trump", resumiu Schumer.