Petro e Hernández: segundo turno acontece neste domingo, 19, na Colômbia (Juan BARRETO, Yuri CORTEZ/AFP)
Carolina Riveira
Publicado em 17 de junho de 2022 às 06h00.
A Colômbia realiza neste domingo, 19, o segundo turno de suas eleições presidenciais com um cenário imprevisível. O senador de esquerda Gustavo Petro e o ex-prefeito e empresário de direita Rodolfo Hernández aparecem com empate técnico na maioria das últimas pesquisas, e as próximas horas até a votação serão decisivas na disputa pelos últimos votos.
Nas últimas pesquisas principais, os candidatos aparecem, no geral, separados por cerca de dois pontos de diferença, dentro da margem de erro.
Uma das sondagens com vantagem para Hernández é na pesquisa Guarumo y EcoAnalítica (encomendada pelo jornal El Tiempo), em que o empresário tem 48,2% contra 46,5% de Petro, na publicação em 11 de junho.
Já na pesquisa da espanhola GAD3 (encomendada pelo consórcio RCN Radio, Noticias RCN, La Fm e La República), Petro aparece com 48,1%, contra 46,8% de Hernández, na publicação em 10 de junho.
A aposta dos analistas é que grupos que ainda estão indecisos podem decidir a eleição, o que se espera que seja em torno de 5% dos votos. O voto na Colômbia não é obrigatório, mas, diante do empate nas pesquisas, especialistas também dizem não saber precisar a quem um maior comparecimento beneficiaria.
Um desafio no cenário colombiano é que as últimas pesquisas foram feitas há quase uma semana, de modo que falas recentes dos candidatos não tiveram a repercussão medida.
Aos 62 anos e ex-prefeito da capital Bogotá, Petro liderou na votação no primeiro turno, com 40% dos votos. Hernández, que cresceu na reta final antes da votação (ultrapassando a direita tradicional), ficou com 28%.
Hernández, no entanto, herdou boa parte dos votos dos demais candidatos, como o direitista Fico Gutiérrez, que apoiou o empresário logo após o fim do primeiro turno, afirmando que uma vitória de Petro seria um "perigo" para a Colômbia.
Gutiérrez foi o terceiro colocado, com 24% dos votos, ficando por pouco de fora do segundo turno.
Essa é também a primeira eleição desde os anos 2000 sem um representante do grupo do ex-presidente Álvaro Uribe e do atual mandatário, Iván Duque, com posições à direita. A tendência é que esses eleitores apoiem Hernández. Ao mesmo tempo, o grupo de Uribe também teve a imagem arranhada após uma onda de protestos que varreram a Colômbia nos últimos anos, o que deu espaço à esquerda (e a Petro) para crescerem de forma inédita.
Como em outras eleições latino-americanas recentes, o pleito na Colômbia é marcado por ampla desconfiança dos eleitores com os políticos tradicionais. A confiança dos colombianos na democracia também é uma das piores na região.
No segundo turno, tanto Hernández quanto Petro representam promessas de um voto antissistema.
Hernández, que tem 77 anos e ficou milionário atuando no ramo da construção civil, é visto como uma figura peculiar na política colombiana.
Foi prefeito da cidade de Bucaramanga e tem posições de direita radical, já tendo dito publicamente que admirava o ditador alemão Adolf Hitler e dado um soco em um vereador. Ao mesmo tempo, se posicionou com posições liberais nos costumes, como a favor da descriminalização da maconha.
Sem estar vinculado a um partido, ele fez do combate à corrupção seu mantra, além de afirmar que seu governo combaterá a violência e a imigração na Colômbia. O magnata chamou atenção por seu sucesso na internet, virando um fenômeno no TikTok e ganhando apoiadores.
Enquanto Hernández tenta aglutinar o campo conservador, Petro, por sua vez, tentará surfar a onda de rejeição à direita tradicional na Colômbia e o momento favorável à esquerda na América Latina, com pautas como redução da dependência de carvão e combustíveis fósseis, maior tributação aos mais ricos e ampliação dos serviços do Estado.
Se eleito, Petro seria o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.
As propostas do senador — que no passado foi guerrilheiro e hoje moderou parte do discurso — vão em linha com nomes da nova esquerda local, como o presidente do Chile, Gabriel Boric. O grupo de Petro foi o grande vitorioso das eleições legislativas da Colômbia realizadas neste ano, aumentando o número de cadeiras no Congresso. No segundo turno, no entanto, o senador sofre ampla oposição de grupos que rejeitam a esquerda na Colômbia, o que pode impactar seus resultados no domingo.
Em meio a uma das eleições mais disputadas da história recente colombiana, cada voto conta.