Papa Francisco: pontífice quer que os sacerdotes se misturem com as pessoas, a sair da igreja e buscar o que ele chama de "Igreja da periferia"; a exercer o papel de pastores dos mais pobres (Stefano Rellandini/Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2013 às 15h07.
Roma - O papa Francisco completa nesta sexta-feira seis meses de pontificado, marcados pelo afã de reformar e abrir a Igreja e por dar mostras de singeleza e proximidade ao povo, o que já garantiu a ele grande simpatia popular, como demonstram os milhares de peregrinos que vão à praça de São Pedro.
Esse carisma de Francisco já se traduz em números, pois, segundo a Prefeitura do Vaticano, nas 14 primeiras audiências de Bento XVI (2005-2013) foram contabilizados 150 mil fiéis, enquanto nas do papa Francisco, esse número já chegou a 800 mil que abarrotaram a Praça de São Pedro em todas as cerimônias.
Jesuíta com coração franciscano, o pontífice de 76 anos, logo depois de se apresentar aos fiéis, mostrou ao mundo querer ser um papa "a serviço dos demais", que sonha com uma igreja "pobre e para os pobres", aberta ao mundo, intenção exemplificada no pedido para que os religiosos abram os conventos vazios para alojar refugiados.
A primeira coisa que o papa fez foi se desfazer dos luxos. Ele calça sapatos negros e não os vermelhos papais, vive na residência Santa Marta, dependência do Vaticano, junto com bispos e sacerdotes, e não no Palácio Apostólico.
Mas a singeleza não prende o papa argentino na hora de fazer reformas. A mais esperada aconteceu há poucos dias, quando nomeou como secretário de Estado o até então núncio na Venezuela, o italiano Pietro Parolin, de 58 anos, em substituição ao cardeal Tarcisio Bertone.
Essa era uma das nomeações mais esperadas do início do pontificado, depois que respingaram em Bertone, de 78 anos, acusações de má gestão e abuso de poder em meio ao escândalo do vazamento de informações do Vaticano.
Outra decisão importante do papa foi a nomeação de uma comissão de investigação para reformar o banco do Vaticano, Instituto para as Obras de Religião (IOR), envolvido há anos em vários escândalos financeiros.
O pontífice criou esta comissão, formada por cinco membros com carta branca para investigar tudo o que ocorra na sede do IOR e constituiu outro grupo de estudo, composto por oito membros, para reformar a estrutura econômica administrativa da Santa Sé.
E publicou um "motu proprio" (decisão pessoal do papa) que dá continuidade a de Bento XVI, com medidas para a prevenção e luta contra a lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo e a proliferação de armas de destruição em massa.
Francisco constituiu uma comissão para reformar a Cúria, outra das decisões do pontificado especialmente aguardadas, e que começará a trabalhar em outubro, embora seus cinco membros já estejam estudando a questão.
Ele se reuniu recentemente com todos os chefes de dicastérios da cúria; com o presidente do governo do pequeno estado do Vaticano, o purpurado Giuseppe Bertello, e com o vigário de Roma, cardeal Agostino Vallini, para escutar seu parecer sobre o Governo da Igreja.
Nos últimos meses o papa se reuniu pessoalmente com todos os chefes de dicastérios para escutar as considerações e os conselhos dos mais altos responsáveis da cúria romana e dos principais colaborares do papa, disse a sala de imprensa do Vaticano.
Estes hábitos do papa são recebidos com simpatia na Itália.
Entre eles também estão os passeios pela Praça de São Pedro, quando cumprimenta e beija a crianças e doentes, as ligações para pessoas necessitadas, os pedidos para o fim da guerra na Síria, como a realização de uma vigília pela causa no último dia 7.
Francisco quer que os sacerdotes façam o mesmo e os estimula a misturarem-se com as pessoas, a sair da igreja e buscar o que ele chama de "Igreja da periferia"; a exercer o papel de pastores dos mais pobres.
O papa mantém a equipe de segurança alerta. Ele mesmo revelou que de vez em quando no Vaticano é recriminado por ser "indisciplinado".
Mas nestes seis meses de pontificado do papa "indisciplinado" a Igreja passou de um lugar "assediado por milhares de problemas para uma Igreja que se abriu", disse hoje Pietro Parolin. EFE