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Seguindo exemplo de Harvard, universidades americanas reagem ao cerco de Trump à educação

Instituições de elite contestam os cortes de financiamento e as interferências da Casa Branca, embora republicanos alertem para os riscos de confrontar o presidente em meio à sua cruzada ideológica

Outras instituições, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Princeton e a Universidade de Illinois, também manifestaram apoio a Harvard  (Foto/Wikimedia Commons)

Outras instituições, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Princeton e a Universidade de Illinois, também manifestaram apoio a Harvard (Foto/Wikimedia Commons)

Agência o Globo
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Publicado em 17 de abril de 2025 às 08h58.

Última atualização em 17 de abril de 2025 às 09h00.

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O recente choque entre o governo de Donald Trump e a prestigiada Harvard, primeira universidade americana a se opor abertamente ao cerco federal às instituições de ensino superior, abriu caminho para a formação de um movimento de resistência que começa a ganhar força em outras universidades dos Estados Unidos. Após a firme posição de Harvard contra as pressões e ataques de Trump, outras instituições de elite também passaram a contestar os cortes de financiamento e as interferências da Casa Branca, embora muitos republicanos alertem para os riscos de confrontar o presidente em meio à sua cruzada contra o que chama de "ideologia woke".

Harvard, a mais antiga e mais rica instituição de ensino superior dos EUA, está no olho do furacão desde que se recusou, na segunda-feira, a acatar as exigências de Washington para fazer mudanças radicais em suas práticas de governança, admissão e contratação. A decisão veio após o anúncio do governo sobre uma revisão de quase US$ 9 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões) em contratos e subsídios federais destinados à instituição e suas afiliadas.

"A Universidade não abrirá mão de sua independência ou de seus direitos constitucionais. Nem Harvard nem qualquer outra universidade privada pode permitir ser tomada pelo governo federal", escreveu o reitor de Harvard, Alan Garber, em uma carta endereçada ao governo.

Pouco mais de 12 horas depois, Columbia, centro dos protestos pró-palestinos no ano passado, adotou uma notável mudança de tom. A universidade foi a primeira a sofrer com as medidas de Trump, e acabou concordando com importantes concessões exigidas no mês passado, após um corte de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) em financiamento, devido a alegações de antissemitismo. A universidade ainda tenta um diálogo com o governo para reaver os fundos.

Na terça-feira, entretanto, a presidente em exercício da instituição, Claire Shipman — que disse ter lido a nota redigida pelo presidente de Harvard "com grande interesse" —, declarou em um comunicado enviado a alunos e professores que "rejeitaria qualquer orquestração autoritária do governo que pudesse potencialmente prejudicar nossa instituição e minar reformas úteis". Ela afirmou ainda que qualquer acordo em que autoridades federais ditassem "o que ensinamos, pesquisamos ou quem contratamos" seria inaceitável.

A mensagem mais dura veio após inúmeras críticas por Columbia não adotar uma postura firme em relação aos esforços do governo Trump para definir sua agenda.

Liberdade de expressão

Outras instituições, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Princeton e a Universidade de Illinois, também manifestaram apoio a Harvard após a carta enviada por Garber ao governo. De acordo com a Reuters, elas já entraram com um processo contra o Departamento de Energia para barrar cortes drásticos em bolsas federais de pesquisa.

Segundo a administração de Princeton, "dezenas" de suas bolsas já foram suspensas, colocando em risco cerca de US$ 210 milhões (R$ 1,2 bilhões) em financiamento federal. O presidente da universidade, Christopher Eisgruber, também demonstrou publicamente seu apoio a Harvard por meio de suas redes sociais.

Já na terça-feira, o presidente e a reitora de Stanford, Jonathan Levin e Jenny Martinez, também declararam apoio a Harvard, prometendo resistência a Trump. "As objeções de Harvard à carta que recebeu estão enraizadas na tradição americana de liberdade, uma tradição essencial para as universidades do nosso país e que vale a pena defender", escreveram em carta conjunta.

— O ensino superior estava esperando por uma instituição que enfrentasse o governo Trump — disse ao Wall Street Journal Teresa Valerio Parrot, diretora da empresa de ensino superior TVP Communications. — Precisava ser uma instituição com bons recursos e uma marca forte [como Harvard].

Além de Harvard, Princeton e Columbia, dezenas de outras universidades também estão sob escrutínio do governo. De acordo com o New York Times, entre as que já sofreram algum tipo de corte, estão a Universidade Brown, que pode perder cerca de US$ 510 milhões (R$ 2,9 bilhões) em recursos; a Universidade Cornell, que enfrenta um corte estimado em pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões); e a Northwestern, que corre o risco de perder US$ 790 milhões (R$ 4,6 bilhões). Além delas, a Universidade da Pensilvânia já teve US$ 175 milhões (R$ 1 bilhão) em financiamento federal suspensos, em resposta à sua posição em 2022 sobre a participação de um atleta transgênero em competições esportivas.

Segundo o New York Times, também estão com um alvo nas costas a Universidade George Washington; Universidade Johns Hopkins; Universidade de Nova York; Universidade da Califórnia, Berkeley; Universidade da Califórnia, Los Angeles; Universidade de Minnesota; e Universidade do Sul da Califórnia.

'Ódio e estupidez'

Enquanto as instituições se movimentam contra as medidas do governo, nesta quarta-feira, o presidente americano continuou a atacar Harvard, dizendo que a tradicional instituição é uma "piada" que "ensina ódio e estupidez" e que não "merece mais receber recursos federais". "Harvard não pode mais nem mesmo ser considerada um lugar decente de aprendizado e não deveria estar em nenhuma lista das melhores universidades do mundo", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social.

Republicanos também têm contribuído para aumentar a pressão sobre as universidades, alertando para os riscos de um posicionamento contra Trump.

— Acho que Harvard recebeu um conselho ruim ao adotar uma abordagem diferente — disse a deputada Elise Stefanik, republicana de Nova York, também formada em Harvard, em entrevista ao WSJ na terça-feira. — Mas o que eles não percebem é o nível de seriedade: é gravíssimo.

Stefanik já havia feito uma postagem dura nas redes sociais sobre a decisão de Harvard, dizendo que a instituição "conquistou merecidamente seu lugar como o símbolo da decadência moral e acadêmica do ensino superior".

As medidas do governo fazem parte de uma ofensiva mais ampla contra universidades americanas acusadas por Trump de promoverem o antissemitismo e a "doutrinação ideológica". A pressão aumentou após protestos estudantis em diversos campi do país contra a guerra de Israel em Gaza.

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